Não embrulha as suas garrafas com rótulos xpto, nem cria narrativas sexy para comercializar os seus vinhos. Mas é um verdadeiro vigneron, um homem que, com a ajuda da mulher, faz todo o trabalho da vinha e da adega, apenas com o empirismo de uma vida ligada ao campo (só recentemente é que começou a ser assessorado pela enóloga Ana Alves).
Pode não saber explicar tecnicamente a química do vinho, mas sabe produzir vinhos impressivos, rústicos, por vezes, mas autênticos, com alma e depositários da tradição e da geografia local.
De toda a região transmontana, Valpaços é talvez o lugar com mais patine no vinho, graças aos seus solos, maioritariamente graníticos, e ao clima, de tipo mediterrânico, muito favorável à boa maturação das uvas. Castas como a Touriga Nacional, Touriga Franca, Bastardo, Tinta Amarela e Tinta Roriz estão muito bem adaptadas e ainda subsistem inúmeras vinhas velhas, algumas centenárias.
Valpaços tem tudo para se tornar num grande spot do vinho em Portugal, desde que os seus produtores se moderem um pouco no teor álcoólico dos vinhos. Castas delicadas como o Bastardo são, em regra, colhidas demasiado tarde. O vinho mais caro de Fernando Faria, o Casal Faria Touriga Nacional Grande Reserva, em particular o 2012, também peca do mesmo mal (tem 15% de álcool). É potente e de grande impacto sensorial, mas está um pouco excessivo.
O caminho deve ser o Casal Faria Reserva 2011, lote de Tinta Amarela, Bastardo e Touriga Franca (14% de álcool). Pisado a pé em lagar de granito, possui um aroma estupendo, povoado de fruta vermelha e de sugestões florais e químicas. Na boca, junta músculo e delizadeza, vigor e suavidade. É um tinto com pouco tempo de barrica, um pouco austero até, mas cheio de frescura e pureza. O preço é fantástico.