Não é ainda a praia do Castro de São Paio, é a praia do Moreiró, o vizinho maior: por ela acedemos à "nossa" praia, ao castro, ao bar/ restaurante (que, claro, se chama Castro São Paio e está como que camuflado na rocha) - este, a verdadeira porta de entrada para o areal, por onde se sacode o passadiço de madeira que percorre a costa. E com ele descemos as rochas do Alto da Mota, quase enterramos os pés na areia, e continuamos até ao Alto do Facho - e, assim, abraçamos o areal a Norte e a Sul em penedos que são proas de navios a fazerem-se ao mar; por detrás, são os canaviais que sobem até à ermida ou embatem em muros.
Na Praia do Castro de São Paio estamos encolhidos num pequeno vale pedregoso, com o mundo a passar longe. O horizonte não é largo, porque o oceano é recortado por rochas - os mergulhos não são fáceis, mas as marés às vezes desenham piscinas; e o areal é também povoado por rochas, que se fazem (ainda mais) pára-ventos (no bar dizem-nos que quando as nortadas se fazem sentir, é normal os veraneantes se transferirem da praia do Moreiró para ali) e desenham "reservados" para estender as toalhas ao abrigo de mirones - excepto dos que percorrem os passadiços entre os dois "altos". E acreditamos que todos, pelo menos uma vez, não resistem em circular por eles: há o apelo das paisagens (que seguem a linha costeira e entram terra adentro), e do pedaço de história que ali permanece.
É também um sítio arqueológico, portanto (com avisos como "as ruínas são muito frágeis, por favor não as calque"), e lemos nas placas informativas que seguem o percurso que o Castro de São Paio foi habitado por povos calaicos e é "o único exemplar nacional em que o mar toca as defesas".
Não há muitos vestígios disso (e dos pescadores e produtores de sal que ali terão habitado até aos tempos romanos não há memórias), porém com um trabalho extra da imaginação, alimentados pelos esquemas informativos, as duas casas ali assinaladas - umas quantas filas de pedras alinhadas - podem ganhar forma. No Alto do Facho, entre urze e margaridas rasteiras, concentramo-nos para visualizar as três gravuras rupestres inscritas nos rochedos (ruínas da Idade do Bronze ou do Ferro) e observamos os chamados "penedos amoladoiros" (onde se afiariam os machados de pedra), e é na ermida que vemos pedra levantada, numa pequena igreja com fachada de 1885.
Tem algo de mágico este lugar e esta praia que no Inverno facilmente se cobre de água - e no Verão também não está imune aos caprichos da natureza. A mesma que lhe cavou a geografia, traçou a história e definiu a sua vocação: pedaço fora do mundo (e da história) à beira-mar.
Como ir
A Praia do Castro de São Paio situa-se em Labruge, em Vila do Conde, 28 quilómetros a Norte do Porto. Descobri-la não é fácil, a partir do momento em que se vira costas à via rápida. Saindo do Porto, segue-se o IC1 em direcção a Viana do Castelo até à saída de Mindelo. Aí, toma-se a N13 em direcção a Vila do Conde. Na primeira rotunda, segue-se a primeira saída para Vila Chã, que se atravessa pela Rua das Corredouras. Entra-se em Moreiró e segue-se para a praia - as sinalizações do Castro de São Paio começam a surgir. Chegados à praia de Moreiró, a do Castro de São Paio é a vizinha do Sul e sem acesso directo, pelo que o carro deverá ficar por ali.