Há castas boas mas meio temperamentais que precisam de ser bem domadas, se queremos tirar o melhor partido delas. A Touriga Nacional é uma delas.Rebelde na vinha, onde cresce de forma quase caótica, comporta-se de forma totalmente diferente consoante o lugar onde estiver plantada e exige decisões acertadas na hora de ser vindimada.
No Douro, por exemplo, quando a videira começa a ficar com muitas folhas secas, pode sugerir-nos que está na hora de ser vindimada, mas vamos a ver e as uvas estão por vezes mais verdes do que numa videira com uma sebe maior e mais viçosa. Mas se vamos esperar que a maturação chegue ao ponto certo corremos o risco de fazer um vinho quase licorado, como 15 ou mais graus. Em contrapartida, no Dão, é preciso rezar para que não chuva e a Touriga Nacional vá amadurecendo lentamente.
Com a Petit Verdot, casta de origem francesa que está a mostrar belíssimos resultados no Alentejo, também é preciso ser sábio na sua gestão. Ao contrário da Touriga Nacional em lugares quentes, precisa de calor e de amadurecer bem para perder o seu lado mais vegetal e amargo e deixar brilhar a sua magnífica frescura. É por isso que quando nos cruzamos com um vinho de Petit Verdot de 14, 5% de álcool, como acontece com este Dona Maria 2013, não devemos ficar assustados. Porque esta graduação, associada a um estágio de um ano em barrica nova de carvalho francês, dá-nos o melhor de dois mundos: exuberância aromática, envolvência, estrutura e sapidez, por um lado; e ímpeto tânico, nervo e frescura, por outro.
Mais uma vez, o Petit Verdot do produtor Júlio Bastos atinge esse virtuosismo. Embora nunca perca um certo amargor no final de boca, que desaparece à mesa, sobretudo na companhia de pratos com alguma gordura e proteína, é um tinto que dá mesmo gosto a beber.