Se o Douro fosse uma região institucionalmente dinâmica, hoje estaria a estudar e a discutir a possibilidade de criar nas fronteiras da sua vastidão (250 mil hectares, 45 mil hectares de vinhas) sub-regiões que atestassem a sua extraordinária diversidade.
Se o Douro seguisse os passos de Bordéus ou da Borgonha, haveríamos de saber distinguir a frescura dos vinhos do actual Baixo Corgo da concentração dos vinhos do actual Douro Superior. E haveríamos também de reter na memória o vale do Pinhão (ou do Torto) como zonas onde os vinhos revelam especial complexidade, harmonia e intensidade.
O caso deste Quinta da Manoella é um exemplo dessas qualidades. Para o justificar, temos obviamente que juntar à natureza prodigiosa do vale a excelência de uma vinha velha (104 anos), onde coexistem 30 castas, e o talento dos seus criadores, Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares da Silva. Mas, se neste vinho é, por exemplo, possível detectar um notável trabalho com a madeira, o que mais e melhor impressiona os sentidos é a sua graça e a garra que o ancoram a um lugar.
A delícia dos seus aromas, nos quais a madurez da fruta não se esvai no delicodoce da compota, ou a tensão da sua estrutura, na qual o tanino impõe uma leve rugosidade que sustenta a arquitectura, são bons exemplos da grandeza do Pinhão.
Herança da família de Jorge Serôdio Borges, a Manoella produz os seus vinhas velhas desde 2009. Na história deste rótulo vale a pena lembrar o poder do 2011 e vai valer a pena recordar a harmonia do 2014. Fruta de grande qualidade, excelente nota balsâmica da barrica, enorme sofisticação. Intenso, voluptuoso, tanino com suavidade mas com garra para amparar uma estrutura poderosa e simultaneamente cheia de nuances e subtilezas. Envolvente, cresce em ondas na boca, mostrando profundidade e uma acidez que tornam o seu final interminável e delicioso. Uma experiência sensorial notável, pura e grandiosa.