Fugas - Viagens

Patrícia Carvalho

A pé pelos Picos da Europa

Por Patrícia Carvalho

Patrícia Carvalho estreou-se nas caminhadas pela montanha com 35 quilómetros em dois dias. Sofreu um bocadinho, é verdade, mas as paisagens inesquecíveis das Astúrias, com desfiladeiros fantasmagóricos e prados com tapetes de verde fresco, compensaram todas as dores nas pernas. Uma longa caminhada pelos Picos da Europa.

O dia amanhece com cara de chuva e há nuvens baixas e cinzentas a cobrir parcialmente a paisagem. Sobre elas, vêem-se os topos das montanhas que nos aguardam, para o primeiro dia de caminhada nos Picos da Europa, Espanha. Não sabemos se estamos preparados, mas sabemos que temos de ir. Mesmo que a perspectiva de chuva nos deixe o sobrolho um pouco mais franzido. Não há-de ser nada. Dissemos que sim, que íamos experimentar fazer duas caminhadas em dois dias nos Picos, depois de nos garantirem que a maior parte dos participantes já tinha passado os 50 e que as caminhadas eram fáceis apesar de a primeira ser bastante longa.

"Mas não tem grandes desníveis, é planinha", dissera o senhor Freitas. Acreditámos, calçámos as botas, metemos o impermeável na mochila, ao lado do chapéu e do protector solar, vestimos uma camisola polar por cima da t-shirt (porque, se não sabemos muito sobre os Picos da Europa sabemos, pelo menos, que o tempo lá em cima muda de forma brusca) e juntamo-nos ao grupo. Não há-de ser nada, suspiramos.


Poncebos Caín Poncebos | 24 km

A primeira parte do caminho não custa nada: é de camioneta. De Cangas de Onís até Poncebos, com uma breve paragem em Arenas de Cabrales, para algumas pessoas comprarem mantimentos para o dia, vamos confortavelmente sentados, a observar a paisagem pela janela. O caminho é uma amostra perfeita das Astúrias.

Verde e mais verde, a desenrolarse em prados molhados e nas encostas de montanhas enrugadas, encavalitadas umas sobre as outras. Pequenos povoados de casas de dois pisos e sardinheiras a enfeitar varandas e janelas. Rios baixos de seixos redondos e águas límpidas a cortar os campos.

Em Arenas de Cabrales ninguém arrisca abastecer-se do produto que tornou a localidade "mundialmente conhecida", conforme garante uma das brochuras distribuídas no posto de turismo local o queijo. Diz-se dele que é forte e muito, muito mal cheiroso. Para nós, a vila é usada pela sua outra característica mais famosa, a de ser "uma das principais entradas dos Picos da Europa, um dos parques nacionais mais visitados em Espanha", como elucida a mesma brochura.

Apesar de nos termos levantado às 7h30, só começamos a caminhar três horas depois e, por essa altura, já toda a gente está ansiosa por pôr os pés ao caminho.

A camioneta deixa-nos perto do início do trilho, e logo ali, refastelado na berma da estrada, junto a um sinal de perigo com a imagem de pedras a desprenderse da rocha (e que irá ser uma companhia constante ao longo de todo o trilho), está um rebeco, espécie de cabra montês, que é também o símbolo dos Picos da Europa. Deixa-se estar, impassível, enquanto passam por ele os primeiros grupos de caminheiros.

O mesmo faz outro membro da espécie, quando espreitamos o rio Cares, verde-azul-turquesa, a correr a umas dezenas de metros abaixo do nível da estrada. O rebeco olha-nos, patas assentes na encosta escarpada como se fosse uma planície, e não se mexe um milímetro.

Começamos a andar, cheios de energia, e vamos em frente, por onde o caminho é plano. Mas o senhor Freitas chama-nos, com um grito. "Ei, é por aqui. Temos de estar atentos aos sinais." Nós temos desculpa. Afinal, ele dissera que o caminho era longo mas planinho e o sítio por onde quer que nos embrenhemos é uma estrada estreita de pedra, que sobe numa inclinação um pouco aflitiva. E que tem na base uma grande placar a avisar "Atenção! Rota Perigosa. Desprendimentos e queda de pedras em todo o percurso, ao longo de barrancos sem protecção lateral. Proibido circular de bicicleta." Ora bem.

