José António Costa Marques tem uma história para contar comum a muitos portugueses emigrados. Em 2000, este empresário com negócios na Alemanha comprou dois hectares em Silgueiros, no coração puro e duro do Dão, e começou a interessar-se pelos aromas do vinho. Actualmente, gere já 12 hectares plantados com as castas tradicionais da região vinícola mais injustiçada do país — a Bairrada tem também razões para reclamar este estatuto.
Nos brancos, como não podia deixar de ser, apostou na Encruzado e numa casta bem menos conhecida, a Uva Cão. Junte-se a paixão do empresário, a generosidade da natureza do Dão de Silgueiros e o potencial da Encruzado e fica-se já com uma ideia do que está para vir.
A Encruzado é a nova coqueluche dos brancos portugueses. Tendo a sua herança genética no Dão, começou a ser alvo de interesse de produtores do Minho, de Setúbal ou do Alentejo, que a plantaram para saberem se são capazes de replicar as suas qualidades – um processo que, no caso da Touriga Nacional, correu muito bem. Mas enquanto não temos ainda provas acabadas de que haverá uma “encruzadização” do país como houve uma “touriguização”, vamos provando os brancos que nos chegam do Dão com esta casta. Para concluirmos facilmente que esta é sem dúvida uma das mais nobres do vinho branco nacional.
Este Allgo é disso um exemplo notável. No aroma, está longe de proporcionar a explosão de fruta que uma gama vasta de apreciadores reclama, como é aliás apanágio da casta. A sugestões remotas de citrinos opõem-se notas dominantes de erva fresca, toques florais de rosa, presença discreta de madeira que se aplaude e uma deliciosa presença de aromas químicos próximos do alcatrão. Na boca, é um vinho volumoso que uma boa acidez (também oferecida pela Uva Cão) harmoniza, deixando um final de boca cheio de vigor e complexidade. Um belíssimo Encruzado. Ficará melhor após uma década de maturação na garrafa.