Com vinha no coração do terroir de Santar, a Quinta da Alameda destacou-se na década de oitenta pela ambição de produzir “o melhor vinho de Portugal”, tal como, por graça ou sobranceria, fazia questão de mencionar no rótulo o proprietário de então.
Apesar da qualidade e reconhecimento dos vinhos, o certo é que a produção acabou por decair e o projecto esteve como que abandonado até há bem pouco tempo, quando o empresário Luís Abrantes e o enólogo Carlos Lucas adquiriram a propriedade.
Lucas conhecia bem o potencial daquelas vinhas do tempo em que tinha a seu cargo a enologia da Cooperativa de Nelas e não foi difícil recuperar parte das vinhas velhas, das quais saíram os lotes deste Reserva Especial. Daí que seja obrigatória a referência à ambição de recuperar o estilo dos grandes tintos do Dão neste primeiro engarrafamento da nova vida da Quinta da Alameda. E nem só pela presunção do antigo proprietário!
Com castas misturadas, onde se incluem Baga, Moreto e Tinto Cão, o vinho impressiona pela intensidade da cor e de aroma frutado, de arbustos de bosque e sensação de couro. Boca igualmente muito impressiva e densa, taninos muito afirmativos e um final potente e delicado no caminho da elegância, mas sempre denso. Um vinho claramente na tradição dos grandes Dão, que mostra já todas as credenciais de superior qualidade. O tempo o há-de levar no caminho da perfeição.
A par das vinhas velhas, a “burocracia” obrigou a salvaguardar, contra a vontade de Carlos Lucas, uma parcela com a casta Jaen. Pelo resultado do vinho que está prestes a ser lançado (falta acertar o rótulo), igualmente da colheita de 2012 e com o mesmo preço de mercado, o que se pode dizer é simplesmente isto: bem-aventurada burocracia. No ponto em que está, não é difícil dizer que supera o Reserva Especial, mesmo que essa não seja a opinião do enólogo. Profundo, fresco e vegetal, termina com um tanino suave, saboroso e rústico, tal como os grandes clássicos do Dão.