Começa a ser cada vez mais frequente encontrar surpresas destas: um Reserva tinto do Douro com menos de 13% de volume de álcool. Ainda bem. Na última edição especial deste suplemento dedicada ao vinho, dávamos conta do dilema em que vivem os enólogos. Pedro Garcias notava que a sua opção oscilava entre a cedência à vontade de fazer vinhos menos alcoólicos e o receio das notas dos críticos que, por regra, valorizam nas provas cegas amostras com graduações mais elevadas.
Certamente que a Borges não escapou a este dilema. Mas resolveu conceder-nos um vinho que vale a pena ser conhecido.
A Borges é uma empresa com quase 130 anos, mas o seu passado recente foi tudo menos pacífico. Intervencionada, passou pelas mãos do BPI e sobreviveu até ter sido adquirida pela distribuidora José Maria Vieira. A sua estratégia durante estes anos obedeceu ao grande volume de marcas como a Gatão ou a Lello. Há alguns anos de
Há alguns anos decidiu elevar a fasquia dos seus Douro e Dão, com resultados nem sempre auspiciosos. Agora, algo parece estar a mudar e o trabalho do enólogo José Maria Machado não há-de ser estranho a essa mudança. Nos vinhos do Porto os resultados merecem aplauso (ver FUGAS de 12 de Março). Nos Douro, algo nos diz que há um novo caminho.
O Reserva de 2012 é uma boa prova dessa expectativa. Se a edição de 2011 apresentava um teor de álcool de 14%, a deste ano mostra um tinto bem mais seco e directo. O que mudou não foi apenas a natureza do ano – 2012 é sem dúvida mais fresco. Foi também a enologia. Este vinho não é um prodígio de complexidade, mas tem como compensação uma marca de pureza que o recomenda. Aromas expressivos de fruta vermelha e notas de especiaria, taninos suaves e consistentes, bom volume de boca, secura e persistência são atributos deste tinto (ainda) contra a corrente. Quem tem saudade de vinhos sem malabarismos tem aqui uma oportunidade.