A Disneyland Paris é como uma goma, daquelas que crianças e gulosos tanto cobiçam. É muito colorida, muito doce, deliciosamente artificial e, por tudo isso, com valor nutricional zero. Como um adulto que tenta refrear a gula impiedosa de uma criança por um doce, sabendo que o excesso de açúcar a vai pôr a saltar como uma bola de pingue-pongue, há que abordar uma visita aos parques Disney de Paris com alguma disciplina, sem no entanto esquecer que a ideia é diversão pueril para todas as idades.
Como sobreviver, então, à Disneyland? Com crianças na bagagem, a tarefa duplica de dificuldade. Por um lado, são dezenas de carrosséis, atracções, personagens prontas para a "photo-opportunity" e lojas (muitas lojas). Ou seja, estímulos constantes. Juntem-se ao cocktail as esperas em longas filas, a vontade de "andar outra vez" e o regresso à fila, as condições meteorológicas mais ou menos impiedosas, a alimentação e bebidas caras e a pouca protecção contra os elementos (poucas coberturas, faça chuva ou faça sol) para ser fácil imaginar uma visita frustrante. Para os miúdos, sobreexcitados, frustrados por não terem andado nos tapetes do Aladino ou simplesmente vergados pelo cansaço, e para os outros pais em stress, adolescentes enfadados, no fundo famílias à beira de um ataque de nervos.
Este é o "worst case scenario". Que é possível, mas evitável. Numa palavra, repetida até à exaustão, a solução é planear, planear, planear. Pode parecer incoerente ir armado de horários, itinerários e selecções por prioridade para se enlevar com a Bela Adormecida ou conviver com Tico e Teco e companhia, mas não só isso vai poupar tempo e nervos, como há-de garantir que cada um dos membros do grupo em visita (quanto maior, mais se aplicam estas "regras da casa") cumpra pelo menos um par de objectivos/sonhos Disney.
A saber que há dois parques -Disney Studios, mais voltado para os efeitos especiais, os espectáculos de duplos, mas também com diversões e paradas; e o Disneyland, este último o que mora no imaginário público, com o castelo da Bela Adormecida, a Space Mountain à la Júlio Verne e os Piratas das Caraíbas. São lado a lado, no complexo Disneyland Resort (inclui hotéis Disney), e o primeiro é mais pequeno e por isso mais rápido a visitar. O ideal para uma visita é guardar pelo menos um dia para cada parque, com mais energia para o Disneyland (maior e com mais confusão), embora muito dependa dos objectivos de cada turista-Disney.
1. Planear, seleccionar, visitar
O site da Disneyland Paris permite-lhe fazer um itinerário à medida para quem quer gritar em montanhas-russas e simuladores, para famílias que querem um pouco de tudo e para crianças. Cada atracção está identificada nos guias dos dois parques com simbologia que permite ver quais as mais perigosas, as mais indicadas para crianças, as que as podem assustar (como Honey, I Shrunk The Audience ou Branca de Neve e os Sete Anões por causa do medo do escuro dos mais pequenos) e as que não deixam entrar miúdos com alturas inferiores a uma certa medida.
Os pais ou acompanhantes de crianças podem sentir-se pouco livres para dar um pulo à Space Mountain 2 enquanto os mais pequenos esperam, mas o parque tem um serviço, o Baby Switch, que permite que um dos pais se divirta de cada vez, sem perder o lugar na fila.
É útil usar os programas, disponíveis à entrada de cada parque por serem alterados a cada 20 dias, para saber horários das paradas, desfiles e espectáculos especiais, além de locais e horários das personagens disponíveis para autógrafos e fotografias. Espectáculos como o Rei Leão são sujeitos a limites de espaço, pelo que é necessário obter bilhetes com antecedência.
Sabendo de antemão as atracções mais procuradas, é útil chegar de manhã cedo aos parques. Seja para andar ou para retirar o Fastpass (ver ponto 3).
2. Filas: como não desesperar
Na praça central do Disneyland e do Disney Studios há um painel de informações com algumas das atracções mais populares e os respectivos tempos de espera. Quando a FUGAS esteve nos parques, numa segunda-feira do início de Abril, sem férias escolares ou feriados especiais, a enchente era significativa. E isto depois de uma noite de nevão. E os tempos de espera eram a condizer.
Para o Peter Pan's Flight, uma viagem para crianças muito procurada, logo de manhã a espera era de 25 minutos na fila. E para a muito cobiçada Big Thunder Mountain, uma montanha-russa à imagem das minas do velho Oeste norte-americano sem grandes sustos e que deixa os miúdos felizes da vida, a espera era de 40 minutos.
