Fugas - Viagens

Adriano Miranda

Riviera Maia, a sedutora do México

Por Ana Henriques

Viagem ao ao país dos "mariachis", admirando as pirâmides maias e com direito a subir e descer uma (não é tarefa fácil...), descansando em praias de areia branca perfeitinhas, passeando pelas belezas naturais mexicanas e, claro, juntando-se à festa que animas estas noites "calientes".

A subir todos os deuses ajudam. O problema de chegar ao cimo de uma pirâmide maia não são as dezenas de degraus íngremes a testarem-nos a resistência das pernas, nem o sol a bater-nos de chapa, nem a humidade que se cola à pele, deixando-a pegajosa. O problema é voltar cá para baixo quando não se tem asas.

O grito agudo dos pássaros contribui para a sensação de estarmos a descobrir pela primeira vez estes templos perdidos na selva, obra de uma enigmática e poderosa civilização nascida há três mil anos e cujos vestígios ocupam não apenas o México como três países vizinhos Guatemala, Honduras e Belize.

Em Ek-Balam um passo mal dado pode fazer-nos espatifar de uma altura de mais de 13 andares. Por isso, cada descida é uma prova de perícia. Há os que perdem a vergonha e descem de rabo colado aos degraus, agarrados à corda que foi ali posta para isso mesmo. Os que ficam parados a meio da pirâmide, à espera de um arroubo de coragem que os faça retomar a pavorosa viagem em direcção ao solo. E os que chegam cá abaixo num instantinho, porque descobriram o truque de atacar cada degrau de forma enviesada, assim como quem diz de lado, ziguezagueando ao longo da escadaria. Seja qual for a técnica improvisada na altura, por momentos somos obrigados a esquecer-nos das fascinantes serpentes emplumadas e dos guerreiros alados que nos ladeiam, figuras saídas da imaginação fértil dos maias e esculpidas nas fachadas dos imponentes edifícios do sítio arqueológico.

Para cá chegar é preciso percorrer uma vasta área de mata. Depois vem a recompensa, as ruínas do século IX a fazerem-nos abrir a boca de espanto. Os descendentes dos antigos maias são homens e mulheres atarracados, muitos deles iletrados, a morar em aldeias de cabanas. Quando a sua civilização estava no auge, entre o século IV e o século VIII, havia uma elite com conhecimentos excepcionais de astronomia e de matemática, como atesta a concepção das próprias pirâmides, que inventou uma escrita própria, hieroglífica, cujo significado só conseguiu ser desvendado pelos investigadores na década de 70 do século passado. Mas porque praticavam então uma agricultura tão rudimentar, baseada em queimadas, e praticamente sem recurso a utensílios agrícolas? Terá este método de subsistência contribuído para o inexplicável declínio da civilização maia? Alguns autores dizem que sim: que as secas ocorridas vários séculos antes da chegada dos espanhóis, aliadas à erosão dos solos provocada pelos próprios maias, levou ao abandono destas cidades feitas de templos.

De Ek-Balam avistam-se as famosas pirâmides de Chichén-Itzá, eleitas uma das novas maravilhas do mundo. Mas é sobretudo na tranquilidade de Ek-Balam, muito mais do que no campo pejado de turistas e de vendedores de "souvenirs" de Chichén-Itzá, que se pode sentir o espírito da civilização maia, com os seus rituais, magias e sacrifícios.

Para perceber que muitos dos templos foram um dia coloridos, e não de pedra crua, como nos chegaram até hoje, é preciso ir a Tulum. Nos edifícios espalhados por cima da praia ainda há vestígios da tinta vermelha e azul usada naqueles tempos. Depois há que descer ao areal, porque estamos numa das praias mais bonitas da região se é que é possível distinguir uma de entre tantas belas praias. Não é barato nem tem os luxos dos inúmeros "resorts" da região, mas nesta zona vale a pena alugar uma cabana para acordar em pleno areal, com o mar transparente e morno a meia dúzia de passos.

É de resto por causa destas praias de areia a lembrar o pó-de-talco que se diz que este lugar, entre Cancun e a fronteira do México com o Belize, é um pedaço de paraíso. Também lhe chamam Riviera Maia, mas paraíso assenta-lhe que nem uma luva quando se nada nas mansas águas das Caraíbas ou se mergulha junto à segunda maior barreira de coral do mundo, as palmeiras a completar o postal ilustrado. Não é à toa que os casais em lua-de-mel vêm para aqui. O ambiente convida à preguiça dos dias feitos de ficar ao sol e tomar banho no mar azul-turquesa. Nos "resorts" do tudo-incluído a vida corre sem imprevistos, tirando quando um ou outro jaguar escapa da mata contígua e entra hotel adentro, como que reivindicando o direito a usufruir das mordomias reservadas aos hóspedes.

Maravilhas da natureza

É outra das razões por que vale a pena visitar o México: a riqueza da fauna e da flora. Quem chega espanta-se com os lagartos do tamanho de gatos que frequentam sem pudor praias e jardins com gente. "São iguanas", esclarece um empregado do hotel. Depois abre muito os braços: "Os lagartos são maiores". Dos imponentes conjuntos de monumentos pré-hispânicos aos ecoparques de diversões -como Xcaret, que demora pelo menos um dia a percorrer -, aqui a escala é outra. E o ecoturismo começa a dar frutos. Em Sian Ka'an, a onze quilómetros de Tulum, pode visitar-se uma reserva da biosfera que é património da humanidade e pernoitar nas cabanas do parque natural. São mais de 650 mil hectares, parte dos quais podem atravessar-se de barco, por entre os mangais. No "lugar onde nasce o céu", que é o significado do seu nome em maia, moram cem espécies diferentes de mamíferos e 250 de aves. De entre os répteis, o destaque vai para as tartarugas em vias de extinção.