Então vai ser assim? Parece que sim, porque há uma seta junto ao aviso que indica que a Rota de Cares é mesmo por ali. Que Caín, onde vamos parar para almoçar, antes de regressarmos, pelo mesmo percurso, fica a 12 quilómetros e que devemos demorar uma três horas a lá chegar.

Começamos a subir, pensando que o senhor Freitas bem nos enganou com a história do "planinho". E que aquela malta com ar de ter mais de 50 vai equipada com paus e bastões para os ajudar a caminhar e tem ar de quem faz isto umas três vezes por mês, com uma perna às costas. Ainda assim, subimos. E, no primeiro troço do caminho, não vamos mentir, sobese um bom pedaço. Arfamos e arquejamos, tiramos rapidamente o impermeável, porque, afinal, não chove e já estamos cheios de calor, empurramos o corpo para a frente e tiramos a camisola polar, porque já não a aguentamos.

O vale, aqui, é aberto. Há flores coloridas e selvagens pelo caminho estreito, que rapidamente deixa de ser de pedra para se transformar em terra batida salpicada de pedras soltas. O rio Cares é um fiozinho de água lá em baixo. O nosso grupo, já incompleto, de 41 pessoas (algumas senhoras optaram por ir passear para Bulnes e Cabrales, em vez de vir suar e esfalfar as pernas como nós) começa a partir-se logo neste primeiro trecho. Há quem se adiante e quem fique bastante para trás. E há outras pessoas no trilho.

Cruzo-me com um casal britânico, de cabelos brancos e mãos dadas, que parou para descansar. Olham para a minha t-shirt de Machu Picchu e perguntam alegremente se lá estive. Sim, sim, confirmo. E eles? Também. E fizeram o trilho de quatro dias a pé, naquela altitude insuportável? Pois claro que sim. Eu não, rio-me, enquanto penso, pronto, lá desiludi os senhores, convencidos que tinham encontrado uma companheira andarilha. E vou-me embora, envergonhada, deixando-os para trás. A verdade é que só quero chegar depressa ao fim desta subida, porque todos me prometem que, depois, o trilho é, de facto, quase plano e muito mais fácil.

Aqui, a paisagem é de montanha pura, rugosa e nua. As paredes escarpadas sucedem-se umas às outras, cinzentas, e a vegetação é esporádica e muito rasteira. Quase como uma película fina que cobre pequenos trechos da rocha. Sob os nossos pés, o caminho está coberto de pequenas pedras soltas, que resvalam a qualquer descuido.

E temos a primeira visão da levada que nos há-de acompanhar ao longo do trilho às vezes numa cota inferior à nossa, outras vezes sobre as nossas cabeças, outras invisível aos nossos olhos, mas sempre lá. Quando está tão próxima que lhe podemos tocar, há avisos de perigo, por "águas rápidas", e sentimos, de facto, que aquele caudal poderoso, profundo e veloz seria capaz de nos arrastar montanha abaixo num abrir e fechar de olhos.

Depois da subida, há logo uma descida. Que não nos deixa muito sossegados, porque parece mais longa do que a subida e sabemos que no regresso a posição se inverte e teremos de a galgar já com as pernas muito mais cansadas. Um grupo de espanhóis com crianças trota à nossa volta e sentimos calafrios ao ver os miúdos saltitarem para uma rocha que se debruça sobre o desfiladeiro, oferecendo uma vista do Cares, se espreitarmos sobre a sua borda. Mais uma descida e, finalmente, abre-se aos nossos olhos o tal caminho plano, serpenteando ao longo do desfiladeiro, colado à parede rochosa de um lado e aberto sobre as encostas escarpadas do outro.

A parte mais plana do trilho recebe-nos com um dos sinais de perigo pelo desprendimento de pedras e uma espécie de toldos rochosos sobre as nossas cabeças, dos quais escorrem pingos intermitentes de água. Nesta altura já estamos completamente rendidos à beleza do local. O rio Cares corre sempre lá em baixo, e as nuvens, agora mais leves, continuam a fazer aparecer e desaparecer os topos das montanhas. O tempo acabou por estar perfeito: não chove, não faz demasiado calor, está óptimo para caminhar. Nós vamos andando sempre, sobre um caminho que às vezes permite seguir a par com algum companheiro e outras vezes nos obriga a seguir em fila indiana, porque a borda está demasiado próxima.