É uma manobra de sobrevivência básica ler os programas de ambos os parques no dia anterior para saber quais são as atracções que considera imperdíveis e tentar concentrar as viagens que fiquem nas mesmas zonas do parque Disneyland: Adventureland, onde estão os Piratas das Caraíbas, a montanha russa Indiana Jones and The Temple of Peril, o barco do Capitão Gancho; Frontierland, com a Mansão Fantasma (bem produzida, mas muito infantil e sem ponta de susto), o barco Mark Twain para uma viagem em torno do lago, e a Big Thunder Mountain; Fantasyland, logo a abrir com o castelo da Bela Adormecida (apenas um espaço de primeiro andar com interiores decorados, sem filas) e com diversões sobretudo para os miúdos -Dumbo, Labirinto de Alice, os comboios da Branca de Neve e Pinóquio; e, por fim, a Discoveryland (que corresponde ao que nos parques americanos é a Tomorrowland), um espaço de homenagem a visionários como Júlio Verne (Space Mountain, Mistérios do Nautilus), mas também George Lucas (simulador Star Tours, baseado na "Guerra das Estrelas") ou o muito Disney Buzz Lightyear.
3. Fastpass
O Fastpass existe em ambos os parques e aplica-se a grande parte das atracções mais procuradas.
Basta obter o Fastpass (gratuito) em cada atracção. Em espaços devidamente assinalados, estão as máquinas em que se insere o bilhete geral e de onde se retira o Fastpass relativo àquele carrossel ou viagem. O bilhete Fastpass dita a hora à qual o visitante deve regressar para entrar sem esperar em longas filas na respectiva diversão. O Fastpass poupa mesmo tempo. No parque Disneyland, Peter Pan's Flight, Star Tours, Space Mountain 2, Autopia, Buzz Lightyear Laser Blast, Big Thunder Mountain e Indiana Jones and the Temple of Peril são as únicas que têm Fastpass. Os Piratas das Caraíbas não têm Fastpass, mas o sistema de entradas é bastante rápido e escoa com facilidade.
Já no Studios, há Fastpass na Tower of Terror, na Rock ‘n' Roller Coaster dos Aerosmith (loopings ao som de músicas do grupo norte-americano) e no infantil Tapetes Voadores de Aladino.
Para as diversões sem Fastpass mas muito concorridas, há sempre estratégias. Se a visita durar mais do que um dia, pode aproveitar a parada (às 17h00) e rumar aos Piratas das Caraíbas ou tentar a sorte dos mais pequenos no carrossel de Dumbo.
Se quiser assistir à parada (uma sucessão de carros alegóricos com personagens e cheiros), basta consultar o itinerário da mesma nos mapas dos parques para ver onde ela vai passar e aproveitar para planear, durante a espera (30 minutos antes as pessoas começam a juntar-se ao longo das ruas para marcar lugar), quais os próximos alvos.
4. Comer, beber e dormir
É mais fácil dizer quando se deve evitar ir à Disneyland Paris do que quando deve ir, embora para quem vá com crianças em idade escolar isso possa ser difícil de cumprir. O Verão, o Natal, qualquer altura de férias escolares (Páscoa, Carnaval, feriados) e agora também o Dia das Bruxas são as alturas em que há enchentes nos parques. Fins-desemana e dias adjacentes (segundas e sextas) são também dias mais movimentados, sobretudo por visitantes franceses ou de países próximos. Os dias menos cheios, dizem os visitantes experientes e alguns guias, são mesmo as terças e as quintas-feiras.
Para comer, há quatro opções: restaurantes caros, para os quais é essencial fazer reservas; restaurantes em regime buffet, ligeiramente mais baratos (24 euros/ adulto, 11 euros/criança, por exemplo); fast-food (menus a rondar os seis euros) e bancas de cachorros quentes, pretzels, crepes e batatas fritas; ou traga-você-mesmo. Não é permitido fazer piqueniques na Disneyland Paris, mas se parar num banquinho e tirar uma sandes e uma garrafa de água da mala para comer ninguém o vai incomodar.
Por falar em água, atenção aos preços. No interior dos parques, uma garrafa de 0,75 cl custa 2,70 euros. Uma cola de 50 cl custa 2,60 euros. Um algodão-doce custa 3,5 euros. E um pacote de pipocas normal 3,40 se quiser copo Disney de recordação, as pipocas vão custar-lhe 6,90 euros. O mais barato (e o que mais se vê nas mãos dos visitantes à hora de almoço) é o pacote de batata frita, a 50 cêntimos.
Quanto a horários, a partir das 12h00, a corrida aos restaurantes e bancas começa. As filas aqui são como as dos carrosséis, mas sem Fastpass que o salvem. Até às 14h00, é cada um por si filas, fome e cansaço fruto de hipoglicémia são uma combinação explosiva. Levar um lanche ou um pacotinho de bolachas é essencial.
