Fugas - Viagens

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    Arrifana Miguel Manso
  • No Castelo de Aljezur
    No Castelo de Aljezur Miguel Manso
  • Na praia da Bordeira
    Na praia da Bordeira Miguel Manso

Um dia, dois Algarves

Por Sandra Silva Costa

Cruzámos o Algarve e vivemos a região a dois tempos no mesmo dia: o que está no centro das rotas mais turísticas, Barlavento e Sotavento, e o da Costa Vicentina, mais deserto, mais inóspito, porventura mais autêntico. Encontrámos gente à cata de caracóis e praias onde o barulho do mar é a música de fundo. Agora escolha o que mais lhe convier.

 

De manhã deixámos Porches debaixo de sol e muito calor. Agora a tarde está praticamente a pôr-se e sentimos o vento, quase agreste, a beliscar-nos a pele. A praia do Amado, pejada de surfistas, ficou para trás e já não temos vontade de abrir a capota do carro que nos calhou em sorte - essa é outra história, fica para daqui a pouco. À beira da estrada, vemos um vulto de mulher, agachada, olhos postos na vegetação, com um garrafão de plástico pendurado ao pescoço. Paramos.

É Cecília basta Cecília, que os olhos azuis belíssimos encarregarse-ão de a identificar melhor. Eles, os seus 73 anos e os caracóis de que anda à cata. Diz que os vende, se calhar ou então há-de cozinhá-los para si, "com água, sal e orégãos".

O garrafão está a mais de meio, mas já esta manhã cá esteve, vinda da Carrapateira (concelho de Aljezur), onde sempre viveu. Serão uns três quilómetros para cada lado ou seja, hoje fará quatro viagens, sempre a pé. "Quem corre por gosto não cansa", diz e depois ri-se com vontade.

É conversadora, Cecília. E gosta de contar histórias como a dos dois irmãos, "um palerma, outro esperto", e de como o suposto palerma foi capaz de conquistar "a filha do rei" por ser precavido e levar para casa praticamente tudo o que encontrava ao caminho. "Eu também sou assim, saio de casa à procura de coisas que me possam servir, uma tamiçazinha [cordel feito de esparto ou palma] ou uma rolha de champanhe para tapar o tanque." Fala, fala, fala até que a conversa vai parar ao tempo. Diz que aqui, na Carrapateira, a meteorologia é "amiga". "Quando aqui está muito calor, coitadinhos dos que estão lá em baixo." Nós viemos de lá de baixo e percebemos que Cecília acabou de nos dar o gancho de que precisávamos.

Quantos Algarves há no Algarve? Pelo menos dois ou, melhor, há um Algarve a duas velocidades. Há este, o da Costa Vicentina, mais deserto, mais inóspito, mais autêntico, se quisermos; e há o outro, dividido entre Barlavento e Sotavento, muito mais no centro das rotas turísticas. Experimentar os dois no mesmo dia, como experimentámos, é coisa que vale a pena.

Foi também a pensar nisto que o Vila Vita Parc, um resort cinco estrelas situado em Porches, concelho de Lagoa, decidiu oferecer aos seus hóspedes a oportunidade de poderem conhecer o outro lado do Algarve. O programa foi baptizado com o nome "Algarve10+1" e permite a visita a dez zonas do Algarve normalmente mais arredadas do circuito turístico.

Estão previstos passeios por Sagres, Aljezur, Monchique, Silves, Alte, Faro, ria Formosa, Tavira e pelo Guadiana, mas quem quiser pode ainda optar por viagens no iate do hotel. A 11.ª experiência (10+1, lembram-se?) consiste numa visita à Herdade dos Grous, no Alentejo, que pertence ao mesmo grupo do Vila Vita.

Confrontados com a variedade do cardápio, decidimo-nos por Aljezur e as suas cercanias. À hora marcada, às 11h00, tínhamos um Mini Cooper bege à nossa espera no hotel e um cesto de piquenique recheado de iguarias. O dia promete, pensámos. Prometeu e cumpriu, como adiante se verá.

"Isto aqui é outro Algarve"

Agora aqui vamos nós, capota para trás, debaixo de sol e de um vento agradável, a cruzar a A22 até Lagos. Depois tomamos a EN120 e contamos 21 quilómetros até Aljezur. Por enquanto estamos no Algarve sem mar e o arvoredo é quem mais ordena. Vemos pinheiros mansos, alfarrobeiras, um ou outro eucalipto. Avançamos vagarosos, dando descanso ao asfalto. Vamos subindo aos ss e agora que subimos o calor vai descendo. Já vemos, ao fundo, o que resta do Castelo de Aljezur terá sido a última praça do Algarve a ser conquistada aos mouros, em 1249, no reinado de D. Afonso III.

Andar até lá não será coisa que se faça com uma perna às costas e vai daí rendemo-nos à preguiça e continuamos de carro. De qualquer modo, mesmo quem caminhe até ao topo dará a jornada como compensadora é de se lhe tirar o chapéu a vista que se tem para as serranias envolventes.

A construção do castelo de Aljezur é atribuída aos árabes no século X, embora escavações realizadas nos anos de 1990 apontem para uma ocupação do lugar que pode remontar à Idade do Bronze. As suas muralhas são robustas, com 1,50 metros de espessura, e as torres de vigia maciças, com nove metros de altura. Do que resta da construção, sobressai a cisterna, onde eram acumuladas as águas pluviais.

Vamo-nos entretendo a ler os painéis informativos que se espalham pelo recinto e entretanto reparamos que, para além de nós, está cá apenas uma família de quatro. São portugueses do Norte, que o sotaque não engana.

