Fugas - Viagens

Adriano Miranda

Omã - Deserto, incenso e luxo

Por Maria João Guimarães e Sofia Lorena

No Sul do país há incenso para queimar e chiclete de incenso. Mas os encantos de Omã não se resumem aos aromas: há fortes portugueses em Mascate, a capital, há praias, montanha e deserto. A Fugas deixou-se inebriar pelos cheiros mas também se deslumbrou com a arquitectura do sultanato

Ao entrar no avião para regressar de Salalah, no Sul de Omã, ainda se sente um certo cheiro a incenso no ar. É o mesmo cheiro que está nos sacos que vieram do souk, com potes de misturas de aromas, queimadores de incenso, ou kohl negro para os olhos; é o mesmo cheiro que está na mala, na carteira, e até no dinheiro.

É um aroma suave e doce, apesar de omnipresente. Salalah é, afinal, a terra do incenso, do verdadeiro, o que foi levado pelos reis magos pelo nascimento de Jesus, a par da mirra e do ouro.

O souk de Salalah é dedicado então ao incenso, com variedades da mais pura e cara à mais popular e acessível, em cristais ou em misturas várias. Há também incenso em goma, uma massa branca e espalmada feita com a seiva da árvore do incenso, uma espécie de pastilha elástica.

Há várias alas mais dedicadas às misturas aromáticas, com mulheres sentadas à frente das bancas do mercado com alguidares e panelas ao lume, misturando cuidadosamente o incenso com madeiras asiáticas ou essências vindas da Europa, tudo com a ajuda de açúcar derretido que, deitado por cima de carvão incandescente, deixa um aroma delicioso.

Uma das mulheres conta que já está neste mercado há mais de 40 anos. É ela que orienta o processo mas já tem um ajudante não consegue mexer já a panela com os ingredientes para a sua mistura, esmagá-los com o pilão ou passá-los cuidadosamente pela peneira.

Salalah vive muito do incenso o principal museu local é dedicado ao seu comércio ao longo dos tempos mas não só: é muito concorrida de Julho a Setembro, a época da monção, quando muitos árabes de outros locais do Golfo querem escapar do calor intenso.

Mascate, a cidade dos prémios

Omã é um sultanato localizado no extremo sudeste da Península Arábica, que reclama várias diferenças em relação aos seus vizinhos (Iémen, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita) da forma de vestir dos omanitas até ao modo como misturam tradição e modernidade, algo de que os omanitas têm especial orgulho.

Um dos exemplos de mistura saudável de tradição e modernidade é Mascate. A capital que, nos anos 1970, quando o actual sultão Qaboos sucedeu ao seu pai depois de um golpe pacífico, tinha uma estrada de asfalto com sete quilómetros e ocupava apenas uma pequena parte entre muralhas, que ainda hoje existem e nas quais está o Palácio do Sultão, com uma arquitectura improvável (que vale a viagem de carro ou táxi). Uma turista fotografa-o e pergunta: "Já ouviram falar do Gaudí? Estes candeeiros são iguais!" Não são, mas o palácio é de facto um sítio único em Omã. Perto do palácio estão dois fortes "portugueses".

Hoje Mascate ocupa uma grande extensão a grande Mascate, porque a cidade está no fundo divida em três, cada uma separada pela geografia das outras. Uma das mais encantadoras zonas da capital é Al-Matrah, onde está o famoso souk. O mercado é visitado por turistas mas tem muitos habitantes locais a fazerem as suas compras, e alguns só a passear. Turistas alemãs examinam tecidos ao lado de mulheres locais. Os tectos são de madeira e têm alguns vitrais; os produtos à venda vão desde a tradicional adaga que os omanitas colocam à cintura ao inevitável queimador de incenso.

À venda há, claro, produtos feitos em todo o lado do mundo (ou melhor, todo o lado da Ásia) mas ainda muitos tradicionalmente omanitas no entanto, é necessário ter atenção à proveniência do que se compra. O incenso é vendido em sacos de cristais que depois são colocados por cima de pedaços de carvão ardente, em pequenos queimadores que também se vendem em todo o lado.

