Quem sobrevoa a ilha vislumbra enormes manchas desmatadas que em breve vão voltar a reverdecer, mas agora com videiras de Verdelho, Arinto e Terrantez, as três grandes castas açorianas.
Nos últimos anos, após a elevação dos vinhedos de lava a Património Mundial, e graças aos generosos apoios à plantação, foram plantados cerca de 400 hectares de novas vinhas aptas para vinhos com denominação de origem protegida. Para algumas regiões do continente, é uma área pequena, mas para o Pico é um novo mundo que se abre. Porque fazer uma vinha no Pico é toda uma epopeia, uma luta contra as faias e os incensos que colonizaram a paisagem, contra a pedra que cobre a terra vulcânica, contra os ventos fortes e o sal do mar, contra as chuvas persistentes e contra a escassez de mão-de-obra.
Mas são estas adversidades e a teimosia dos locais em manter viva a tradição vitivinícola da ilha que tornam os vinhos do Pico únicos e especiais. O mesmo mar salgado que pode destruir uma colheita, sobretudo durante o período da floração, também dá aos vinhos uma salinidade extraordinária, que exalta todos os sabores naturais das uvas. E o mesmo basalto que dificulta a plantação também dá aos vinhos uma acidez vibrante, ajudando ainda à maturação das uvas.
O vinho desta semana é um branco que espelha bem o terroir do Pico. Tem madureza, mas também uma frescura e uma salinidade magníficas. Está mais na linha dos brancos de antigamente, mais maduros e menos ácidos do que os actuais. Neste, a fruta madura, de polpa branca, sobretudo, atenua a pungência da acidez e deixa o vinho mais gordo e menos metálico. Mas o frescor atlântico e a expressão mineral dada pelo basalto continuam lá. Muito bom.