Num país que regra geral despreza o valor do tempo na maturação do vinho, lançar um branco com 10 anos de vida é um acto de coragem. Jorge Alves e Celso Pereira tiveram essa ousadia e o simples facto de permitirem aos enófilos mais exigentes a prova de que, sim, em Portugal os brancos têm potencial de guarda, torna-os devedores do nosso reconhecimento.
O Quanta Terra de 2007 que está no mercado é uma raridade feita por 300 garrafas mas, mais do que o efeito da multiplicação, o que conta neste lançamento é o exemplo. É bom que haja empresas a cultivar a importância do envelhecimento do vinho, como agora o faz o Quanta Terra – ou a Lavradores de Feitoria, que há uns tempos relançou um topo de gama de 2005.
Celso Pereira é um enólogo com a obrigação de conhecer bem os brancos das zonas mais planálticas do Douro. Anda há mais de 20 anos a fazer alguns dos maiores espumantes do país, os Vértice, e esse conhecimento foi-lhe favorável quando o Douro apostou nos brancos. Em 2007, ano mais afeiçoado aos tintos, ele e Jorge Alves lançaram o seu primeiro branco, um Grande Reserva.
Agora, regressam a essa experiência com as castas Gouveio e Viosinho produzidas a altitudes superiores a 600 metros, colocando-a de novo no mercado. O resultado do tempo num branco é mais incerto do que num tinto. O efeito da oxidação é desigual. Neste Vértice, uma década de espera produziu bons resultados. Este branco é exótico, complexo e cheio de subtilezas, como se exige a um vinho com anos de garrafa.
Notas cítricas, num conjunto aromático muito original, com sugestões de mel, amêndoa amarga e querosene a denunciar a marca do envelhecimento. Boa cremosidade, intensidade e delicadeza com um final de boca a denunciar garra à custa de uma belíssima e persistente acidez. Um vinho com uma soberba textura, elegância e harmonia, que dá muito prazer beber. Ideal para queijos, massas e carne branca.