Mas a bondade da natureza que criou vinhos do Porto com concentração, estrutura poderosa e aromas finos e intensos não foi igualmente pródiga para todos os DOC Douro.
Em alguns casos, principalmente com vinhos das zonas mais quentes do Douro Superior, a enologia não foi capaz de mitigar a estrutura e o álcool e de evitar vinhos algo pesados e cansativos — no Baixo Corgo é mais fácil encontrar vinhos de classe pura neste ano.
Na zona de transição entre o Douro mais fresco e o Douro mais tórrido, a Romaneira foi capaz de fazer um reserva que seguramente se enquadra entre os melhores tintos do Douro de 2011 – mesmo tendo em conta que boa parte das suas vinhas estão expostas a sul, sendo mais sensíveis a anos quentes.
Dando seguimento a uma adaptação estratégica que encontra cada vez mais adeptos no Douro e no país, o enólogo António Agrellos (que é também o criador dos soberbos Porto e DOC Douro da Quinta do Noval) produziu um vinho com um teor alcoólico que há apenas meia dúzia de anos era praticamente impossível encontrar — 13,5%. Ao contrário de muitos grandes vinhos com um pendor alcoólico superior, este Reserva da Romaneira beneficia dessa mudança ao revelar-se um vinho com uma enorme complexidade sem perder elegância e graça. Sim, é possível fazer vinhos mais finos, mais frescos e irresistíveis com menos grau e menos concentração.
É impossível não gostar muito deste vinho. Os seus aromas florais (a violeta da melhor Touriga Nacional do Douro tem aqui uma expressão magnífica), as notas de fruta vermelha, os toques balsâmicos de caruma ou a discreta contribuição da madeira tornam-no facilmente sedutor. Na boca, é uma maravilha para os sentidos. Taninos finíssimos sustentam um volume preciso.
A fruta revela-se num excelente balanço com uma acidez no ponto. E no final emerge uma sensação de especiaria que prolonga a prova e deixa um rasto de harmonia e complexidade notáveis. Um vinho magnífico. Mais uma grande criação de um dos maiores senhores do vinho nacional.