Sob arcos abertos nas rochas ou verdadeiros túneis de onde escorre água, que se acumula no chão e nos obriga a enfi ar os pés em poças frescas. Andando sempre. Sem darmos conta, deixamos a província das Astúrias e entramos na de Leão, à qual já pertence Caín. Um guia turístico famoso diz que seguir a direcção Poncebos-Caín permite "guardar o melhor para o fim". Percebemos o que quer dizer. A paisagem torna-se mais suave. As escarpas calcárias continuam lá, mas há mais verde.

Verdadeiros prados encavalitados nas paredes inclinadas. Uma queda de água. Rebecos saltitantes. Flores amarelas, brancas, rosa e violeta por todo o lado. Pontes que nos levam a cruzar o Cares de uma margem para a outra.

O rio que, sem sabermos como, de repente já não parece estar a centenas de metros de distância, mas apenas a algumas dezenas, e agora está mesmo ali ao lado e até podemos descer e molhar os pés. O desfiladeiro a tornar-se tão estreito que é como uma fenda aberta na rocha. E, depois, a desaparecer perante os nossos olhos, com o Cares a correr ao nosso lado e uma placa que diz que ali começa o trilho. Vemos uma ponte e pouco mais.

Arlindo, que se juntou a mim e a Licínia na última parte do caminho, brinca: "Vamos lá fazer os últimos 20 minutos." Estou tão cansada que acredito que ainda faltam 20 minutos para chegar a Caín, mas ao mesmo tempo penso se já só faltam 20 minutos para chegar a Caín. E então cruzamos a ponte, passamos por um pato, por gatos a apanhar sol e temos casas e um restaurante e uma esplanada com bancos corridos para nos sentarmos. E Caín, afinal, já é aqui. São 13h50. Demoramos mais 20 minutos do que as três horas previstas. Não é muito mau.

Somos assolados por sentimentos contraditórios. O alívio por ter chegado e podermos sentar-nos e comer e descansar. A certeza de que isto não é o fim e que temos de fazer todo o caminho de regresso. A convicção de que vamos conseguir regressar a Poncebos, apesar das dores nas pernas, e que não vai ser muito mau, porque agora, a parte mais difícil a subida e a descida marcará o fim do caminho, o está quase que nos obriga a resistir.

O grupo vai chegando aos poucos. Quando já comemos e descansámos ainda há gente a chegar. Não esperamos uns pelos outros. O primeiro grupo já iniciou o regresso. Nós saímos do restaurante às 14h51. Quando já abandonámos Caín há uns bons dez minutos, cruzamo-nos com um casal do grupo que ainda se dirige para a povoação. Ela leva um ar alucinado. "Prometem que só faltam dez minutos? É mesmo isso?"

É a sua estreia em caminhados, e há muito que manifestara a intenção de desistir e de voltar para trás. Outros fizeram-no. Mas o companheiro insistiu sempre para que continuasse, que já não faltava muito, que era só mais um bocadinho e que valia mesmo a pena. Naquela altura, ela parecia capaz de o matar com o bastão que leva nas mãos. Mas, mais tarde, quando termina o percurso e chega à camioneta, traz um sorriso largo e caminha com ar mais normal do que muitos outros, agastados com dores musculares. E, no dia seguinte, lá estava, pronta para outra.

O regresso é mais rápido. Cumprimos o trilho em três horas. São 17h50 quando chegamos à camioneta, depois de termos feito, em silêncio e doridos, o último trecho do caminho. Primeiro a subir desgraçadamente, depois a descer, tentando não escorregar nas pedras soltas, não acreditando que aparecem uns degraus de que já nos tínhamos esquecido, e gratos, muito gratos quando a estrada de asfalto está, de novo, sob os nossos pés e a camioneta tem as portas abertas para nos sentarmos e fugirmos do vento gelado que nos acompanhou em quase todo o regresso.

O desfiladeiro ficou para trás. Com a sua beleza fabulosa e fantasmagórica e deixando-nos com um respeito imenso pelos homens que abriram, com dificuldades incalculáveis, o caminho que o acompanha. O canal de alimentação da central hidroeléctrica de Camarmeña-Poncebos foi aberto entre 1916 e 1921, por cerca de 500 homens. Perderam-se onze vidas, em diferentes acidentes. O trilho que hoje é percorrido por milhares de turistas todos os anos resulta das obras realizadas entre 1945 e 1950, para garantir a manutenção do canal aberto previamente.

Estamos mortos de cansaço, mas muito gratos pelo dia que se escoa de forma rápida. Com quase 25 quilómetros nas pernas, queremos um banho, comer e dormir.


