A vindima de 2014 foi difícil. A chuva que caiu até nas zonas mais áridas do Douro dificultou os trabalhos, perturbou as maturações e obrigou os enólogos a refazerem os seus cálculos sobre o potencial da fruta.
Quem vindimou nos primeiros dias de Setembro, antes da aparição das chuvas, pôde obter vinhos mais concentrados, mais estruturados e maduros. Os lotes que deram origem ao Quinta da Lêda deste ano encontram-se nessa categoria. Pode dizer-se até que, na actual fase da sua evolução, este vinho parece ter sido originado num ano com um perfil climático mais quente e seco do que 2014.
Se na origem a natureza dita as regras, a capacidade dos viticultores e dos enólogos para as ajustar é cada vez maior, principalmente em empresas que apostam na ciência.
Por tradição, os Lêda, a terceira marca no ranking de qualidade da Ferreirinha, conjugam uma boa estrutura e elevadas intensidades de fruta sem que, com essa carga, percam finesse e harmonia. Arrancam do Douro Superior os aromas de frutos maduros e volume de boca, que depois a arte de Luís Sottomayor e a sua equipa temperam com o cuidado na conservação da acidez ou a estrutura equilibrada de taninos.
O Lêda de 2014 é, curiosamente, um vinho que se desloca mais para um dos seus pilares tradicionais — o da potência. Os seus aromas de frutos pretos, com notas balsâmicas, barrica fina e sugestões florais, continuam atraentes como sempre e, ainda que um pouco fechados nesta fase, não traem a firme identidade da casa. Na boca, o primeiro impacte revela um vinho denso, cheio, com taninos poderosos e ainda com algumas arestas.
A prova prolonga-se com uma sensação exuberante de fruta e especiaria na boca e termina num final marcado pela firmeza do tanino e um toque de acidez fresco e retemperador. Mais másculo do que em anteriores edições, o Lêda conserva a marca da sua origem e a escola, o perfil, dos seus criadores. É um grande vinho, que será ainda melhor após um par de anos na cave para limar a sua impulsividade juvenil.