Fazer um vinho a partir de uvas ou vinhos de diferentes regiões já não é uma novidade em Portugal. Desde o início do século passado que os famosos tintos e brancos do Bussaco, por exemplo, são feitos dessa maneira (Bairrada e Dão). Dois produtores de regiões distintas fazerem um vinho de lote também já acontece.
O caso mais conhecido é o Dado, agora Doda, que junta Dirk Niepoort (Douro) e Álvaro de Castro (Dão). Mas, que se saiba, ainda ninguém tinha feito um Alvarinho de duas denominações. O primeiro foi apresentado na semana passada e tem como protagonistas Anselmo Mendes (Monção) e Diogo Lopes (Adegamãe, Lisboa). Chama-se Alvarinho 221 (dois enólogos, dois terroirs, um vinho).
Anselmo Mendes e Diogo Lopes são os enólogos da Adegamãe. Em Monção, Anselmo separou duas barricas do seu melhor Alvarinho, com origem em solos graníticos; na Adegamãe, Diogo Lopes fez o mesmo, mas com uvas de solos argilo-calcários. No final, juntaram os dois vinhos e fizeram um lote só, engarrafado pela Adegamãe (2700 garrafas).
Deixaram de ter um Alvarinho de Melgaço e um Alvarinho de Torres Vedras e passaram a ter um outro Alvarinho, com origem em dois lugares diferentes mas com uma marca comum: o seu cariz atlântico. É esse o elemento distintivo do Alvarinho 221. Ambos os terroirs beneficiam da proximidade do mar, mas mais o da Adegamãe. Anselmo Mendes acha que o vinho “conjuga o típico lado mais austero de Monção com a exuberância e até salinidade característica de Lisboa”. Na prova, é um branco não muito efusivo de aroma (o estágio em madeira atenuou um pouco o impacto da fruta), mas na boca exibe uma riqueza, uma frescura e uma expressão mineral extraordinárias. Apesar de gordo e volumoso, vai afunilando no centro da boca, num crescendo de frescor e precisão notáveis. Magnífico. Neste caso, 1+1 deu mesmo mais do que 2.