Para dormir, o que não falta são hotéis na Disneyland Paris. Mas, na maioria dos casos, os preços são proibitivos (sempre acima dos 200 euros por noite). O melhor é incluir a dormida no pacote da viagem. Por exemplo, um programa de cinco dias(quatro noites) para dois adultos e uma criança com menos de sete anos, com viagem de avião, alojamento e entradas nos parques, custa cerca de 1350 euros (Agência Abreu)
5. Abrigos
Se chover ou fizer muito calor, há atracções a aproveitar nos picos da canícula ou do frio. It's a small world (Fantasyland) é um cruzeiro interior, o barco Mark Twain Thunder Mesa Riverboat (Frontierland) é uma oportunidade de se sentar, embora sem grande abrigo para o frio. Já nos Disney Studios, há um único espaço abrigado para além das galerias de comes, bebes e compras da entrada um chapéu-de-chuva alegórico, frente à montra de tributo ao filme Os Chapéus-de-chuva de Cherbourg.
Em caso de chuvada, o espectáculo de cinema Cinémagique é uma protecção dos elementos, e o mesmo é válido para o Animagique. Na verdade, o Studios oferece sobretudo diversões cobertas, portos seguros desde que não encontre filas muito longas. É o caso do novo Stitch Live, um espectáculo inaugurado em Março, e de Crush's Coaster, inspirado em "À Procura de Nemo" e que é uma autêntica aventura para o estômago. O mesmo não acontece com as voltinhas no Cars Race Rally, quase toda a descoberto, ou na parada High School Musical on Tour, que quando chove muito é mesmo cancelada.
No caso de estar prevista chuva, o melhor é levar um impermeável ou um chapéu-de-chuva como precaução. A alternativa é comprar capas Mickey nos quiosques dos parques, que custam seis euros para crianças e oito na versão adultos.
Para o calor, nada como (ainda no Studios) a Studio Tram Tour, que oferece uma visita sentada e por vezes molhada aos bastidores do Catastrophe Canyon.
6. Compras
Mal se entra nos parques Disney, a pulsão consumista acorda. Aliás, mesmo antes de entrar. A Disney Village, uma rua com restaurantes de comida rápida, um Planet Hollywood, um diner à americana e um inenarrável espectáculo de jantar com búfalos e cavalos, o Buffalo Bill's Wild West Show (menus 59 euros adulto, 45 euros criança), está enfeitada com lojas Disney. Depois, à entrada do parque Disneyland, toda a praça central e Main Street USA é uma colectânea de lojas e espaços de doces e gelados, muitas das vezes interligadas no interior apesar de por fora parecerem independentes. O mesmo acontece nos Studios, com quiosques e lojas um pouco a cada canto. A saber que, apesar de a maioria das lojas ter mais ou menos os mesmos produtos (Mickey, Minnie e mais Mickey, além de Stitch e Buzz Lightyear), há algumas que se distinguem. A loja do castelo de Cinderela tem enfeites de Natal Disney o ano inteiro, ao lado de uma oficina de trabalhos em vidro, por exemplo.
A torre do terror
Não cheira a velho, nem a novo. A nova atracção Tower of Terror, construída de raiz e baseada num velhinho e nunca transmitido episódio de "A Quinta Dimensão" (Twilight Zone) está pensada para nos fazer recuar. À infância e aos instintos mais primários, quando caímos 13 andares a pique num elevador que se abre no topo, fazendo pensar que pairamos no vazio. E ao final da década de 1939, dada a decoração do Hollywood Tower Hotel, com peças art-déco vintage.
A Tower of Terror é uma das mais bem recriadas diversões do parque (encontra-se situada no parque Walt Disney Studios), por estar recheada de genuínos adereços dos anos 30, desde os tapetes aos móveis, vasculhados em feiras da ladra e antiquários, passando pela música da época.
Notas finais
O mundo Disneyland Paris é uma babel, mas o francês é a língua preferencial. É também um espaço de infantilização. A todo o momento passam crianças a correr com orelhas de Mickey ou de Stitch, mas também adultos orgulhosos dos seus chapéus em forma de bolo de aniversário ou boinas à la Donald de tamanho gigante. As meninas adoram o look princesa (há salas no Hotel Disneyland reservadas à transformação Princesa por um Dia) e toda, mas mesmo toda a gente, adora ser parada para ser fotografada. A música de encantar está por todo o lado e há um evento especial, diário e perto das 20h00, em que se acendem as luzes do castelo de Cinderela, a Candlebration. É como um gigantesco Carnaval o ano inteiro.
Preços
Os preços de entrada nos parques incluem ingressos para todas as atracções, mas não incluem refeições. Visitar um só parque custa 49 euros. Um bilhete de um só dia fica em 41 euros. Preços para os dois parques, para adultos e para crianças: um dia 59 e 51 euros; dois dias 108 e 92 euros; três dias 134 e 114 euros; quatro dias 156 e 133 euros; cinco dias 167 e 142 euros. Se acrescentar 30 euros a qualquer um destes bilhetes, pode optar pelo bilhete anual.
Os jornalistas da FUGAS viajaram a convite da Disney Paris e da Air France