Fugas - Viagens

Xcaret fica a duas horas de Cancún

Xcaret fica a duas horas de Cancún Gerardo Garcia/Reuters

Xcaret - Todo o México num parque ecológico

Por Ana Rita Faria

Vestígios dos maias, o azul-turquesa das Caraíbas, a fauna e a flora luxuriantes, o folclore e a cultura que misturam tradições de milénios com a herança espanhola. A Fugas foi conhecer um lugar onde se encontram todos estes pedaços do mesmo país

Quando se viaja com pouco tempo disponível, há escolhas difíceis que têm de se fazer. Algumas obrigam mesmo a sermos aparentemente loucos e deixarmos de ir ver uma das novas sete maravilhas do mundo a cidade-templo da civilização maia Chichen Itza para passar o dia em Xcaret, publicitado como o melhor parque natural temático do México.

Nas duas horas de caminho de Cancún até Xcaret, revi mentalmente esta opção. Cheguei quase ao ponto de me arrepender quando o guia aproveitou a viagem de autocarro para vender dezenas de máquinas fotográficas que funcionam debaixo de água "100 pesos mais baratas do que dentro do parque". Mas há loucuras que acabam por compensar - esta foi uma delas. Em língua maia, Xcaret significa "pequena enseada". Durante mais de um milénio, foi um dos portos e centros de comércio mais importantes da cultura maia na costa oriental da Península do Iucatão, mais conhecida em todo o mundo por albergar a fervilhante Cancún. Hoje, conserva os traços dessa época, com vestígios arqueológicos a despontar da frondosa vegetação do parque, que se estende por mais de 80 hectares.

Mas as pirâmides são apenas uma pequena parte das atracções de Xcaret. Além de actividades de mergulho para todos os gostos, o parque alberga um autêntico zoológico, com golfinhos, raias, lontras, tartarugas gigantes, flamingos, borboletas e até mesmo jaguares e pumas. Há ainda um espectáculo cultural imperdível, a réplica de uma vila maia e de um cemitério mexicano, que parece saído da imaginação de Gaudí.

Antes de nos embrenharmos no parque, um pequeno aviso à navegação: não comprar a viagem e o bilhete de entrada em Xcaret nas agências de viagem ou nos hotéis. Se estiver alojado em Cancún, basta apanhar um autocarro até ao centro, aguentar 30 ou 40 minutos de viagem a ver apenas hotéis pela janela e fazer negócio numa das inúmeras banquinhas de rua que vendem excursões. O segredo, como em tudo o resto que queira comprar no México, é regatear. Eu paguei 1200 pesos (perto de 65€) para a viagem, a entrada no parque, algumas actividades em Xcaret e o jantar.

Um mundo debaixo de água

A terra onde hoje está o parque de Xcaret foi comprada em 1984 pelo arquitecto Miguel Quintana Pali, que queria construir a sua casa de sonho na pequena enseada, de frente para a segunda maior barreira de corais do mundo. Só que, à medida que foi desbravando o terreno, Miguel Pali descobriu vários cenotes, buracos no solo que se formaram devido à dissolução química de rochas calcárias e que estão inundados de água, formando autênticos rios subterrâneos.

O arquitecto viu ali um potencial que poderia ser aproveitado para o turismo e começou a trabalhar na ideia de um parque ecológico. Os vestígios arqueológicos da cultura maia completaram o projecto e Miguel Pali decidiu "reconstruir" as pirâmides, o campo do jogo da pelota e outras estruturas que herdou ao comprar o terreno. Formados há vários milhares de anos durante épocas de baixo nível do mar decorrentes de períodos glaciares, os rios subterrâneos são uma das principais maravilhas naturais da Península do Iucatão. No total, haverá mais de 300 cenotes espalhados pelo território, muitos dos quais incorporados em parques naturais, como o de Xel Ha ou com excursões turísticas, como a Coba. Usados como reservas de água pelos Maias, serviam também para realizar cerimónias e rituais de sacrifício.

