Pode o aroma bastar para a definição de um vinho? Pegue-se no caso do Chryseia de 2015. A intensidade da fruta revela-nos a presença de um vinho jovial, com fôlego suficiente para nos proporcionar uma prova poderosa e vívida. O tempero da esteva e das notas florais claramente inspirado pela Touriga Nacional são o testemunho da graciosidade e elegância. A marca de sugestões de especiaria e das notas balsâmicas sugerem-nos sofisticação e complexidade.
Reunamos todas estas componentes para chegar à conclusão de que o todo é muito maior que a soma das partes. Porque, no conjunto, o que o nariz deste vinho extraordinário nos confirma é a sua classe e a classe de uma das mais belas quintas do Douro, Roriz. Um estatuto que o tempo, quando os aromas terciários evoluírem no ambiente redutor da garrafa, apenas virá a confirmar.
O Chryseia revelou-se ao grande público com a edição de 2011, considerada pela Wine Spectator como um dos três melhores vinhos mundiais do ano. Mas a sua história tinha já pergaminhos para merecer registo. Vindimas como a de 2007 foram extraordinárias e inesquecíveis. E, depois de 2011, a saga da afirmação do vinho feito numa parceria entre o grupo Symington e o enólogo francês Bruno Prats, continou imparável. O Chryseia de 2012, por exemplo, não tinha o poder do congénere do ano anterior, mas era ainda assim um modelo de sofisticação, elegância e classe. Ora, o 2015 segue essa linhagem. Mais próximo do modelo de 2012 que do 2011, é um vinho cheio de subtilezas.
A sua estrutura é imponente, mastigável até, com tanino vívido, ainda com leve adstringência vegetal, a criar uma textura macia sem cair na fatalidade dos vinhos planos e aborrecidos. É sob esse sustentáculo que se desenvolve uma prova onde a qualidade dos aromas impera — notas de framboesa, esteva e violeta, especiaria, sugestões de tabaco, num conjunto profundamente duriense. É imperioso deixar o vinho na boca e experimentar estas sensações. Até porque a sua acidez, que determina o final da prova, lhe garantem tensão, frescura e longevidade no palato — o certificado do seu balanço e da sua harmonia. Lançado cedo de mais (a classe deste vinho será outra daqui a um par de anos), o Chryseia de 2015 é já suficientemente acabado e consistente para se tornar um dos casos sérios do ano. Um grande vinho.