Silvério Jorge, o pai, confirma que são de Gondomar. Estavam de férias em Albufeira, ainda hoje seguem para Porto Covo, mas, porque há diferentes gostos em casa, pararam em Aljezur.

Discurso directo: "Isto aqui é outro Algarve, completamente diferente daquele de onde vimos. Parei para os miúdos verem a diferença". E agora entra em cena Bruno, dez anos: "Eu prefiro isto aqui, nem se compara. Quando for grande quero ser paleontólogo ou arqueólogo e por isso interessome muito por coisas históricas." O irmão, Tiago, de sete anos, tem outra opinião: "Gosto muito, muito, muito mais de Albufeira". Algarve à medida de cada um, portanto.


Um certo ar de fim do mundo

Pela parte que nos toca, estamos na disposição de continuar na peugada da presença árabe na região. Entramos no carro dispostos a rumar ao Ribat de Arrifana, mas, porque temos tempo e vontade, antes passamos (e paramos) na praia de Monte Clérigo. Não é aqui, porém, que caímos no mar. Optamos por seguir para a Arrifana, praia cuja fama nos despertara a curiosidade.

Tem fama e tem proveito: visto daqui, de cima, o cenário não podia ser mais animador. O mar de um azul que se diria mais típico das Caraíbas contrasta com o negro dos rochedos que lhe definem o carácter e há pouca gente no areal (será do desnível que é preciso descer e depois, naturalmente, subir?). Aí vamos nós, de toalha na mão, e só nos apetece entrar no mar. Só que a nossa visão de Caraíbas foi uma ilusão de óptica: cá de baixo, o azul não é tão turquesa como supúnhamos, mas nem é esse o problema. A água está fria vínhamos habituados à temperatura que se experimenta "lá em baixo", no outro Algarve. Ainda assim, assentamos arraiais e ficamos a ouvir o mar, que as vozes dos poucos que cá estão connosco não se destacam por aí além.

Perdemos ligeiramente a noção do tempo e só abrimos o cesto de piquenique quase em cima das 15h00 um verdadeiro jardim das delícias. Temos wraps com queijo fresco, tomate assado e rúcula; salada de atum com feijão verde e azeitonas; camarões; sanduíches diversas; espetadas de peito de peru com arroz e espetadas de fruta para a sobremesa, capítulo onde constam também bolinhos de maçapão. Há ainda uma garrafa de vinho branco (Herdade dos Grous, evidentemente) e uma toalha aos quadrados, como se impõe. Comemos com vista para o mar e sabemos que estamos a causar inveja a quem passa.

Agora sim, chegou a hora de encontrarmos o caminho para o Ribat de Arrifana. Acabamos por perder o norte e, apesar das indicações que vamos pedindo, não chegamos a bom porto. Há quem nos diga que o percurso até lá não está bem sinalizado e, ao fim de uma meia hora às voltas, atiramos a toalha ao chão: sim, desistimos, e fomos tentar estender a toalha noutra freguesia.

No caso, na Bordeira, onde também nunca tínhamos estado mas temos a certeza que vamos voltar. É impossível estender a toalha, já percebemos, que o vento desaconselha qualquer investida no areal. Embrulhamo-nos nela e ficamos a olhar para o que temos à vista: ninguém nos perguntou nada, mas arriscamos dizer que à nossa frente está uma das praias mais bonitas do país. A ribeira que desagua no areal a perder de vista dá-lhe um charme irresistível: agora, por exemplo, do lado onde estamos, só é possível chegar à areia cruzando a ribeira com água pela cintura. Tem graça vermos estes dois rapazes (falam inglês) tirarem as sapatilhas e os calções e entrarem na água de cuecas, tão admirados quanto divertidos.

Já dissemos que está vento, mas ainda assim arriscamos descer a escada de madeira e sentamo-nos ao fundo, a olhar para o mar picado. A bandeira está vermelha, e aqui de cima quase contamos uma a uma as pessoas que se aventuram na praia: não são mais de 30, seguramente.

Tem um ar selvagem, esta praia de dunas imensas lá ao fundo, em contraste, ainda conseguimos ver as falésias que são a imagem de marca da Costa Vicentina. Tudo isto, somado ao vento que nos levanta os cabelos e deixa os braços em pele de galinha, dá à Bordeira um certo ar de fim do mundo que nos agrada.

Como nos agrada o fim de linha que é Sagres, aonde chegaremos daqui a pouco, já depois da praia do Amado, de Cecília dos olhos azuis e de termos fechado de vez a capota do carro. Não está calor, talvez "lá em baixo"...

Informações

O passeio que aqui propomos pode ser feito, naturalmente, por sua conta e risco. Quem, no entanto, quiser usufruir do pacote que o Vila Vita Parc está a pôr à disposição dos seus hóspedes, aqui ficam algumas das condições: três noites de alojamento num quarto duplo deluxe com vista jardim; tratamento VIP à chegada; pequeno-almoço buffet, um menu de degustação de cinco pratos no restaurante Ocean do hotel, distinguido com uma estrela Michelin; tratamentos no spa para duaspessoas e uso do pitch&putt; uma prova de Porto na cave de vinhos do Vila Vita e, claro, um dos passeios à escolha do programa "10+1". Os hóspedes recebem ainda um mapa ilustrado com aguarelas de Ken Mosley, um artista residente no Algarve. Os preços para duas pessoas andam entre os 2200€ e os 2335€.

Vila Vita Parc
Rua Anneliese Pohl, Alporchinhos 8400-450 Porches
Tel.: 282 310 100
Email: reservas@vilavitaparc.com
www.vilavitaparc.com

A Fugas esteve no Algarve a convite do Vila Vita Parc 

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