Entre o vale e Gaia, o mundo do vinho do Porto separou-se em duas áreas de especialização e são mais raros os produtores que beneficiam os seus mostos — a boa notícia é que a nova geração de enólogos que dá a cara por marcas como o Vale Meão, o Crasto ou o Vallado começaram a recuperar essa memória.
Desse tempo em que as adegas floresciam no Douro sobraram vinhos extraordinários, como o que deu origem ao Scion da Taylor’s ou ao Adelaide da Quinta do Vallado. E sobrou aqui e ali também uma herança familiar que impediu que essa ancestral tradição se perdesse.
Entre as quintas que produzem, fazem e vendem o vinho com marca própria, a história da Quinta do Estanho merece uma especial referência. Fica em Cheires, na margem esquerda do rio Pinhão, a 300 metros de altitude, e é propriedade da família de Jaime Acácio Queiroz Cardoso há várias gerações. Como é regra nos dias que correm, a quinta produz DOC Douro. Mas é no vinho do Porto que se destaca.
Se há vintages do Estanho que merecem enaltecimento, é nos tawnies que a casa mostra o seu melhor. Os seus 10, 20 e 30 anos são blends de primeiro nível, e se têm como denominador comum uma certa rusticidade, o traço de originalidade que exibem garante-lhes classe e distinção. Todos esses valores se exponenciam no “Mais de 40 anos”, a todos os títulos um Porto notável. Cor de cobre escuro, aroma intenso e muito fino, com fruta seca, açúcar caramelizado, uma bela nota cítrica. Resinoso na boca, com um extraordinário balanço e um magnífico e longo final de boca, com uma acidez tensa e refrescante a impor-se. Um Porto que combina de forma admirável pujança e finesse, uma obra-prima da arte do blending.