“OVale da Vilariça é um lugar diferente e fascinante para quem está habituado ao vale do Douro”, diz Paul Symington, o líder do grupo familiar que controla marcas de DOC Douro e de vinho do Porto como a Vesúvio, a Dow’s ou a Graham’s.
A verdade é que a superfície ondulada da paisagem da Vilariça contrasta com as encostas durienses, não há um rio lá ao fundo, os solos são mais alcalinos e a geometria das videiras não segue as curvas de nível. Mas, para lá das aparências, o vale encaixado onde se encontram os 81 hectares de vinhas da Quinta do Ataíde tem muito de comum com o Douro. É tórrido, xistoso e excelente para a criação de grandes vinhos. A quinta foi adquirida em 1980 por António Filipe (pai do homónimo que é director-geral da Symington) quando administrava a Cockburn’s. Depois, o trabalho na viticultura feito por Miguel Corte Real deu lastro a uma revolução que, à época, poucos sequer imaginavam. Foi ali que se fizeram ensaios com clones de Touriga Nacional e se descobriram os porta-enxertos capazes de potenciar as suas qualidades. Muita da Touriga Nacional que se encontra no Douro e nas outras regiões do país tem a sua origem no Ataíde.
Este Vinha do Arco provém de blocos onde a Touriga já existe há mais de 30 anos. O trabalho na viticultura de, entre outros, Fernando Alves e a enologia a cargo de Charles Symington e Pedro Correia souberam tirar o máximo do seu potencial. Este touriga é uma delícia para os sentidos – e a outra estreia, o Ataíde de 2014 (custará 12 euros) não fica muito atrás. Aromas de bosque, nota precisa e discreta de barrica, fruta vermelha, envolvente e complexo, é um vinho radioso que tempera bem a fruta com a acidez e deixa um rasto de especiaria delicioso no final da prova. Uma estreia apetitosa. Já se bebe com prazer, mas há-de ganhar outra dimensão após mais alguns anos de garrafa.