Começamos pelo nome deste vinho: Hugo Mendes Lisboa. Claro que o que se destaca na garrafa é a designação Lisboa. Um verdadeiro achado. Uma ideia simples e genial. Lisboa é Lisboa e, por sinal, está na moda.
Uma lança em África, 1-0 a favor do criador do vinho, o primeiro de Hugo Mendes, enólogo há 12 anos.
Hugo Mendes (que só conheço do Facebook) usa muito bem as redes sociais, para explicar os seus projectos e as suas ideias enológicas, e teve mais uma ideia extraordinária: organizou um crowdfunding e pediu à comunidade online que lhe financiasse a produção do vinho, a troco da venda em primeur de garrafas a um preço mais barato. Nunca ninguém se tinha lembrado disto e a resposta foi um sucesso. Com o vinho ainda em casa, Hugo Mendes obteve todo o dinheiro necessário para a produção do seu vinho.
É um branco, mistura de Fernão Pires e Arinto, da zona de Alenquer. Fermentou em inox com leveduras naturais e foi engarrafado cedo, para preservar toda a sua frescura e pureza. Parece tudo muito simples, mas há bastante sabedoria por trás desta opção. O segredo começa com a escolha das castas e do momento da vindima. A Fernão Pires é uma casta muito aromática e com uma bela acidez, a Arinto é uma variedade mais neutra de aroma mas com um frescor mineral extraordinário. Hugo Mendes colheu o Fernão Pires pouco maduro, para refrear um pouco a sua exuberância aromática e garantir uma acidez alta. Com o Arinto, deixou amadurecê-lo um pouco mais, para não ficar tão agreste. O que saiu daqui? Se gosta de vinhos muito perfumados, a ressumar a fruta, não vai gostar muito. Se é daqueles que acha que o melhor do vinho se descobre na boca e não no nariz, vai começar por ficar intrigado e depois rendido à austeridade, à leveza, à frescura e à salinidade deste branco. É um branco de perfil mais cítrico e aparentemente simples — e não há nada de mal na simplicidade — mas com um equilíbrio e uma “digestibilidade” magníficos. Uma bela estreia. Um branco “cool” como Lisboa.