Em Xcaret, o percurso pelos rios (feito com coletes salva-vidas e equipamento de snorkelling para mergulhar à superfície da água) atravessa o parque de um lado ao outro para desaguar no mar turquesa das Caraíbas. Este contacto entre a água salgada e a água doce, que não acontece em todos os cenotes, gera efeitos visuais pouco comuns. Além disso, como a água do mar é mais densa do que a do rio, há cenotes onde, a partir de determinada profundidade, a água passa de doce a salgada, mesmo que a vários quilómetros da costa.

Geralmente, o percurso pelos rios subterrâneos já está incluído na factura da excursão a Xcaret. O mesmo não acontece com as outras actividades aquáticas, desde um simples tour de snorkelling até conviver debaixo de água com tubarões, raias e golfinhos. E nem sequer é preciso saber nadar. Basta colocar uma espécie de capacete de astronauta e simplesmente andar debaixo de água a observar a vida marinha.

No caso dos golfinhos, há sítios bem mais baratos em que se pode nadar ao lado destes mamíferos. Mas Xcaret garantiu um direito exclusivo: é o único sítio do mundo onde o visitante pode nadar com a mãe e a cria. Além disso, bateu recentemente o recorde do Guiness por ser o parque onde se reproduzem mais golfinhos a nível mundial.

Para quem se sente mais à vontade dentro de água e quer experimentar sensações mais fortes, a melhor opção é o tour snuba nos recifes. Na enseada de Xcaret apanha-se um barco até ao segundo maior recife de coral do mundo, onde iremos mergulhar a sete metros de profundidade. A garrafa de oxigénio fica à superfície, em pequenas bóias, e bombeia o ar ao longo de uma mangueira. Isso permite mergulhar a alguma profundidade sem o peso de um equipamento de mergulho. E, claro está, serpentear agilmente entre esqueletos de algas e peixes que disputam prémios de cor.

História nos pés e no canto

Só com um almoço à pressa, muito trabalho de pés e um esforço sobre-humano para não ceder à tentação de mergulhar nas límpidas águas do mar (excepto para fazer o tour snuba) é que se consegue ver o parque todo num único dia. Mas se 24 horas forem mesmo tudo o que se tem, há erros evitáveis. Um deles é ter menos de uma hora para ver a zona que recria a antiga vila maia.

No meio da densa vegetação, há cabanas de madeira e palha com camas de rede ou esteiras no chão, cestas de frutas tropicais estiradas à porta e pequenas jangadas a deambular pelo rio. O traço de vida é dado pelos artesãos, que meticulosamente fazem os bordados brancos, as coloridas mantas mexicanas ou os colares de inspiração indígena.

Mais adiante, com vista sobre o mar das Caraíbas, ergue-se a capela de São Francisco de Assis, com fachada mas sem paredes, onde todos os domingos se reza a missa. Aos pés da capela, uma nova elevação de terra, repleta de casas e igrejas tipicamente mexicanas, em ponto pequeno. Parece uma exposição, um "México dos Pequeninos", mas à medida que nos aproximamos gera-se um misto de assombro e encanto. O monte cheio de casas é, na realidade, um cemitério mexicano e, sem dúvida, uma das atracções imperdíveis de Xcaret.

Falta a última atracção. Aquela que, além de turistas, atrai mexicanos de vários pontos do país e é considerada o melhor espectáculo cultural na Península do Iucatão. Com capacidade para 600 pessoas, o teatro Gran Tlachco recebe todas as noites mais de 300 actores, músicos, cantores e bailarinos que, em duas horas, enredam o público na história do México e nas suas manifestações culturais ao longo de milénios.

O espectáculo inclui a representação de várias danças mexicanas e do folclore do país, além de recriar o encontro entre o mundo maia e espanhol, na altura da descoberta do México e da sua colonização. Entre os pontos altos da noite está a exibição dos homens-pássaro. Presos pelos pés a cordas no cimo de um poste, os chamados voadores de Papantla precipitam-se de cabeça para baixo em manobras acrobáticas e círculos no ar, recriando um antigo ritual pré-hispânico. Mas nem mesmo os homens-pássaro superam a recriação do jogo da pelota.

