O Mouchão é uma referência entre os grandes vinhos nacionais por uma dádiva da natureza, pela capacidade e competência dos seus mentores em assumir que há tradições que devem ser respeitadas e ainda pela mania de não ceder às tentações da pressa em levar os vinhos ao mercado.
Os Mouchão não são, por isso, “apenas” grandes vinhos, mas também vinhos que dispensam o marketing para serem o que são. O lugar onde a Alicante Bouschet se instalou em primeiro lugar (no lote entra também a Trincadeira), com solos argilosos e aluvionares onde a casta atinge o seu esplendor, são um ponto de partida para se fazerem vinhos autênticos e originais; mas depois há o respeito pela tradição que vai desde a prensagem ao uso de tonéis de 5000 mil litros de carvalho português, macaúba ou mogno onde o vinho estagia; e, como corolário desta ambição, a noção de que um grande vinho precisa de dois ou três anos de estágio em garrafa para ganhar complexidade e chegar no ponto indicado à mesa dos consumidores.
Mais do que um vinho, o Mouchão é por isso, e justamente, um ícone que encontra muito poucos rivais no país. É um vinho com uma origem, uma filosofia e uma identidade muito bem delineada e construída. Não é um vinho manso. Pelo contrário, destina-se a apreciadores exigentes que sabem procurar a grandeza para lá da suavidade dos taninos ou da expressividade da madeira. Ainda pleno de fruta, com notas de framboesa combinadas com um toque balsâmico da madeira, resulta num aroma fino, intenso mas ao mesmo tempo subtil. Na boca é intenso, com um excelente impacte inicial, é voluptuoso apesar da sua estrutura tânica imponente na qual ainda desponta uma certa adstringência e acaba numa enorme sensação de frescura temperada por um delicioso toque especiado. É um tinto sério, quase sisudo, clássico, com poucas concessões ao facilitismo. Um grande vinho agora, mas que se tornará ainda mais extraordinário após mais quatro ou cinco anos de guarda.