Fugas - Viagens

Ilha de Santiago

Ilha de Santiago Paulo Pimenta

Cidade Velha de Cabo Verde na rota do património mundial

Por Margarida Gomes

A Cidade Velha, na ilha de Santiago, classificada pela Unesco, pôs o arquipélago no mapa-mundo dos lugares com História. A Fugas foi constatar o efeito do título junto da população

É uma das mais recentes jóias "descobertas" pela UNESCO. A mítica Cidade Velha, na Ilha de Santiago (Praia), berço da nacionalidade cabo-verdiana, foi recentemente classificada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) Património Mundial da Humanidade. A atribuição desta distinção, que projectou Cabo Verde para o mapa histórico-cultural do mundo, é o resultado do trabalho de preparação da candidatura desenvolvido desde 2000 pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira.

Berço da cultura e da nação cabo-verdiana, a Cidade Velha tem as suas raízes e o seu desenvolvimento associados ao tráfico de escravos. Um vasto conjunto de edifícios (muitos deles religiosos) recheados de pedaços da história de Cabo Verde empresta a esta cidade um simbolismo que ultrapassa as fronteiras do arquipélago, projectando-o para o mundo. Muito deste património, porém, foi-se desmoronando, por um lado, devido aos sucessivos ataques que fustigavam a cidade, mas também pelo abandono a que o próprio património foi votado ao longo dos tempos.

A data de 1712 é o ano de todos os saques. Piratas franceses, sob o comando de Jacques Cassard, invadiram a cidade e saquearam muitos dos seus edifícios, deixando um rasto de destruição em quase todos. A Sé Catedral, um dos edifícios mais emblemáticos e imponentes do período colonial, ainda hoje evidencia essa destruição.

Símbolo da identidade nacional

Um dos lugares de visita obrigatória é, agora, a Fortaleza Real de S. Filipe. Mandada construir em 1597, pelo rei Filipe II de Espanha (I de Portugal), a fortaleza domina a cidade do alto de 120 metros e é considerada um marco na história da cidade. No centro do edifício de traça renascentista existe uma cisterna coberta por uma cúpula semiesférica de tijolo, que servia para armazenar a água. À esquerda da cisterna, encontra-se o armazém de pólvora e munição e, mesmo em frente, a residência do governador, a caserna e a capela.

No âmbito de um protocolo entre o Governo de Cabo Verde e a Agência Espanhola e de Cooperação, a fortaleza real passou por um processo de reabilitação. Em Novembro de 1999, foi (re) inaugurada e, sete anos depois, a rainha Sofia de Espanha visitou a fortaleza, que actualmente é o único edifício militar digno desse nome existente em Cabo Verde, sendo também visto como um símbolo da identidade histórica nacional.

Também a Sé Catedral, como atrás referimos, não resistiu à fúria dos piratas franceses. Grande parte da riqueza da catedral, a única no país, desapareceu na sequência da investida no início de Setecentos; depois, foi a decadência. As ruínas foram, entretanto, consolidadas, e hoje estão expostas a céu aberto. Quem visita estes vestígios da catedral não consegue ficar indiferente à dimensão que ela ainda ostenta, mas o que mais chama a atenção é o facto de haver, com alguma frequência, roupa a secar ali ao lado. Indiferentes ao património, os moradores do bairro de São Sebastião acham o cenário "normal" e "natural".

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma obra do século XV, e o Convento/Igreja de S. Francisco, do século XVII, são dois outros edifícios que evidenciam a importância da história da Cidade Velha. Personagens como Vasco da Gama, Cristóvão Colombo ou o Padre António Vieira, entre outros, visitaram a primeira. Ao contrário da Sé Catedral, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, mandada construir em 1493 por iniciativa da Confraria dos Homens Pretos da Cidade, está bem conservada. Começou por ser uma capela "gótica", mas acabaria por ser ampliada, dando assim lugar ao templo que hoje existe. No chão da nave encontram-se lápides tumulares com inscrições e brasões de nobres, contemporâneos do reinado dos Filipes de Espanha.

