O Alentejo a mostrar que sabe muito do Douro. A Herdade do Esporão instalou-se no Douro em 2008 e essa mudança do Alentejo para o velho “Paiz Vinhateiro” foi uma das melhores notícias para a região dos últimos anos.
Porque os Roquette (com primos na Quinta do Crasto) e o seu enólogo, David Baverstock (que se estreou no Douro), sabem de vinhos, fazem-nos com paixão e provaram compreender melhor a natureza e a essência da região que muitos dos que a habitam e trabalham há décadas — a forma como se bateram contra a barragem de Foz Tua é uma lição para a estreiteza de vistas com que empresas centenárias no Douro encararam o problema.
A acção do braço alentejano dos Roquette desenrola-se na Quinta dos Murças, na transição do Baixo Corgo para o Cima Corgo, em encostas íngremes nas quais se deram os primeiros passos da “vinha ao alto”, que contraria o tradicional desenho dos socalcos em paralelo ao rio. Mas a quinta precisava de um novo fôlego para mostrar o que vale. Pelo menos nos DOC Douro.
O Assobio, um vinho de combate, é desde há alguns anos a prova de que Murças vale bastante. Este reserva (ainda por cima do ano mítico de 2011) aprofunda a questão e mostra que, sob a chancela do Esporão, a quinta vale muitíssimo.
Proveniente de vinhas velhas entre os 80 e os 280 metros da altitude, vinificado com pisa a pé em lagares de granito, este Quinta dos Murças Reserva 2011 passou um ano em barricas usadas de carvalho francês e americano. Após um longo estágio em garrafa, mostra-se carregado com os melhores aromas do Douro — esteva, notas balsâmicas discretas e uma remota presença floral, que atrai mais pela subtileza e elegância do que pela intensidade.
É também um vinho pleno na boca, com tanino seco a equilibrar bem o peso do álcool, músculo notável a garantir poder e tensão e uma presença de fruta que lhe confere intensidade, complexidade e distinção. O esplendor de um Douro antigo sob a batuta de um novo actor.