Primeira: a de que um tinto com 15% de volume alcoólico é por natureza um vinho pesado, cansativo e mole. Segunda: a de que um tinto duriense com dois anos de vida tem forte possibilidade de valer mais pelo que há-de ser do que propriamente pelo que já é.
O Monte Xisto de 2014 prova que a enologia e a viticultura podem contornar verdades elementares. O seu elevado teor alcoólico garante-lhe um toque acetinado, mas não o torna unidimensional nem pastoso; a sua juventude mostra-se na potência da fruta, mas a sua estrutura é polida – já dá prazer beber, embora vá ganhar imenso na garrafa.
Este é, por isso, um tinto surpreendente. Que vale essencialmente por ser um vinho com um espectro aromático enorme, uma textura única, uma complexidade sublime e uma harmonia notável. Um vinho que dá prazer mastigar, que se bate muito bem com comida, que se fixa no palato. É o vinho de uma vinha, mas é também muito o vinho de um ano. Que se nota pela maior elegância e finesse, como o Monte Xisto de 2012, ou por uma maior discrição das notas florais, numa vindima em que a excelência da Touriga Franca fez aumentar o seu peso no lote final dos habituais 35% para 45%.
No nariz, é uma delícia — aromas de amora, de flores silvestres, de rosmaninho e esteva envolvidas numa sugestão de verniz. Na boca é um privilégio. Pela qualidade da sua fruta, pelos taninos macios que emergem num corpo aveludado e numa textura sedosa, pela acidez natural e a mineralidade que lhe dãi profundidade, frescura e longevidade na boca. Se houvesse apenas uma palavra para o definir, seria harmonia. Que é sempre o principal atributo de um grande vinho.