Fernando Guedes, o patriarca da família que detêm a maioria do capital da Sogrape, regressou ao antigo Convento de Monchique, no Porto, para apresentar o último Legado, da colheita de 2011, um tinto do Douro criado para render homenagem à herança recebida do pai, um dos fundadores da empresa, e deixar como exemplo às gerações seguintes.
Os lançamentos de um novo Legado são sempre emotivos. No primeiro, de 2008, Fernando Guedes juntou a família e mais algumas pessoas em sua casa, numa cerimónia simbólica que foi vista como a definitiva passagem do testemunho para o filho mais velho, Salvador Guedes, já então presidente da Sogrape. Desta vez, Fernando Guedes escolheu o antigo Convento de Monchique, mesmo junto à margem direita do rio Douro, por ter sido ali, num espaço hoje ocupado por uma galeria de arte, que a Sogrape começou, em 1942.
Entre os dois momentos, muito mudou na família Guedes. Salvador adoeceu com esclerose lateral amiotrófica e a presidência da companhia foi entregue ao filho mais novo, Fernando Guedes. Sempre bem-humorado, o patriarca não conseguiu desta vez esconder a profunda tristeza que sente pela situação do filho mais velho, representado na cerimónia pela filha, Mafalda Guedes, e pela inversão da lei natural da vida.
Aos 83 anos, Fernando Guedes continua a ir diariamente à Sogrape, para tratar das roseiras e ir acompanhando as vendas. Mafalda já trabalha na empresa e o futuro do maior grupo de vinhos português certamente que também vai passar por ela. Nem que fosse só pelo seu valor simbólico, o Legado seria sempre um vinho especial no portefólio da Sogrape. Mas é-o porque não há muitos vinhos tão bons em Portugal. Se, dos três primeiros, o 2008 era o mais impressionante, pela sua frescura mineral, este 2011 é talvez o mais perfeito e complexo dos quatro. Imponente, rico, delicado e profundo, é um tinto cheio de carácter e de vida, um vinho comovente que parece surgido das entranhas da terra xistosa. Excepcional.