A Beira Interior, a par de Trás-os-Montes, tem tudo para ser a próxima região da moda em Portugal. O potencial está lá: vinhas situadas na sua maioria a mais de 700 metros de altitude, grande diversidade de solos, longa tradição vitivinícola, castas bem adaptadas (Síria, Fonte Cal e Rabo de Ovelha nos brancos, Tinta Roriz e Rufete nos tintos) e vinhas velhas ainda em número razoável, muitas já centenárias. O que lhe falta? Gente, sobretudo jovens enólogos dispostos a trabalhar e a viver lá, e mais uns quantos produtores renomados que possam trazer notoriedade e novos investidores.
A chegada de Rui Madeira em 2010, com o seu projecto Beyra- Vinhos com altitude, na Vermiosa (Figueira de Castelo Rodrigo), terra fértil que durante muito tempo abasteceu clandestinamente muitos produtores do Douro, da Bairrada e dos Vinhos Verdes, pode ter sido a pedra de toque que faltava. Apesar de não terem surgido desde então novos projectos de relevo, há cada vez mais produtores a olhar com outros olhos para a região. Um deles é Anselmo Mendes, que irá lançar brevemente um branco de Fonte Cal.
Mas a melhor notícia é a nova colecção de vinhos, todos biológicos, da Quinta do Cardo, uma propriedade de 180 hectares, dos quais 69 são de vinha, situada junto a Figueira de Castelo Rodrigo, verdadeiro emblema da Beira Interior. Um deles, o Quinta do Cardo Vinha Lomedo Síria 2014, é mesmo um branco antológico. Com origem na vinha mais antiga da quinta (de 1973), passou 22 meses em barricas de carvalho francês. Está um vinho gordo, suculento, de grande complexidade e nada refém da madeira. O que sobressai, a par de algumas notas mais químicas de evolução, é ainda a fruta primordial, de recorte mais cítrico, como é típico da Síria, e, acima de tudo, uma enorme frescura, resultante da altitude e dos minerais da vinha e que se sente em cada gota. Muito bom.