Este desporto remonta a 3500 anos e é considerado o antecedente do futebol. Com uma diferença: em vez dos pés, os jogadores usavam as ancas para atirar a bola. Além de ser um espectáculo visual fantástico, a recriação do jogo desperta no público o mesmo entusiasmo com que hoje vemos uma partida de futebol. E, no caso do jogo da pelota em chamas, poderia dizer-se que a emoção é ainda maior.

Com tacos semelhantes ao que são usados actualmente no hóquei, esta variação do jogo milenar faz-se com uma bola em chamas. A par de uma vertente lúdica, muitas destas partidas envolviam rituais de sacrifício.

Mesmo encerrando em grande o dia em Xcaret, a jornada sabe a pouco e só apetece voltar no dia seguinte. Mas, quando o tempo escasseia, é preciso fazer opções. E, claro, se tivesse um dia a mais, teria de cumprir a tradição e ir a Chichen Itza. Com maravilhas naturais e culturais a saltar por todos os poros, o México não dá margem de manobra ao "erro" de revisitar o mesmo sítio.

Club Med de Cancún
O oásis que se deu ao luxo de ter uma hora própria

Seria apenas mais um das centenas de hotéis espalhados ao longo da língua de areia de Cancún, que se estende por mais de 20 quilómetros. Mas o privilégio de ter sido um dos primeiros hotéis a abrir portas na cidade, há 33 anos, dá-lhe uma vantagem única em termos de localização. De um lado a lagoa, do outro o mar das Caraíbas e a segunda maior barreira de corais do mundo. E, sobretudo, uma distância razoável do amontoado de hotéis que domina a paisagem desta agitada e fervilhante estância balnear mexicana.

A preocupação de marcar a diferença foi tanta que o Club Med criou mesmo um fuso horário próprio para esta unidade. Sim, leu bem. O village de Cancun Yucatan tem uma hora a mais em relação a Cancún. Tudo para que os hóspedes possam usufruir de mais uma hora de sol à tarde e ficar a descansar mais um pouco de manhã. E, para quem conseguir resistir ao apelo da praia e do mar, a hora extra de sol dá realmente jeito para aproveitar todas as outras actividades que o Club Med tem para oferecer.

Somando tudo, uma semana não chegaria para esgotar o rol de opções, desde mergulho, esqui náutico e windsurf a aulas de trapézio, ténis, voleibol e ioga. Os bebés, crianças e adolescentes têm espaços próprios, onde podem entreter-se enquanto os pais aproveitam para se esticar ao sol ou fazer umas massagens no spa.

O conceito do village é, por isso, muito familiar e foi precisamente esta orientação que o Club Med lhe quis dar há quatro anos, aquando da renovação completa do hotel, na sequência da destruição provocada pelo furacão Wilma. Mas, apesar de pensado para receber pais e filhos, o village de Cancun Yucatan tem agora à disposição um conceito mais exclusivo.

O espaço JADE, de cinco tridentes (a classificação "inventada" pelo Club Med para definir as "estrelas" das suas unidades hoteleiras), abriu em meados de Outubro do ano passado. O edifício de dois andares erguido à beira-mar oferece suites exclusivas e serviços à medida, que vão desde prendas de boas-vindas (uma garrafa de champagne Moët & Chandon, por exemplo), computador com acesso grátis à Internet até serviço de quarto para todas as refeições, que inclui alguns pecados gastronómicos como caviar, foie gras e cauda de lavagante.

A completar o cenário de luxo privativo, o espaço da piscina, exclusivo para os hóspedes do JADE, com as suas redes de corda e camas orientais dispersas pela areia, convida ao descanso à beira-mar.

Frequentado sobretudo por americanos, canadianos e franceses, o village de Cancun Yucatan enche-se de animação à noite, com espectáculos no palco do teatro, seguidos de danças coreografadas que reúnem todas as gerações de hóspedes na praça junto ao bar principal. Para terminar a noite, há o night club com bandas ao vivo e DJ.

