Nunca estivemos tão perto de sentir na pele o que quer dizer ficar em terra. Chegamos em cima da hora a Port Canaveral, Florida, Estados Unidos, e somos praticamente os últimos a entrar no Monarch of the Seas, o barco de cruzeiro da Royal Caribbean onde nos vamos estrear nos mares. Aos nossos olhos de principiantes, parece-nos gigantesco, mas diz quem sabe que não, que este é um barco pequeno, um pouco antigo até, e que o circuito de três dias que vamos fazer até às Bahamas é ligeiramente atípico dentro do cardápio Royal Caribbean.
Connosco até às Bahamas vão 2582 passageiros, a maior parte muito mais experientes do que nós. O check in começou pela manhã e, pelo que podemos ver agora, às 16h30, no deck 12, esta malta chegou cedo e já trata o Monarch por tu. Nós estamos impacientes com a largada - está mesmo por um fio - mas quem está lá em baixo, junto à piscina, de biquíni vestido e bebidas na mão, parece não estar nem aí. A animação é total, a música está nas alturas e parte da tripulação está a ajudar à festa. A coisa promete. Ainda assim, não nos deixamos contagiar. Chegamo-nos à amurada para ver o Monarch afastar-se de terra e entrar em mar aberto. Para trás fica Port Canaveral e começa a nossa aventura marítima.
Está vento neste deck 12, mas aqui, numa espreguiçadeira virada exactamente para o sol, estamos (um pouco mais) a salvo da animação lá de baixo. Voltamos a observar a fauna e percebemos que o Monarch of the Seas é um cruzeiro para todos. Há famílias com crianças pequenas e casais apaixonados, mas os jovens barulhentos em busca de animação non stop em alto mar e em terra serão, talvez, o grupo que mais se destaca. Percebe-se porquê: este é um cruzeiro que sai de Port Canaveral à sexta à tarde rumo às Bahamas e está de regresso aos Estados Unidos na segunda pela manhã. Ou seja, é fácil passar um fim-de-semana sob o signo da diversão: sol, praia, música e muita comida e bebida. Ainda por cima, os preços são simpáticos. Posto isto, pensamos que quem nos disse que os cruzeiros são coisa de velhos enganou-nos.
Ficamos no deck 12 praticamente até o sol se pôr, porque antes do jantar ainda queremos espreitar os cantos à casa. Há de tudo e para (quase) todos os gostos a bordo: casino, claro está; bares que nunca mais acabam; ginásio e spa; salas de espectáculos; meia dúzia de lojas com descontos simpáticos; uma pequena biblioteca; e, detalhe importante para muito boa gente, comida à discrição a praticamente qualquer hora do dia. É fácil entreter o tempo a bordo, já se vê.
Mais não seja como o fazemos agora: passa das 22h e estamos na varanda do deck 7 à procura de estrelas no céu - não as vemos à primeira, está escuro como breu. Somos nós e o mar e isso agrada-nos na exacta medida em que nos assusta. Esta vai ser a nossa primeira noite com vista para todo um oceano.
Bahamas - ou talvez não
Sobrevivemos para contar a história. Acordamos às 7h30, corremos a cortina do camarote e damos de caras com um mar calmíssimo. Subimos para o pequeno-almoço e pela primeira vez temos a sensação que o barco pode ser um lugar calmo. A esta hora, as espreguiçadeiras junto à piscina estão praticamente vazias e podemos esticar-nos a ler sem que haja qualquer música de fundo.
Quase não damos por isso, mas estamos praticamente a chegar a Nassau, a capital das Bahamas, na ilha de New Providence. Ao fundo, já estão os edifícios coloniais coloridos que se oferecem à vista na frente marítima. O Monarch of the Seas atraca pelo meio-dia e menos de uma hora depois já estamos fora do barco.
Encontramos Carlyn Richardson - Richie para os amigos - mesmo junto ao porto. É no táxi dele que vamos passar as próximas horas. Antiga colónia britânica, as Bahamas (700 ilhas, apenas 30 e poucas habitadas) tornaram-se independentes em 1973. O arquipélago tem cerca de 321 mil habitantes, dois terços dos quais vivem nesta ilha de New Providence. Nassau é, naturalmente, a cidade mais populosa. Os edifícios coloniais são o seu elemento dominante, embora aqui e ali também haja vários exemplares de casas arruinadas, que emprestam à cidade um ar decadente.
Na carrinha de nove lugares de Richie vamos deitando olho ao que se desenrola lá fora. No centro de Nassau não há muita coisa para fazer, tirando espreitar a meia dúzia de edifícios históricos, dos quais se destaca o do Parlamento, construído entre 1805 e 1813. O grande chamariz para os turistas serão as lojas de algumas marcas internacionais que oferecem preços duty free. De resto, o Straw Market (mercado da palha, tradução literal) é também ponto de atracção para quem gosta de artesanato.
Deixamos o centro da cidade para trás e passamos agora por Junkanoo Beach, a praia que toma o nome a um dos principais festivais do país: Junkanoo é uma parada que acontece todos os anos a 26 de Dezembro e a 1 de Janeiro e que enche as ruas de artistas vários, desde acrobatas a tocadores de búzios.