Os produtos de prata de Omã são grandes, grandes colares e pulseiras, de mão ou de pé, de metal baço, trabalhado, com espaço para lá guardar coisas desde a enorme pulseira de pé que chocalha ao andar ao pequeno "dedal" para guardar o kohl com que são pintados os olhos.

O perfume é outro dos produtos-estrela locais tudo é perfumado. Os homens embebem em perfume uma espécie de borla na sua túnica (dishdasha). No souk, há ainda a destacar as lojas de tecidos e brocados para aplicar nos vestidos ou abaias, e os cheiros das bancas de especiarias.

Na zona de Matrah, para além do souk, há o chamado passeio da Cornija, de um lado com edifícios brancos, as grades pintadas de azul, uma, duas ou três mesquitas, e do outro lado o passeio com a baía, os barcos, alguns navios ainda de madeira, enfim, o mar. Mais à frente há a marina, a partir de onde se podem fazer passeios marítimos nos quais o avistamento de golfinhos é praticamente certo. Adiante, numa elevação perto do passeio marítimo, há um gigante queimador de incenso branco é um miradouro.

É tudo tão cuidado em Mascate que até os ares condicionados, omnipresentes por causa das altas temperaturas durante o Verão (a melhor época para visitar Omã será entre Outubro e Março), são escondidos por caixas brancas, com janelas em ogiva, ou caixas de madeira natural ou pintada da mesma cor que as janelas.

Mascate recebeu vários prémios de arquitectura (há locais onde as regras são estritas: só pode ser usado o branco ou bege e as casas não podem ter mais de quatro andares, e os edifícios comerciais ou de escritórios mais de seis), de limpeza (é uma cidade extremamente limpa), de paisagem, de embelezamento (é difícil dizer, mas pode ser pelas rotundas com bules de café trabalhados, ou pelo insólito parque infantil onde os escorregas foram substituídos por pequenas réplicas do Taj Mahal, da Torre Eiffel ou da Torre de Pisa?).

Outro momento insólito pode acontecer quando, ao passar pela zona de Qurm, da estrada se avistam casas brancas, os minaretes das mesquitas e de repente... um galo de Barcelos. Sinal da presença portuguesa? Não, sinal da presença de cadeias de fastfood como o Nando's, especializada em frango frito, que é uma empresa formada por um empresário luso sul-africano.

Sair da capital

Fora de Mascate, é possível voar sem gastar muito para Salalah, no Sul, ou para a península de Musandan, com as suas altas escarpas e famosa pelos barcos de contrabandistas que vêm do Irão. O Dubai também está perto aliás, os Emirados Árabes Unidos e Omã têm vistos conjuntos.

Para fazer visitas mais curtas, pode-se escolher Nizwa, a pouco mais de hora e meia de carro da capital. A principal atracção de Nizwa é o mercado do gado, à sexta-feira. Ao início, não parece nada de especial um mercado de gado. Mas é, de facto, um mercado como nenhum outro.

Chegam, às dezenas, camionetas de caixa aberta com cabras, cabritos, ovelhas, vacas e bezerros, atados com cordas ou ao colo dos vendedores, se forem pequenos. No recinto há vários pilaretes onde podem ser amarrados os bichos, e uma espécie de praça no centro, à volta da qual os donos circulam os animais para fazerem uma mistura de leilão com regateio. Às vezes há um animal mais empolgado que arremete contra a multidão, mas nada acontece. As vozes elevam-se, às vezes esganiçam-se, na tentativa de vender um pouco mais caro ou comprar mais barato. Há caras ofendidas com ofertas baixas e contentes com bons negócios.

Saindo deste mercado há um souk normal e o forte de Nizwa, que não é, no entanto, um dos "fortes portugueses", uma das marcas deixadas pelos 143 anos de domínio português de Omã, mas sim construído pelo líder omanita "famoso por ter expulsado os portugueses", Imam Sultan bin Saif bin Malik Ya'arubi.

