O uso do nome Verdelho em muitos brancos do Alentejo é um tema sem fim. A casta existe, claro, mas de que Verdelho estamos a falar? Da Verdelho da Madeira e dos Açores, também muito plantada na Austrália, ou da Verdejo da Rueda (Espanha)? Ou será a Verdicchio italiana? E não será antes a Gouveio do Douro, que corresponde à Verdello de Itália, ou até mesmo a Godello, de Valdeorras, Galiza, parente próxima também do Gouveio? A confusão está instalada muito por culpa de alguns viveiristas, que, sob o nome Verdelho, foram disseminando pelo Alentejo e outras regiões do país plantas de castas diferentes. Uma parte do vinho de Verdelho que se vende hoje não é desta casta, mas sim de Gouveio e até, embora menos, de Verdejo.
A Herdade do Esporão também andou durante anos a publicitar erradamente a Verdelho nos seus vinhos, mas, a partir de 2005, com a plantação de Verdelho da Madeira, passou a ter a casta verdadeira. E a Verdelho verdadeira é menos exuberante do que a Gouveio e ainda menos do que a Verdejo, muito tropical. No resto, são bastante similares, sobretudo as duas primeiras. Ambas têm um aroma e um gosto dominados pela fruta cítrica e conseguem atingir boas graduações conservando uma acidez elevada.
Este Esporão Verdelho 2016 é um belo exemplo. Tem 13% de álcool, mas na boca é um vinho vibrante, com fruta muito viva e limpa (o facto de o vinho não ter tido contacto com madeira ajudou) e uma acidez refrescante. Na linguagem dos enólogos, tem uma boa “sucrosidade”. Faz salivar. Não por excesso de acidez, mas sim por ser muito vivaz. A sensação de vivacidade e sapidez resulta da combinação fruta madura/ácidos. É como comermos um maracujá. É doce e ácido ao mesmo tempo. Um efeito similar ao que o vinagre produz numa salada. Faz realçar os restantes sabores, ampliando o seu impacto sensorial. Neste caso, o “vinagre” está na acidez cítrica. Um branco de perfil claramente estival e muito interessante.