Os vinhos brancos de curtimenta continuam a fazer o seu caminho em Portugal, apesar de não serem fáceis. “Curtir” as uvas visa extrair tudo o que de bom tem a sua película, incluindo cor e taninos.
Daí que as uvas fermentem sem que haja uma separação do líquido e das películas. As uvas são desengaçadas e toda aquela massa de sumo e cascas fermenta ao mesmo tempo. É assim que se fazem os tintos.
Nos brancos, o normal é desengaçar as uvas e separar de imediato o líquido, para se obter mostos mais perfumados e o menos oxidados possível. O contacto prolongado dos mostos com as cascas das uvas leva a uma oxidação precoce da cor e dos aromas e sabores. No fundo, a ideia é antecipar a oxidação natural do vinho, para conseguir uma maior complexidade e também uma melhor e mais duradoura evolução. Ou seja, “estragar” para melhorar o vinho.
Mas este é um tipo de branco que precisa de tempo em garrafa para ficar mais apelativo e mostrar todo o seu potencial. De um vinho branco novo, o que se espera é limpeza e exuberância aromática, jovialidade e frescura. E um branco de curtimenta apresenta uma cor já velha, impressiona mais pelos aromas e sabores de evolução do que pela fruta fresca e suculenta e é mais gordo e pesado, mesmo que seja pouco alcoólico. Por essa razão, um branco de curtimenta deve possuir sempre uma boa acidez, para contrabalançar a oxidação e deixar o vinho mais vivo e tenso.
O vinho desta semana, uma novidade da Roquevale, é, a este respeito, um curtimenta muito didáctico. Não nos agarra à primeira, pela sua austeridade, mas, melhor dissecado, percebe-se que vai de menos a mais, mostrando no final de boca uma frescura e uma vivacidade adoráveis. É um branco que nos instiga a voltar a ele, pela sua boa acidez. Uma bela estreia e um bom trabalho enológico de Joana Roquevale. Ganha se acompanhar comidas mais gordas.