O projecto Secret Spots, de Rui Cunha (enologia) e Gonçalo Sousa Lopes (viticultura), com adega em Favaios, engloba vários vinhos, alguns feitos a partir de uvas compradas de uma só vinha que os produtores mantêm em segredo.
A ideia tem a sua piada, mas levanta uma questão importante: se fazem segredo sobre a vinha, como é possível sabermos a autenticidade do vinho? O vinho vale por si, podem argumentar. É verdade. Mas o conhecimento do lugar que dá origem ao vinho é essencial para perceber melhor o vinho (os franceses chamam a isto degustação geo-sensorial).
Por outro lado, um vinho superfresco com origem numa vinha à beira do rio tem muito mais valor do que um vinho superfresco de uma vinha situada a 500 ou a 600 metros de altitude, por exemplo.
E é aqui que chegamos ao Lacrau Branco Old vines 2013. No site da empresa, informa-se que o vinho estagiou e fermentou em barricas de carvalho francês e que tem origem numa vinha velha em que predominam as castas Códega do Larinho, Folgasão e Gouveio. Se fica em Favaios, Murça ou Escalhão, nada é dito.
Analisemos, portanto, o vinho tal como ele é. Comecemos por uma curiosidade. Em geral, nos brancos relativamente novos, é normal sentirmos a madeira logo no primeiro ataque. Neste Lacrau, a madeira sente-se mais no final de boca. Não é uma sensação má, é apenas uma sensação diferente. No geral, a madeira até surge bem integrada, deixando a essência das uvas (fruta, acidez, mineralidade) expressar-se de uma forma muito equilibrada.
Apesar dos 13,5% de álcool, é um branco bem balanceado, volumoso mas muitíssimo fresco, gordo mas cheio de tensão e vigor. Está muito expressivo de aroma (citrinos, fruta de polpa branca, fragrâncias florais frescas) e refinado de sabor. Não sabemos de que parte do Douro provém, mas que é bom é.