O Herdade do Rocim Branco 2016, o mais barato dos quatro brancos que a empresa da Vidigueira comercializa, é um vinho subvalorizado e bastante didáctico, podendo servir de inspiração a muitos produtores alentejanos. Sem rodeios: o Alentejo, em geral (há sempre excepções), não é uma terra fácil para brancos. O seu clima quente não ajuda muito e as suas principais castas, Antão Vaz e Roupeiro, também não, pois falta-lhes frescura natural.
Para ter futuro, o Alentejo começou, e bem, a recorrer a castas nacionais com maior acidez natural, como a Verdelho, a Alvarinho, a Viosinho e, acima de tudo, a Arinto, uma das mais plásticas do país. Tradicional de Bucelas, está hoje disseminada por todo o território nacional, ilhas incluídas. De aroma algo discreto, possui uma acidez cítrica fabulosa. Actualmente, é a casta “salva-vinhos” do Alentejo, porque lhes dá o que estes mais precisam: frescura.
Neste Herdade do Rocim entra também o Viosinho, uma casta do Douro de maturação precoce que origina vinhos gordos mas também com grande acidez. Terá sido a primeira vez que os enólogos da herdade do Rocim usaram esta combinação (Antão Vaz, Arinto e Viosinho) e o resultado é magnífico. Nem parece um branco alentejano. De aroma sim: estão lá as notas mais maduras da Antão Vaz, o seu toque tropical, a doçura floral do Jasmim, um certo agridoce exótico, também típico do Viosinho, que funciona aqui como casta charneira, ajudando a equilibrar ainda mais o vinho. Mas no gosto o que se destaca é a frescura quase acintosa da casta Arinto, o seu nervo cítrico.
Não se trata de nenhum ovo de Colombo, mas a Herdade do Rocim pode ter encontrado uma fórmula vencedora para os brancos do Alentejo. Quem recorreu a castas estrangeiras, tipo Sauvignon Blanc e Viognier, um dia vai arrepender-se.