Noite no deserto
Dormir debaixo de estrelas

Vamos dormir ao deserto? E pode-se ir, nessa mesma noite. As Wahiba Sands não intimidam nem envolvem grande logística. Estão ali, à mão de semear, na estrada entre Mascate e a cidade portuária de Sur. As agências que oferecem alojamento em campos podem apanhar quem se tiver decidido num qualquer ponto da estrada ou perto de Al-Mintirib, o acesso mais fácil. Também é possível ir sem guia (deve ir-se sempre em grupo, com mais do que um carro) e acampar debaixo de uma ou outra árvore ou entre dunas, mas aí é preciso pensar na logística. Sempre são 150 por 80 quilómetros sem estações de serviço: há os campos que organizam viagens e alojamento e há os beduínos, ocupados com a sua vida e que aos turistas só têm para oferecer o que fazem para vender (roupa, bijutaria tradicional, máscaras como as que as beduínas usam para proteger a pele do sol) e mostram enquanto servem café e tâmaras doces como o mel. Se a visita acontecer ao fi m do dia, também se garante que muitas crianças aparecerão para brincar de manhã há uma carrinha de caixa aberta que as leva à escola, para lá das dunas.

As Wahiba Sands não intimidam mas enchem as medidas. Dunas de areia branca e vermelha, assim mesmo, como se imagina, que podem ter mais de 100 metros. Os campos oferecem passeios de camelo, de jipe (para descer e subir dunas a uma velocidade só aconselhável a entendidos) e esqui na areia, para além das visitas aos acampamentos beduínos e dos passeios de camelo (que na verdade são dromedários e frequentemente dromedárias). Têm bungalows cobertos com folhas de palmeira e diante destes estrados para quem quiser dormir ao ar livre, casas de banho, duches e refeições. Há um calendário de corridas de camelos para assistir (os beduínos vivem de criar camelos) e ocasionalmente haverá animação musical, mas não é por isso que as Wahiba valem.

O que vale é mesmo isto: ter a sorte de chegar ao campo escolhido com quem se estiver e não encontrar lá mais ninguém (acontece); ir visitar os beduínos ao fi nal do dia; dormir no estrado a ver as estrelas e a sentir o fresco a chegar; acordar antes do sol e sair para um passeio de jipe sem perder tempo com um grande pequeno-almoço; passar pela carrinha das crianças a caminho das dunas maiores e dizer-lhes adeus; trepar a algumas dunas de jipe, descer outras a pé ou a rebolar, tentar a prancha; dar uma volta de camelo e regressar para um pequeno-almoço de reis que depois das dunas saberá a manjar de deuses.

Al Areesh Desert Camp
http://www.desert-discovery.com/

Sofia Lorena

Hotéis de luxo em Omã

Shangri-La

O Shangri-La é bastante isolado do resto de Mascate, num cenário de inóspitas elevações de terra e com uma paisagem onde não se distingue onde acaba o azul do mar e começa o do céu. Tem nome asiático mas os clientes parecem ser todos europeus: famílias, reformados, casais com crianças.
O Shangri-La não é um hotel mas um complexo de hotéis: são três edifícios, dois são hotéis de cinco estrelas e o terceiro de seis. Chamam-se "o castelo", "a cidade" e "o oásis"; todos têm a praia aos pés.
Há uma piscina que se multiplica em várias, com pontes por cima de canais. Uma outra, uma espécie de lago, tem água do mar que surge bombeada e não directamente da praia privativa do hotel e vários canais onde algumas pessoas andam em pequenos barcos. O mar está lá à frente mas é a piscina que está cheia. É um hotel luxuoso, no sentido típico do luxo lobby com carpetes pesadas, quadros, uma bela extensão de praia privada.
Duplos desde 290 euros por noite
www.shangri-la.com

Chedi

O luxo árabe encontra o minimalismo japonês. O Chedi é sem dúvida um hotel de luxo, mas não do trabalhado e excessivo luxo árabe. Há ogivas, há formas arabescas, há alguns desenhos, mas tudo em cores neutras, e muito sóbrio. Logo à entrada, a recepção divide-se em dois balcões, cada um do seu lado de quem entra, num espaço na semi-escuridão. Depois passa-se para uma ampla sala-tenda com um enorme sofá-colchão e almofadas.
Nos restaurantes do hotel há salas divididas conforme o tipo de cozinha, e os cozinheiros trabalham no meio de um balcão onde é possível comer e ver o que está a ser cozinhado. Uma montra exibe pastelaria quase ao estilo de uma casa de Viena (mas com bolos menos trabalhados). No bar ouve-se Thievery Corporation e quase não há crianças a chapinhar na piscina de mármore preto, nem na praia privativa, nem na segunda piscina, que está numa posição estudada de modo a que quem está a nadar possa olhar para o lado e ter a ilusão de que esta se funde no mar.
Duplos desde 380 euros por noite
www.ghmhotels.com/