Fonte Dé -Espinama | 10,4 km

Acordamos à mesma hora. 7h30. O descanso, o banho de água quente e o spray analgésico que o senhor Cardoso emprestou fizeram o seu efeito. Mas as pernas ainda doem e nem sequer saltamos da cama.

Hoje, garantem-nos, o caminho é sempre a descer. O que não quer dizer exactamente fácil. Qualquer caminheiro experiente é capaz de dizer que prefere subir a descer. Nunca tinha percebido porquê. Até hoje.

A distância que vamos percorrer de camioneta é bem mais longa. Quase cem quilómetros, segundo informa o motorista. Parte do percurso é o mesmo do dia anterior, mas depois seguimos viagem e, durante cerca de 22 quilómetros, o trajecto é feito ao longo do desfiladeiro da Ermida. É território de pescadores. O desfiladeiro imponente ocupa toda a paisagem e nós passamos cá em baixo, pequeninos, colados ao rio Deva, com vários avisos de zona de pesca de trutas. A paisagem é de cortar a respiração e quase desejamos que o caminho não termine.

A bonita localidade de Potes, na Cantábria, com as suas ruas medievais, é o ponto escolhido para o abastecimento de água e pão. Mas a paragem é curta (havemos de ter mais meia hora por ali, no regresso) e seguimos viagem até Fonte Dé, bem conhecida dos turistas por ser o ponto de partida do teleférico que sobe directo à parede imponente da montanha, 753 metros mais acima, em menos de quatro minutos. Há algum nervosismo entre os participantes menos dados a viagens suspensas nas alturas. Mas, com os olhos mais ou menos abertos, todos se enfiam, à vez, dentro das cabines que só levam 20 pessoas (mais o condutor) e deixam-se levar, literalmente, até às nuvens.

Dizem que lá em cima a vista é deslumbrante. Não sabemos. O topo da montanha, onde o teleférico pára e que por isso se chama El Cable, está coberto de nuvens corredoras que deixam ver um ou outro pico, escondendo-o em seguida, ocultando o solo que deixámos há escassos minutos.

Lá em baixo, estávamos a 1070 metros de altitude. Estamos a 1823. Quando tivermos cumprido o percurso previsto e chegarmos a Espinama, teremos vencido um desnível de 1048 metros. Quase sempre a descer. Entre as Astúrias e a Cantábria, mas sem fronteira que nos indique onde termina uma e começa a outra.

A rota que vamos percorrer, denominada Puertos de Áliva, mostra-nos um lado completamente diferente dos Picos da Europa. Nada de desfiladeiros enrugados e estreitos, com rocha dura e rios longínquos. Estamos em território de vastos prados do alto de montanha, com tapetes de verde fresco, percorrido por cavalos selvagens, vacas de aspecto sadio e algumas cabras. Há restos de neve presos nos topos das montanhas, o que serve aos mais experientes para relembrar outros trilhos feitos no zona, com um manto branco e gelado a cobrir tudo.

Aqui, começamos por subir um pouco (nunca acreditem quando vos dizem que "é tudo planinho" ou "é sempre a descer"). As nuvens mantêm-se nos cumes, mas libertam o espaço em torno de nós e temos, quase sempre, o céu azul por companhia. Passamos pelo rosto sério do pico Peña Vieja, que não nos atreveríamos a tentar subir, e começamos a descida suave que nos há-de levar ao Hotel Áliva. No meio do verde cristalino, o telhado vermelho do Chalet Real (não consta que algum rei lá tenha ficado desde a visita de Afonso XIII, em 1912, para caçar rebecos) destaca-se como uma flor no meio da relva.

O edifício foi construído pela Real Companhia de Minas Asturianas, para servir de base aos engenheiros das minas, quando estas aindafuncionavam. Hoje, ao que se sabe, está fechado. Não nos aproximamos dele, mantendo-nos no trilho que o contorna, à distância, colocando-nos lado a lado com os cavalos selvagens e encaminhando-nos para o hotel. Artur já brincara muito com os cavalos selvagens, ao longo do percurso, dizendo a algumas companheiras de viagem: "Veja lá, não lhes faça festas que eles mordem." Não mordem. Todos querem tirar uma foto com os cavalos e eles não deixam que as pessoas se aproximem em demasia, mas também não desatam em fugas desenfreadas.