Concebido para acolher os religiosos franciscanos recém-chegados à ilha de Santiago e que vieram substituir os jesuítas na Missão de Cabo Verde, o Convento de S. Francisco foi mandado construir por uma mulher rica, natural daquela ilha. Depois de concluído, foi utilizado como lugar de cultura mas também como centro de formação, uma vez que era ali que os padres ministravam as aulas e ensinavam os ofícios. Também este monumento não escapou à escalada de saques de Jacques Cassard: os piratas roubaram tudo o que ali havia de valioso, incluindo o sino da igreja.

Rua Banana inspirou um filme

Trata-se da mais antiga rua da África Subsariana e dos trópicos. Urbanizada pelos europeus, a Rua Banana é, sem dúvida, um dos locais a incluir nos roteiros de qualquer turista que visite a ilha. As casas apresentam-se todas alinhadas nas mais diversas cores, e muitas delas estão rodeadas de bananeiras, mangueiras e mamoeiros (que dão a papaia). Paralela a esta, existe a Rua Carreira, com idêntica tipologia urbanística e construtiva. É uma paisagem acolhedora que dificilmente se apaga da memória de quem a visita. Aqui encontramos conjuntos habitacionais com moradias cobertas de palha. Em 1545, um navegador anónimo escreveu que a cidade "tinha mais de 500 residências com boas casas de pedras e cal, onde moravam inumeráveis fidalgos castelhanos e portugueses". Os fidalgos cederam lugar ao povo e, hoje, estas casas são ocupadas por gente humilde, que cuida delas com todo o brio.

Os moradores da Rua Banana, ou melhor, a forma como se relacionam e organizam, foram o tema de um documentário realizado em 2007 pelo cineasta cabo-verdiano Mário Benvindo Cabral. O seu propósito, explicou, foi mostrar ao mundo a Cidade Velha. Fê-lo recolhendo depoimentos e testemunhos de personagens reais, os moradores, que falam na primeira pessoa sobre o seu quotidiano e sobre a distinção da UNESCO. As figuras mais destacadas da comunidade contam histórias que valorizam o berço da nação cabo-verdiana; outras, porém, questionam a importância dessa distinção. Mas todos eles reconhecem no galardão o maior acontecimento em Cabo Verde dos últimos tempos, significando o reconhecimento da grandeza da "criolidade" da terra, como declarou o ministro da Cultura, Manuel Veiga.

Aposta turística
Grupo Oásis projecta novos investimentos em Cabo Verde

Os tempos de crise não parecem ofuscar a estratégia que o Grupo Oásis Atlântico tem para consolidar a posição que ocupa há já vários anos em Cabo Verde no sector hoteleiro, onde é o maior investidor.

Com sede na ilha de Santiago, este grupo económico conta já com oito anos de crescimento na área do turismo e imobiliária, e tem por objectivo investir em países de língua portuguesa seguindo um modelo de turismo sustentado em relação à envolvente ambiental, social e cultural.

O grupo tem vários projectos na calha, mas a principal fatia do investimento vai actualmente para a ilha do Sal. Seguir-se-ão a Cidade da Praia e a ilha da Boavista, que tem uma linha de praias com dunas de areia branca com 55kms.

Em Santa Maria, o maior ponto turístico da ilha do Sal, já arrancou a construção do SalinasSea, um aparthotel de cinco estrelas, em plena linha de mar. É uma aposta num produto misto, imobiliário e hoteleiro. Mas há outro projecto associado a este: o SalinasSand (500 quartos), que, no entanto, só avançará quando o SalinasSea estiver a funcionar.

Bruno Solas, do departamento comercial do Grupo Oásis Atlântico, prevê a abertura do novo hotel para 2012-13.

Em Santa Maria, o grupo conta já com duas unidades de quatro estrelas: o Hotel & Resort Belorizonte e o Novorizonte, ambos na primeira linha de mar.

Os outros projectos passam pela ilha da Boavista, com um "resort" na Praia de Chaves ( já aprovado pelas entidades governamentais) e um hotel de charme (100 quartos) em Sal Rei.

A Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, faz também parte do mapa de prioridades do Oásis, que aí espera construir um hotel de 5 estrelas (100 camas) num terreno de que dispõe perto do Praiamar. Mas o projecto mais imediato é a remodelação e ampliação do actual hotel, com mais 30 a 40 quartos, fazendo assim crescer o número actual de 123 quartos.

O primeiro hotel construído pelo grupo em Cabo Verde, o Porto-Grande, foi em S. Vicente. Este empreendimento vai agora ser ampliado, para ficar a ter mais 25 quartos. Para uma segunda fase, fica a construção de uma torre com mais 75 quartos. A estratégia do Oásis Atlântico passa, assim, por reforçar a oferta de camas que a entrada em funcionamento do novo Aeroporto Internacional de S. Vicente vai potenciar. Adiada por diversas vezes, a inauguração do aeroporto é agora aguardada com grande expectativa pelos operadores turísticos que esperam que desta vez o aeroporto comece a operar ainda este ano.

Com uma estratégia bem definida, o Oásis Atlântico pretende continuar a crescer, fazendo "aumentar de forma significativa" a sua dimensão hoteleira, não só nas várias ilhas do arquipélago como em novos estados do Brasil, por exemplo. "O aumento da procura de Cabo Verde enquanto destino turístico nos últimos anos permitirá valorizar e concretizar o desenvolvimento destes projectos imobiliários, fazendo estes parte de um mercado em forte ascensão e crescimento, muito próximo da Europa e complementar às Ilhas Canárias", diz Bruno Solas.

Mas há outros investidores com os olhos postos no arquipélago. O grupo espanhol Iberostar, em parceria com um investidor italiano, tem em fase de acabamento um hotel de quatro estrelas na Ilha da Boavista, mesmo em frente à praia de Chaves. O investidor é italiano, mas a gestão e exploração vão ser asseguradas pela Iberostar por um período de 20 anos. Este "resort" com 276 quatros e três suites tem inauguração marcada para 7 de Dezembro. Trata-se do primeiro hotel ligado a este grupo em Cabo Verde, mas tudo indica que não será o último. Para a praia de Santa Mónica, considerada uma das mais bonitas, está já projectada a construção de um "resort" com cinco hotéis.

Festa
Entremares lança pacotes de Reveillon para o Sal e Boavista

Já a pensar no calendário festivo que se aproxima, o operador turístico Entremares lançou um pacote especial de fim de ano para as ilhas do Sal e da Boavista com a contratação praticamente integral de um novo voo aos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), que sairá de Lisboa no dia de Natal ao final do dia. Também do aeroporto de Lisboa partirá, no dia seguinte, um segundo voo para o Sal, com regresso para 2 de Janeiro.

Quem escolher passar o Reveillon na Ilha da Boavista, um destino que o operador decidiu retomar agora, tem um voo a partir de Lisboa no dia 27 de Dezembro, com regresso a 1 de Janeiro de 2010. Neste caso concreto, o operador anunciou que vai ter um pacote especial de fim de ano com o novo hotel de quatro estrelas da rede Iberostar na ilha da Boavista, que tem a inauguração prevista para 7 de Dezembro. O preço base é de 1.075 euros por pessoa, em quarto duplo para cinco noites e em regime de tudo incluído. A gala de passagem de ano está, obviamente, contemplada.

No total são três voos, dois para o Sal e um para a Ilha da Boavista, totalizando 610 lugares. Embora o voo do dia 25 seja para o Sal, há a possibilidade de os passageiros passarem a noite de 25 para 26 de Dezembro na ilha, seguindo depois para a Boavista, regressando ao Sal no final do dia 1 de Janeiro, para embarcarem para Lisboa na madrugada de 2 de Janeiro.

No caso da Boavista, este programa de Reveillon assinala o regresso do operador àquela rota (que inaugurou no Verão de 2008), mas a Entremares já deixou perceber que pretende dar continuidade à operação para lá desta época específica.

Onde ficar

Hotel Belorizonte
Ilha do Sal
Composto por 173 "bungalows", construídos em primeira linha sobre a praia de Santa Marta e com 60 quartos mais amplos, este hotel (4 estrelas) conta com um restaurante "à la carte", um restaurante buffet, dois snack-bar, quatro piscinas (duas infantis), um jacuzzi, um kids club e uma sala de conferências para 150 pessoas.