Outro cenário natural de grande beleza na região que permanece por enquanto ainda a salvo da criminalidade violenta que assola grande parte do México é a lagoa Bacalar. Os antigos maias chamavam-lhe a lagoa das Sete Cores, por causa dos seus vários tons de azul. E nada melhor do que aproveitar a vinda para descobrir o Cenote Azul, uma das mais impressionantes piscinas naturais da zona. Sim, pode-se mergulhar. Nadar em galerias subterrâneas é mais uma experiência inesquecível da Riviera Maia. Tal como mergulhar ao pé do maior peixe vivo conhecido, o tubarão-baleia, um animal inofensivo que pode ultrapassar os 12 metros de comprimento. Na época em que eles chegam à costa existem passeios organizados para o efeito.

Para uma noite de animação q.b. ou para resolver ataques súbitos de vontade de ir às compras não é preciso ir até Cancun, cidade que já viveu, aliás, dias de maior segurança. Nas discotecas da pacata Playa del Carmen, uma antiga aldeia de pescadores a cerca de 70 quilómetros de Cancun, dança-se até às tantas e os "souvenirs" são um bocadinho mais diversificadas do que no resto na Riviera Maia. O centro de tudo é a Quinta Avenida, uma rua só para peões repleta de pequenas lojas. Playa del Carmen tem também a única livraria da zona.

O vasto património arqueológico mexicano, e em particular aquele que diz respeito à civilização maia, está longe de ser todo conhecido. Há novas descobertas quase todos os dias, tanto em Chichén-Izá, onde decorrem neste momento novas escavações, como em lugares mais recônditos. E cada descoberta traz novas interrogações. É o caso das cavernas de paredes brancas usadas como local de culto, nalgumas das quais não são visíveis marcas de fumo. Sem luz, como se orientariam os antigos maias nas galerias e grutas subterrâneas?

É sem vontade que se parte do México. Só resta regressar, para nos voltarmos a perder nos mistérios debaixo do sol, sucumbindo de vez ao seu encantamento.

Quando ir

A época alta na Riviera Maia vai de meados de Dezembro à Primavera e a das chuvas e furacões daí até Setembro. Seja como for, não conte com frio neste clima tropical, onde a temperatura média é de 27 graus durante o dia e não costuma chover muitos dias seguidos. Viajar em Agosto tem o inconveniente acrescido de ser mais caro, por causa de haver maior procura turística na Europa deste destino. E de os alojamentos terem mais gente.

Como ir

Viajar com um pacote tudo-incluído voo, hotel e refeições é a opção mais barata. Negociar com a agência de viagens o adiamento do regresso por uma semana ou duas não é fácil, mas vale a pena tentar. A Best Travel e a Dominicana Tours praticaram em Junho preços irrisórios, desde cerca de 550 euros por uma semana neste regime, mas no fi nal deste mês o mesmo pacote

Onde ficar

"Resorts" como o Bahia Príncipe são uma boa opção para os primeiros dias de descanso. Mas alugar uma cabana mesmo dentro da praia, mesmo sem as mordomias do tudo incluído e da electricidade 24 horas por dia, tem outro sabor.
Se gosta de acordar a poucos metros do mar experimente La Vita é Bella, ao pé de Tulum. Não é barato, mas tanto as cabanas como o restaurante valem a pena. Fica numa das melhores praias da zona.

O que ler

Não há assim tanta literatura em português sobre os maias. Caso não consiga aceder em tempo útil a uma edição espanhola, dirija-se à Bertrand e peça "Descobertas na terra dos maias". Custa três euros e é a história das viagens e das descobertas do francês Pierre Ivanoff por terras da América Central. Contado na primeira pessoa por quem chegou a viver com tribos locais, o relato de Ivanoff está algo desactualizado perante algumas descobertas posteriores a este livro de 1968 que, ainda assim, merece a pena ser lido.

Conselhos úteis

Sapatos de andar dentro de água são essenciais nalgumas destas praias, onde a erosão deixou incómodas pedras à entrada do mar. Outro bem essencial é o repelente de insectos - tente perceber qual o mais eficaz, porque há mosquitos altamente insistentes. E tenha em linha de conta que alguns "resorts" cobram preços exorbitantes pelas excursões aos sítios obrigatórios pirâmides maias, cenotes, ecoparques, etc. Em alternativa, pode visitar os mesmos locais repartindo o aluguer de um táxi com mais gente e contratando um guia no sítio. Para se deslocar de um lado para o outro pode alugar um carro no México as distâncias são enormes ou então usar a rede de autocarros. Outra opção são os "colectivos", velozes carrinhas que vão praticamente a todo o lado, e um dos principais meios de transporte dos mexicanos. Têm várias vantagens: são muito mais frequentes que os autocarros e também mais animados.

A Fugas viajou a convite da agência de viagens Best Travel

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