Num hotel onde, à semelhança dos outros Club Med, o conceito de tudo incluído é lei, difícil mesmo é optar entre os três restaurantes à disposição (Hacienda, Pergola e Cazuelas) e os deliciosos cocktails e bebidas mexicanas. Dentro deste Club Med, a única despesa que poderá ter de somar à conta final são as massagens no spa e as excursões que decidir reservar com a agência do hotel.

Opções não faltam. Ao todo, o espaço Descoberta do village propõe 18 excursões para explorar a região, que incluem a visita às cidades arqueológicas de Coba e Tulum, o passeio à Isla Mujeres em veleiro, a viagem no tempo a Chichen Itza ou o contacto com a reserva da biosfera Sian Ka'na, a maior zona natural marinha protegida do México, classificada como Património Mundial pela UNESCO.

Só há um problema: é preciso reunir-se um grupo relativamente grande (um mínimo de cinco a seis pessoas) para ir nas excursões. E, embora não faltem locais interessantes para conhecer na Península do Iucatão, nem sempre é fácil assegurar um número mínimo de participantes. É que, embebidos pelas mordomias e pelas ofertas disponíveis, muitos hóspedes do Club Med nem chegam a transpor as fronteiras do village.

Coco-Bongo, a noite inesperada de Cancún

Quando se falou em sair à noite em Cancun, o nome Coco Bongo foi o primeiro a vir à baila. Foi descrito como o melhor destino para uma saída nocturna na cidade, como um espectáculo verdadeiramente assombroso, que não teria paralelo nem sequer em Las Vegas (para mim, isso não diria grande coisa, já que não conheço a famosa Meca do jogo).

Mesmo com a desconfiança com que sempre reajo a estes entusiasmos, fui. Desembolsei o equivalente a 50 euros, com uma única promessa garantida: bar aberto. E, admito, não estava à espera do que vi.

Com capacidade para 1800 pessoas, o Coco Bongo não impressiona pela dimensão, pela decoração ou mesmo pela música. O que arrepia são os shows de performance e imitação de estrelas como Beyoncé, Michael Jackson e Elvis Presley, os acrobatas que de um momento para o outro sobrevoam o tecto, os empregados de bar que descem o corrimão com seis tabuleiros empilhados cheios de copos de shot. Sem deixar cair uma gota, obviamente.

Os dois ecrãs gigantes por detrás do palco passam imagens atrás de imagens, curtos vídeos e até videoclips, cujas coreografias são milimetricamente imitadas pelos dançarinos no palco. Não faltam lutas entre o Homem-Aranha e o seu arqui-rival, nem um duplo de Jim Carrey no filme A Máscara, que está repleto de cenas filmadas no Coco Bongo.

A completar a festa, vapores de ar frio varrem a pista e confetis e balões são lançados do tecto. Depois das três da manhã, a pista fica livre para dançar. Sem acrobatas no ar e homens-aranha em cima do bar mas, dizem os noctívagos, com os melhores DJ de Cancún.

Como ir

Actualmente, não há nenhuma companhia a realizar ligações directas e regulares entre Lisboa e Cancún. A solução é esperar por voos charter que se costumam realizar no Verão ou fazer escala em outro país. A Air Europa, por exemplo, tem quatro voos por semana (terças, quintas, sábados e domingos) entre Lisboa e Cancún (via Madrid) desde 861 euros.

Onde ficar

O que não falta são opções para uma estadia em Cancún mas, se viajar na altura do Verão, o melhor é reservar com antecedência porque, apesar de a oferta ser grande, há tendência para esgotar. Uma das opções é o Club Med Cancun Yucatan. Aqui, uma estadia de sete noites, em regime de tudo incluído, fica a partir de 2130 euros por pessoa (já com viagem incluída).

A Fugas viajou a convite do Club Med e da Air Europa

--%>