Não é uma inevitabilidade, pois há sempre a possibilidade de vindimar mais cedo, em vez de esperar pela maturação perfeita. Mas compreende-se o estilo, por sinal, bem-sucedido. O mais difícil de compreender é a generalização deste perfil de vinho, mais por razões de mercado do que por efeito das alterações climáticas.
Se tintos do Douro ou do Alentejo com 14,5% ou 15% de álcool não causam perplexidade, já não se pode dizer o mesmo de vinhos tintos da região do Dão, da Bairrada ou de Lisboa, por exemplo. Por norma, estes vinhos são bastante mais frescos e mais contidos de álcool.
Daí a nossa surpresa pelo elevado volume alcoólico do Adegamãe Terroir Tinto 2012, o novo topo de gama deste produtor de Torres Vedras que faz questão de colocar no rótulo a frase “Portuguese Atlantic Coast Wine”. Um vinho atlântico com 14,5% de álcool?
Para a maioria dos enólogos, o álcool nunca é um problema. A chave é o equilíbrio, sustentam. Anselmo Mendes e Diogo Lopes, os enólogos responsáveis pelos vinhos da Adegamãe, podem sempre argumentar que o vinho tem uma frescura que aguenta bem o álcool. É verdade. O vinho possui uma boa acidez, é bastante químico e picante e o final de boca é muito salivante. Mas isto resolve o lado mais licorado e compotado do vinho? A fruta demasiado madura deixa de ser demasiado madura só porque a acidez é alta?
Anselmo Mendes e Diogo Lopes não precisam que lhes encomendem o sermão. São grandes enólogos e sabem o que fazem. Mas este Terroir 2012 não tem muito de atlântico. É um vinho de perfil mais mediterrânico, mais Novo Mundo até, maduro e volumoso. Um vinho de encher a boca, capaz de impressionar em provas cegas e até de ganhar concursos. Porém, sendo bastante bom, não é um vinho antológico. Uma pena.