Viúva Quintas é uma marca histórica de Bucelas, criada por Maria Quintas em 1920, depois de ter ficado viúva de Máximo da Silva Quintas, e que durante muito tempo serviu de chapéu à venda de “vinhos, aguardentes e vinagres das melhores proveniências”, como se pode ler num rótulo da altura. “Distribuímos aos domicílios em Lisboa”- era outra das informações que constava do mesmo rótulo.
Hoje, os herdeiros da Viúva Quintas, Carla Cordeiro e a sua filha, Catarina (finalista do curso de Medicina Veterinária), já não entregam vinho ao domicílio, mas estão a querer recuperar a memória e o legado da fundadora através da produção de Bucelas clássicos, feitos apenas de Arinto, sem concessões às modas tropicais e com mais tempo de estágio em cuba e garrafa. O primeiro vinho que engarrafaram foi o Viúva Quintas 2014 (o 2015 deverá ser lançado no início do próximo ano). O enólogo é Nuno do Ó, que, após vários anos na Companhia das Quintas, produz os seus próprios vinhos na Bairrada (Outrora) e no Dão (Druída).
As vinhas, dois hectares no total, situam-se no vale do rio Trancão e são granjeadas por Carla e Catarina, sem recurso a herbicidas. O vinho é feito de forma artesanal, fermentando e estagiando apenas em inox. A ideia é deixar que o vinho fale por si e que exprima o mais fielmente possível a casta, o solo e o clima de origem. Ora, apesar de ser uma estreia, o primeiro Viúva Quintas é mesmo um branco de terroir. Ressuma a calcário (os solos são argilo-calcários), sem esconder a dimensão cítrica típica do Arinto, e possui uma frescura e até uma certa salinidade muito atlânticas. De bom equilíbrio, possui uma soberba aptidão gastronómica, impressionando mais pela sua vertente mineral do que pela expressão de fruta (o que só abona a seu favor). Requer alguma sensibilidade e conhecimento do lugar e da casta no primeiro embate olfactivo, mas na prova gustativa deixa-nos deslumbrados e a salivar. Um belíssimo branco.