Hotel Sabura
Ilha do Sal
Com design simples e arquitectura zen, onde os espaços abertos são privilegiados, este hotel tem 40 quartos duplos e oito suites, um restaurante e um bar com esplanada. Dispõe de duas salas de descanso e de convívio com terraços exteriores. Este empreendimento é da empresa Extuca, responsável pela administração e gestão de outros complexos turísticos.

Hotel Praiamar
Ilha de Santiago
Sobre a falésia rodeada pelo mar, na zona mais nobre da Cidade da Praia, situa-se o Praiamar, um dos hotéis mais procurados por homens de negócio. Ao todo, tem 124 quartos (23 standard, 97 superiores e mais quatro suites, uma suite presidencial). José Castilho, director-geral do Grupo Oásis em Cabo Verde, destaca a comodidade que a suite presidencial apresenta e é com orgulho que fala das muitas personalidades que por ali passaram, desde a Rainha Sofia de Espanha a Cesária Évora, mas também Mobuto Sese Seko, Nino Vieira e, claro, o primeiro-ministro português José Sócrates.
O Praia-Mar dispõe de um restaurante com comida nacional e internacional, dois snack-bar, uma piscina para adultos e outra para crianças, um jacuzzi, ginásio, sauna e campo de ténis. Para a área de negócios, o hotel conta tem um auditório e um Business Center para 250 pessoas. A título de curiosidade, refira-se que o Praiamar passou a disponibilizar um centro de mergulho que se encontra a funcionar em pleno.

Locais a visitar

Pedra de Lume
É a mais antiga povoação do Sal e foi aqui que foi construído o primeiro porto da ilha. Com apenas 289 habitantes, esta povoação, formada por famílias de ex-trabalhadores das salinas, que moram nas filas de casas construídas na época do comércio do sal, parece ter parado no tempo, mantendo-se praticamente inalterada nos últimos 50 anos. À excepção da igrejinha que lá foi construída no século XIX, toda esta zona é uma enorme mancha de degradação. Vêem-se muitos barracões abandonados e em ruínas e as instalações de transporte por cabo e ensacamento de sal apresentam um estado avançado de degradação.

Salinas de Pedra de Lume
Situadas na cratera de um antigo vulcão, as salinas estão hoje convertidas na principal atracção turística da zona. O acesso faz-se por um túnel artificial que separa dois mundos. O túnel foi mandado construir em 1804 pelo empresário Manuel António Martins, o principal responsável pela exploração comercial intensiva destas salinas. Consideradas recentemente como paisagem protegida, as salinas são um testemunho da arqueologia industrial e constituem uma das poucas zonas húmidas do arquipélago e o melhor lugar da ilha para a observação de aves aquáticas.

Buracona
Tal como o nome sugere, é um enorme buraco, uma piscina natural com 20 metros de profundidade, incrustada na lava negra das rochas sobranceiras ao mar. Bem perto, situa-se outra piscina subterrânea, que se alcança mergulhando através de um buraco no chão. A buracona fica a noroeste da ilha, em Ponta Bicuda, e é um dos locais mais visitados sendo também paisagem protegida.

O que comer

A cachupa, espécie de feijoada local, e o atum quase rivalizam. Restaurante que se preze, capricha no carpaccio de atum. Mas o peixe seco é também uma especialidade.

O que comprar

O grogue, uma aguardente feita de cana do açúcar, ponche, uma bebida licorosa produzida através do grogue, e vinho chã. De cor citrina, aroma fresco e frutado, o vinho chã (da ilha do Fogo) tem características muito particulares: as suas uvas são originárias do solo vulcânico. Contém minerais e potássio, que lhe conferem um sabor exótico, produzindo efeitos relaxantes a quem o bebe. De alto teor alcoólico (14º graus), este vinho pode ser apreciado como aperitivo ou acompanhando pratos de marisco, peixe e carnes brancas.

A Fugas viajou a convite da Entremares

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