O universo do vinho do Porto é muito dual. O que faz o seu prestígio são, acima de tudo, os Vintage, os LBV, os Tawny e os Colheitas, as chamadas categorias especiais. Mas o grosso do negócio ainda continua a ser assegurado por marcas brancas e vinhos fraquitos e baratuchos. Nos Vinhos Verdes passa-se mais ou menos a mesma coisa. O que vende, o que enche os press releases de prémios e constantes aumentos das exportações, é o vinho verde leve, doce, gaseificado e barato.
Mas há uma meia dúzia de produtores que não se conforma com este destino regional e que tem vindo a propor um caminho alternativo, lançando no mercado vinhos brancos de grande qualidade e com um preço muito acima do preço médio da região. São uma minoria e têm pouco peso nas contas gerais, mas são eles que estão no radar de quem tem influência no sector, como os críticos e os sommeliers.
A Casa de Cello, de João Pedro Araújo, é um desses produtores. Também está presente no Dão, onde produz um grande e clássico tinto, o Quinta da Vegia ( e desde 2015 também um belo rosé).
Provando o fantástico Quinta de Vegia Superior 2007, percebe-se o elogio. Mas o seu foco principal são os brancos. O Quinta de San Joanne Superior é a grande referência, mas o destaque desta semana vai para o Quinta de San Joanne Escolha 2014, feito de Alvarinho Avesso, Arinto e Trajadura.
Um branco magnífico. Seivoso, ressuma a citrinos, fruta branca, flores, envolvendo bem a boca com sensações ácidas, especiadas e ligeiramente amargas (gengibre, maçã reineta, toranja). Fino e fresquíssimo, parece seguir na mesma linha do admirável San Joanne Superior 2000. Já tem 16 anos, notórios na sua cor alaranjada e nas notas de frutos secos, da evolução, mas deixa-nos perplexos com o seu viço, alimentado por uma acidez (ainda) quase acintosa.