O Alentejo tem mudado como se espera e exige a uma região jovem que ainda procura a sua identidade, mas quando é bom tem sempre a marca do calor da planície; os baga da Bairrada são inconfundíveis mesmo quando a moderna viticultura e enologia lhes amacia o temperamento; os Douro com carácter impressionam de uma forma muito particular os sentidos com a sua harmonia e complexidade; e depois vêm os Dão, que se destacam entre todos pelo lado floral dos seus aromas, pela macieza do seu corpo e principalmente pela sua elegância e sofisticação.
Para nossa felicidade, as singularidades do Dão descobrem-se não apenas nos vinhos caros como também no segmento médio do mercado. Uma vinha em solos de granito, nas faldas da serra, plantada com o riquíssimo património de castas da região é meio caminho andado para que os principais atributos do Dão se manifestem. A Casa de São Matias, propriedade de António Montenegro pai e António Montenegro filho reúne todas as estas condições e nota-se que a enologia de Francisco Gonçalves teve a preocupação em deixar que o potencial da vinha se exprimisse com um mínimo de intervenção – este vinho não passa sequer por madeira.
Para nossa felicidade, este São Matias é um Dão e não apenas nos aromas. A sua sedosidade e frescura são fiéis tributários desta região onde nascem alguns dos melhores tintos portugueses. Notas de fruta vermelha madura, toques florais da touriga impõem-se num conjunto muito agradável e atraente. Tanino fino e elegante, mas suficientemente firme para garantir impacte e profundidade. Final de boca longo com sugestões de especiaria. Um belo tinto, com graça, vocação para a mesa e potencial de guarda que se alcança através de um preço absolutamente sensato.