Mas há mais vinhos a celebrar nas Caves Transmontanas que os produzem. Há seguramente vinhos tintos de boa estirpe que se destacam pela sua secura, pela sua precisão e, olhando à memória da casa, pela sua notável capacidade de envelhecer em garrafa.
Um contacto breve com este 2010 confirma todas estas qualidades. Com um detalhe que está longe de ser irrelevante: em causa está um tinto de um ano que, no Douro, nos deu muito boas notícias pela elegância e sofisticação.
Para começar, vale a pena sublinhar o facto de estarmos a falar de um vinho que entrou no seu sexto ano de vida e só agora chega ao mercado. Ou seja, é um vinho que foi pensado para durar. A rugosidade dos seus taninos, que numa prova a seco chegam a mostrar adstringência, é uma vénia aos tintos do Douro na sua versão mais máscula e potente. Os três anos de vida em barrica, mais os que entretanto passou em garrafa, moldaram-lhe o carácter e permitem-lhe apresentar um grau de polimento mais do que satisfatório. Mas não nos enganemos: há aqui acidez e estrutura para muitos mais anos de vida em garrafa.
O perfil clássico do seu aroma é outra mais-valia deste tinto. Estão lá as notas doces da barrica, mas está também a esteva, estão lá sugestões de especiaria e de fruta preta madura. Na boca, é toda esta complexidade que prevalece, mas apenas após o impacte inicial de uma estrutura poderosa de taninos que impressionam o palato e a ponta da língua. Para o fim da prova de boca sobra então uma secura e uma acidez viva que oferecem frescura e persistência. Não, este não é um tinto duriense macio e “atourigado”, com fruta, compota, boas maneiras e suavidade, embora a barrica o aproxime dos padrões do gosto moderno. É um tinto com alma e garra. Um tinto que se mostra melhor com comida. Um grande tinto.