Estamos no Outono e começa a apetecer beber outro tipo de brancos. Já não tanto aqueles vinhos mais graciosos e ligeiros, mas brancos com outra densidade e complexidade.
Ora, quando usamos estes dois descritores, é obrigatório associá-los à grande casta branca do Noroeste (e do país), a Alvarinho. E, por maioria de razão, às criações de Anselmo Mendes. Anselmo é um enólogo justamente famoso e, para entendermos a excelência das suas criações, temos de as procurar não apenas no seu talento pessoal como na sua intransigente propensão para estudar e experimentar. No que diz respeito à Alvarinho, nada lhe escapa, seja a altitude, a exposição, a riqueza ou a composição dos solos. Mas se nas suas opções entra sempre a ciência, Anselmo é também um devoto da tradição.
Este Curtimenta é prova dessa ligação ao saber antigo. A curtimenta usava-se nos lagares tradicionais, mas hoje é uma técnica especialmente usada nos tintos. No lagar ou nas cubas, prolonga-se o contacto das películas com o mosto em fermentação para provocar a extracção de taninos e cor. Anselmo usa esta técnica para produzir este branco e acrescenta-lhe um estágio com as borras finas durante oito meses.
A experiência produziu um clássico. Um branco que não obedece à exuberância e que é até algo contido na sua expressão aromática, na qual a delicadeza se sobrepõe à intensidade, onde o requinte da fruta, o toque oxidado ou a nota da barrica se ajustam num balanço que seduz por ser óptimo e não por ser fácil. Na boca a revelação continua, entre uma certa frugalidade seca e a riqueza da Alvarinho no volume ou na acidez. Anselmo Mendes é um perfeccionista e este Curtimenta é o espelho da sua arte. Um vinho elegantíssimo, complexo, delicado sem ser mole, intenso e saboroso, envolvente e longo na boca pela sua acidez e mineralidade. Um grande vinho, ideal para a mesa, para os dias mais frios que se aproximam. Ou para aguardar mais uma mão cheia de anos na cave.