Al-Bustan

O Al-Bustan Palace InterContinental de Mascate já teve fama de ser um dos melhores hotéis do mundo e dele ainda se diz que tem um dos melhores lobbies: tecto alto e trabalhado, como a cúpula de uma mesquita, azul e branco, uma fonte no centro. Feito o check-in, o único conselho é estar-se de férias. Devia ser ilegal viajar em trabalho e ficar num hotel com um spa a perder de vista, praia privativa (basta espetar a bandeirinha na areia para se ser servido), court de ténis, piscinas à escolha, todo o tipo de actividades náuticas como opção, jardins onde apetece ficar, quartos de um conforto que não apetece deixar, pequeno-almoço divinal, restaurantes europeu, asiáticos e omanita, café árabe de almofadas e cachimbos de água para as noites que serão sempre quentes...
O Al-Bustan é luxo e é conforto e nem tudo no Al-Bustan é para todos e isso também é um luxo. Construído em 1985 para uma cimeira do Conselho de Cooperação do Golfo, o hotel erguido com o mar diante e uma montanha atrás tem seis alas cada uma serviu para receber um Chefe de Estado e o último andar de cada manteve-se encerrado, à espera do regresso de um emir ou rei. As chaves não estão lá, garantem-nos, mas no palácio do sultão. E o que há do outro lado? Ouro, prata, marfins... Outro luxo.
Duplos entre 250 e 1200 euros
http://www.ichotelsgroup.com/
S.L.

Dicas

Informações

Omã é um país muçulmano e religioso. O Ministério do Turismo aconselha a que se respeitem alguns preceitos, como ter os ombros e os joelhos cobertos. Os omanitas em geral não exigem, sugerem, e normalmente com um sorriso. De qualquer modo, há muitos turistas, especialmente em Mascate, de calções ou alças. Mas a roupa mais confortável para este tipo de calor é a de algodão ou linho, larga, e que cobre braços e pernas.

Praia

Alguns guias dizem para as mulheres se cobrirem se forem a praias públicas, que não as dos hotéis. No turismo dizem-nos que não, e que é perfeitamente aceitável usar biquíni na praia. Mas o que poderá acontecer é ser a única de biquíni ou a única mulher na praia, que pode ainda a certas horas ter bastantes homens a jogar futebol. Aqui, as raras omanitas que se vêem a tomar banho no mar estão completamente vestidas.

Mesquitas

Não é permitido a não muçulmanos entrar nas mesquitas de Omã, com uma grande excepção a mesquita do Sultão Qaboos, em Mascate. Imponente, inaugurada em 2001 e uma das maiores mesquitas do mundo, com os seus cinco minaretes simbolizando os cinco pilares do islão, vale sobretudo pelo seu interior, que pode ser visitado por turistas (tirando alguns dias especiais e à sexta-feira). Ao entrar na mesquita, atravessa-se o pátio e deixam-se os sapatos. A enorme sala de oração (pode acolher 6700 fiéis) é uma obra de arte, com a carpete persa artesanal que levou cinco anos de trabalho de 600 iranianas para fazerem os 1,7 milhões de nós (pesa 27 toneladas), o candeeiro de 5,8 toneladas de cristais Swarovski e 1200 lâmpadas, e onde se cruzam vários estilos islâmicos e o tradicional omanita. Há depois uma outra sala de oração exclusiva para as mulheres. As cores, as formas dos candeeiros, falam mais para as mulheres, explica um dos guias. Entre a carpete tradicional e a madeira trabalhada, um pormenor de tecnologia: dois ecrãs LCD nas paredes para que elas possam ver celebrações em dias especiais.

Quando ir

A melhor altura para visitar Omã é entre Novembro e Março, quando as temperaturas médias rondam os 25ºC. No resto do ano, as temperaturas muito elevadas.

Como ir

A TAP e a Qatar Airways voam para Mascate, via Londres e Doha, por 616 euros, já com taxas incluídas (preço de ida e volta).

A Fugas viajou a convite do Ministério de Informação de Omã.

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