As impressão intensa de baunilha emprestada pelo estágio de 12 meses em barricas novas de carvalho francês não chega para apagar a verdade profunda dos aromas deste vinho. A madeira é tão marcante que chega a ser ostensiva, mas as notas de frutos vermelhos maduros, o toque de rosmaninho e esteva e as sugestões de especiaria persistem para nos lembrar que este é um tinto duriense produzido a partir de vinhas velhas.
No rótulo, lê-se que entraram na composição do lote seis castas tradicionais da região, desde a consagrada Touriga Franca até à Tinta Amarela, mas nas fracções de vinhas velhas dos 53 hectares de vinhas da Pacheca há-de ser difícil produzir tão refinada distinção. Porque, não se duvide, a paleta de aromas que nos surge neste tinto são resultantes dessa maravilhosa biodiversidade e dessa enorme riqueza que são as vinhas com mais de 70 ou 80 anos. Por isso se pressentem taninos finíssimos, que surgem elegantes no início para no final darem prova da sua intensidade. Por isso se constata uma garra e uma identidade que lhe conferem harmonia, complexidade e garra.
Mas há também neste vinho uma marca da enologia, da responsabilidade de Maria Serpa Pimentel, que consiste na capacidade de aproveitar a dádiva da natureza duriense, aqui numa feição mais elegante e fresca do Baixo Corgo, e de lhe acrescentar toques de modernidade. O papel da barrica inclui-se nesta vocação e é aqui que reside a única dissonância neste vinho. Se acrescenta atributos contemporâneos a um pano de fundo que é, genuinamente, tradicional, ou duriense, a barrica podia ser um pouco menos intensa, mais discreta. Ainda assim, temos aqui um belo vinho. Fino, intenso, subtil, feito para a mesa. Um vinho que só agora começa a mostrar o que vale. Daqui a uma meia dúzia de anos estará ainda mais aprimorado e complexo.