E mais à frente paramos em Cable Beach, onde experimentamos pela primeira vez o mar das Bahamas. Cable Beach é isto: mar azul-turquesa, marginal bordejada de coqueiros e mansões de um milhão de dólares viradas para o Atlântico. Por falar num milhão de dólares, pode ser quanto baste para comprar alguma das várias ilhas ou ilhéus que formam o arquipélago - quem tiver dinheiro para isso pode tornar-se "vizinho" de Johny Depp, por exemplo.
Vamos em passo de corrida e deixamos para trás o forte de Nassau e as Escadas da Rainha. Pedimos a Richie que nos leve a um lugar, se é que ele existe, que não seja apenas para turista ver. Potters Cay é facilmente acessível a pé desde o centro da cidade e foi para nós o grande spot da capital. Junto ao mar, de um turquesa impossível, alinham-se vários bares e pequeníssimos restaurantes de madeira, onde os locais se encontram para beber Kalik (cerveja nacional) a acompanhar uma conch salad (10 dólares, 7 euros). Verdadeira instituição das Bahamas, é uma salada de búzio com tomate, cebola e pimento, temperada com sal, pimenta e sumo de lima e laranja. É feita na hora, o molusco retirado da concha no momento. Não é uma coisa por aí além, mas sabe bem e refresca.
O Monarch of the Seas zarpa pelas 23h30 e tínhamos planeado jantar em terra. Mudamos de ideias quando, às 17h30, procuramos um lugar para lanchar e percebemos que a vida pública de Nassau acaba a esta hora. Encontrar um café para uma cerveja e um snack é dificílimo. Acomodamo-nos no Señor Frog, um franchise plantado em cima do mar e repleto de americanos. Parece que não estamos nas Bahamas e lamentamos, mas percebemos melhor as coisas quando olhamos para as estatísticas: as ilhas recebem cinco milhões de turistas por ano, 85 por cento provenientes dos EUA.
Coco Cay, uma espécie de paraíso
Não jantamos em terra, portanto, e sendo assim estreamo-nos na noite de gala a bordo. E não esperávamos que a coisa fosse tão levada a sério: elas esmeram-se mesmo, usam vestidos compridos e saltos altíssimos, maquiam-se comme il faut e em alguns casos são penteadas por profissionais. De qualquer forma, daqui a nada encontrá-las-emos de sapatos na mão e já desgrenhadas, a dançar desenfreadamente hits dos anos 80.
Ao terceiro dia a bordo, chegamos a uma espécie de paraíso. O Monarch of the Seas pára ao largo e os passageiros são transportados numa embarcação mais pequena para Coco Cay, uma ilha privada da Royal Caribbean. Não há muito a dizer sobre o cenário, que é simplesmente de postal ilustrado. Coqueiros, areia branca e um mar que enfeitiça e está feito o sumário.
Pomos os pés em terra e o poder magnético do mar é quem mais ordena. Entramos e, oh heresia!, chegamos a pensar que está frio. Vamos avançando calmamente mar adentro - a maré está muito baixa -, com cuidado para evitarmos os restos de corais. Mergulhamos finalmente e rimo-nos de nós próprios: a água está tépida, sopa para quem vive no Norte de Portugal.
Por 16 dólares (11 euros), é possível alugar material de snorkelling para a totalidade das horas de permanência em Coco Cay (das 8h30 às 16h30). Esta é, aliás, a mais popular das actividades da ilha. Diz quem experimentou que vale muito a pena: os cardumes são abundantes, diversificados e coloridos, os corais também estão lá e há até um avião afundado para explorar (mas este tem mão humana).
De resto, Coco Cay tem meia dúzia de lojas de artesanato (não propriamente espectaculares, encontrámos apenas um sexagenário a esculpir belas máscaras em madeira) e as infra-estruturas indispensáveis para um dia na praia: casas de banho e mesas e bancos de madeira. A comida vem do Monarch of the Seas.
Coco Cay é uma ilha pequena - uma volta completa há-de dar-se em menos de uma hora. Quanto mais nos afastamos do lugar de desembarque, mais deserta vai ficando e mais temos a sensação de estar numa ilha paradisíaca, perdoem o lugar-comum. E à medida que o relógio avança e se aproxima a hora de largada do último barco com destino ao Monarch, mais belo fica o cenário. O sol está agora mais radioso, o céu mais azul e há muito menos gente em terra. Até dá vontade de perder o último transbordo e de ficar aqui a ver navios.
Preços
O Monarch of the Seas intercala cruzeiros de três noites (sai todas as sextas-feiras) com cruzeiros de quatro noites (sai todas as segundas-feiras). No primeiro caso, o circuito é Port Canaveral/Coco Cay/Nassau/Port Canaveral; no segundo Port Canaveral/Nassau/ Coco Cay/Key West/Port Canaveral.
Preços para três noites: a partir de 320 euros (cabine interior) até a partir de 600 euros (suite). Nos percursos de quatro noites, nas mesmas acomodações: a partir de 380 e de 730 euros. Um cruzeiro deste tipo, de curta duração, é um óptimo complemento para quem visita a Florida.
A Fugas embarcou no Monarch of the Seas a convite da Royal Caribbean