As modas no sector do vinho são mesmo vertiginosas. Ainda há bem pouco tempo, a Touriga Nacional era a casta bandeira de Portugal e agora é raro o enólogo que não desdenhe dela e clame que o que é bom, afinal, é a Touriga Franca, o Rufete, a Tinta Francisca, a Tinta Amarela, o Alicante Bouschet, a Baga, o Bastardo ou o diabo a quatro.
Para muita gente, o Douro ou o Alentejo já eram. O que está a dar é a Bairrada, o Dão e Lisboa (mesmo que as vendas digam o contrário) e dentro de alguns anos serão as regiões periféricas, tipo Trás-os-Montes ou Beira Interior. Busca de novidade — é do que se trata, em resumo. Quando Trás-os-Montes estiver na berra, voltaremos novamente ao Douro ou ao Alentejo.
Mas hoje ficamos mesmo em Trás-os-Montes, na zona de Vidago, onde Amílcar Salgado, em solos de origem granítica, faz alguns dos mais exaltantes tintos do país. Este Quinta de Arcossó Grande Reserva 2011 junta Touriga Franca (50%), Roriz e Tinta Amarela e foi vinificado em tonéis de castanho com remontagens manuais.
Os 14,5% de álcool podem assustar, mas este é uma espécie de Barolo, do Piemonte. Tem estrutura e frescura que aguentam bem o álcool. Embora seja de 2011, ainda está cheio de fruta suculenta (não excessivamente madura), à mistura com refrescantes sensações vegetais e outras mais químicas de evolução.
É muito balsâmico e resinoso e na boca tem um punch fantástico, associando, num equilíbrio prodigioso, madureza e frescura mineral, potência e vivacidade. É um tinto sério, que cheira e sabe a vinho, telúrico mas sem ser rústico e de enorme sapidez.
PS: Esta nota de prova foi feita sem comida. Ao almoço, a acompanhar peru assado, o vinho surgiu mais doce, do álcool. O álcool não arde apenas, também tem doçura. E, neste caso, acabou por penalizar o vinho à mesa.