O vinho é feito sobretudo na terra, não no lagar. Mas, em Portugal, salvo algumas grandes empresas, poucos são os produtores que conhecem a fundo o ambiente mineral em que crescem as suas videiras. Mesmo as grandes empresas só agora começam a prestar outra atenção ao estudo dos solos. É o caso da Sogrape, que, após um exaustivo trabalho de microzonagem nos 120 hectares de vinha que possui na Herdade do Peso, na Vidigueira, descobriu ter ali 12 tipos distintos de solo.
Com esta base de trabalho, a empresa pode todos os anos fazer 12 vinhos diferentes na mesma propriedade. O potencial enológico aberto com a microzonagem é enorme e já deu origem a um primeiro tinto que, sublinha a Sogrape, “é um convite à experiência única de desfrutar de um vinho que em cada ano expressa a essência da Herdade do Peso e dos seus terroirs”. Chama-se, por isso mesmo, Essência do Peso, é da colheita de 2014 e a aposta recaiu em dois talhões de Syrah de solo argilo-calcário ligeiramente diferentes: um com mais areia e melhor drenagem; o outro mais limoso e com maior disponibilidade de água.
O resultado é magnífico, porque é notório no vinho a “alma” dos dois terroirs, vinificados em separado. O primeiro, indicado para vinhas com menos vigor, deu ao vinho final mais madureza e também mais estrutura e fogosidade; o segundo, mais fértil, forneceu mais vivacidade aromática e mais frescura. A soma dos dois é um tinto de encher a boca, muito rico e imponente, sólido mas elegante e menos pesado do que sugere o seu volume alcoólico. Deve ser bebido nos próximos dez anos, não mais. Mesmo tendo uma boa acidez e um bom equilíbrio, os seus 15% de álcool vão acabar por passar factura. Não há em Portugal um bom vinho velho tranquilo com 15% de álcool ou até com 14%. Por alguma razão será.