Se é duradoura ou vai passar depressa, o tempo o dirá. É um regresso a uma prática antiga na região, herança dos romanos — e isso dá-lhe valor e credibilidade. E pode constituir também um caminho alternativo à vertente mais “Novo Mundo” do Alentejo.
Basta colocar em confronto os tintos Cortes de Cima clássicos com o Cortes de Cima Amphora 2014, o vinho desta semana, para se perceber o que está em causa. Os primeiros são encorpados, maduros e muito tributários do estágio em barrica; o segundo é um vinho mais leve, mais fino e mais fresco. Os primeiros são muito impressivos, gulosos e quase mastigáveis; o segundo é um vinho menos exuberante mas mais digestivo.
As talhas de barro, sobretudo as que não são revestidas internamente com pez, facilitam a micro-oxigenação do vinho. Daí que os vinhos fermentados e estagiados nestes potes sejam quase sempre bastante polidos. O barro também pode aduzir algum aroma e gosto ao vinho, mas de nada de muito significativo — nem o propósito é esse.
Neste Cortes de Cima foram usadas ânforas de barro cru de 600 litros. Depois da fermentação, o vinho estagiou durante 12 meses em ânforas de 150 litros também não revestidas. E é aqui que reside a novidade. Em vez de um clássico vinho de talha, este é mais um vinho de ânfora. A ânfora maior fez o papel de uma cuba de inox e a ânfora mais pequena o papel de uma barrica. O resultado é muito interessante. O vinho, com uns civilizados 13,5% de álcool, apresenta um aroma e um gosto cativantes, pela sua pureza, singeleza e frescura. É um perfil telúrico, que evoca o ambiente húmido do bosque e da terra e a sapidez da fruta vermelha. A sua textura, apesar da predominância da casta Aragonez, é sedosa, o que, aliado a uma boa acidez, proporciona uma prova de boca muito exaltante.