A caminhada, que começara às 13h40, vai continuar até às 16h34 (para mim), mas para já é tempo de parar na pousada e comer qualquer coisa. Não fosse o cansaço acumulado do dia anterior e o percurso até agora seria um belo e fácil passeio através de uma paisagem que mais nos faz lembrar a Suíça. Depois do descanso, continuamos, em direcção a mais cavalos, vacas e ovelhas. Há muitas pessoas no percurso, mas nada que se assemelhe aos meses de Julho e Agosto (fomos em meados de Junho), quando milhares de pessoas trilham osPicos da Europa.

A difi culdade real do caminho só se manifesta quando passamos uma espécie de portão de acesso aos prados e nos aproximamos dos Invernales de Iguedri, as antigas casas usadas pelos pastores no Inverno, à semelhança dos nossos brandeiros, e que hoje estão praticamente abandonadas. A partir daqui, o nível da descida acentua-se e as dores nos joelhos crescem. Os pés querem deslizar para a frente nas botas, se estas não estiverem bem presas, e os dedos começam a doer, pela força do impacto constante. É uma tortura, apesar de a paisagem continuar linda, e só queremos ver o fim do caminho.

Quando chegamos a Espinama estamos felizes, aliviados, com os olhos cheios de paisagens inesquecíveis e a precisar urgentemente de um gelado. Regina, que não fizera o trilho de Cares, já chegou e está sentada numa esplanada, de rosto vermelho. "Pensei que ia lá dentro buscar um gelado, mas ainda não tive forças para me levantar", sorri.

Eu cambaleio até ao gelado e sento-me no chão (já não há cadeiras) a saboreá-lo. Na hora de me levantar, vale-me a ajuda providencial de Avelino, que me estende a mão. Sim, porque se eu estou de rastos, há quem pareça ter sempre mais uma réstia de energia. Há por ali gente que foi operada aos joelhos e com problemas de anca. Até há quem esteja a recuperar de uma pneumonia recente. Mas, à noite, depois do jantar, quando é preciso vencer os três quilómetros que separam o centro de Cangas de Onís do nosso hotel, dizem adeus com a mão à camioneta e fazem o trajecto a pé. Lembro-me da minha avó, que diria: "Isto não é gente como nós." E sento-me na camioneta.

As caminhadas terminaram e temos pena. Mesmo que nos doam as pernas para lá do que julgávamos possível. Em dois dias, foram mais de 35 quilómetros percorridos a pé. Aguentámos e não nos arrependemos. E até podemos dizer que queremos mais.


Quando ir

Dizem que a Primavera e o final do Verão, início do Outono, são os melhores períodos, para tentar escapar à época alta das férias, quando milhares de pessoas se dirigem aos Picos da Europa e os trilhos se tornam demasiado movimentados para serem gozados com a calma necessária. Os rigores do Inverno também desaconselham os menos preparados a aventurar-se por ali.

Como ir

Pode visitar os Picos da Europa a título individual ou integrado num grupo. Há quem faça excursões que o vão levar às principais cidades e vilas, deixando-o subir no teleférico ou espreitar os lagos de Covadonga, mas sem experimentar verdadeiramente a montanha, percorrendo os seus trilhos. A Fugas viajou com o grupo de montanha do Académico Futebol Clube que, todos os meses, realiza pelo menos uma caminhada por diferentes paisagens do país ou no estrangeiro. Mas há outros amantes de caminhadas a propor viagens aosPicos da Europa. Uma pesquisa rápida no Google poderá elucidá-lo.

Precauções

O tempo nos Picos da Europa muda rapidamente e, por vezes, de forma violenta, pelo que é aconselhável estar sempre preparado para tudo. Leve protector solar, chapéu e óculos de sol, mas também um impermeável, e algo suficientemente quente para aguentar uma descidabrusca de temperatura. O calçado deve ser confortável e forte, para resistir ao solo rochoso e à chuva. E as botas devem ser muito bem apertadas (bata com o calcanhar no chão, puxando bem o pé para trás, antes de apertar os atacadores, firmemente, primeiro no penúltimo atilho e só depois no último), para evitar que os pés deslizem para a frente nas descidas, causando pisaduras nas unhas. Os bastões de caminhante também ajudam, sobretudo em solo mais solto ou nas descidas mais abruptas.

Aconselhamos, seriamente, que não se aventure na garganta de Cares se sofrer de vertigens. O trilho estreito, sem qualquer protecção sobre o desfiladeiro, não é aconselhável a quem tem medo de alturas. E, não se esqueça, mesmo,da máquina fotográfica.

A Fugas viajou a convite do Académico Futebol Clube 

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