Dar a volta à Índia pode não ser a mais incomum de todas as aventuras, mas dar a volta à Índia num sidecar já se aproxima mais disso. Para Inácio Rozeira e Helena Pimentel, a Índia era um destino "evidente". Queriam fazer uma viagem longa e, ao darem a volta ao país, darem também a volta às suas vidas. Um dia, num café do Porto, Inácio teve a ideia de o fazerem numa mota. "Eu nunca tinha andado de mota, tinha medo de andar de mota", lembra Helena, daí que para ela era simples: "Só se for com aquela coisinha ao lado". E Inácio respondeu: "Isso é um sidecar, Leninha". Estava decidido.
Cinco meses, oito mil quilómetros. De Deli rumo ao ponto mais a sul da Índia, Kanyakumari, regressando pela costa leste, com passagens em Calcutá, Damão, Goa e Cochim, até voltar de novo a Deli. Tudo em cima de uma Royal Enfield 360 cc, de 1966, com sidecar, que compraram já na Índia.
A Índia não era uma novidade para eles - já conheciam a cultura e os costumes do país. Dormiram em hotéis (quando possível "aqueles junto às estações, que são os mais baratos"), fizeram couch surfing uma vez, ficaram numa casa privada outra. Para Helena Pimentel, o momento que mais a marcou foi a entrada em Bombaim, os 50 quilómetros que fez por meio de bairros de lata, e o "contraste" entre este momento e a cidade de que tanto gostam. Momentos maus? "Existiram, mas nunca foram suficientes para pôr a viagem em causa", garantiu Inácio, e acrescentou: "Dormimos na rua porque a mota avariou".
Pelo caminho, o casal de namorados do Porto foi alimentando um blogue com imagens e relatos diários: "Queríamos partilhar a nossa experiência". E a partilha teve mesmo algumas formas especiais, como a "oferta de emoções": as pessoas podiam pedir para enviarem mensagens em vídeo personalizadas (de parabéns ou de Bom Natal, por exemplo) directamente da Índia, e em troca contribuíam com alguns euros para a viagem. E, mais peculiar, adoptaram uma cadela que encontraram abandonada. A Kashi fez a viagem no sidecar e deve chegar a Portugal nos próximos dias, depois de cumprir uma quarentena na Índia. As despesas para a trazer foram tantas que lançaram um programa no site de contribuição para o regresso da Kashi. Juntaram já 750 euros.
O casal garante que viajar não é tão caro como se pensa: "Gastamos mais ou menos o mesmo que gastaríamos se estivéssemos aqui, a pagar uma renda e afins", contou Inácio Rozeira, guia de viagens na empresa Nomad. E, também por isso, já estão a programar a próxima viagem: no final de 2012 devem iniciar a volta à América do Sul na carrinha da VW, que ficou conhecida como pão de forma.
Site oficial: www.daravolta.com