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    Aveiro Nelson Garrido
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    Lisboa, Cais do Sodré Rui Soares
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    Figueira de Castelo Rodrigo, Barca d' Alva (desactivada) Manuel Roberto
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    Figueira de Castelo Rodrigo, Barca d' Alva (desactivada) Manuel Roberto
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    Figueira de Castelo Rodrigo, Barca d' Alva (desactivada) Manuel Roberto
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    Figueira de Castelo Rodrigo, Barca d' Alva (desactivada) Manuel Roberto

Viagem pelas mais belas estações de comboio portuguesas

Por Luís Maio

Há estações de comboios que são verdadeiras jóias arquitectónicas. Aproveitando o recente enfoque internacional na gare portuense de São Bento, voltamos aos caminhos dos mais bonitos edifícios ferroviários portugueses. 

Travel & Leisure, revista norte-americana da qual muito boa gente nunca antes ouviu falar, elegeu a estação de São Bento, no Porto, como umas das mais bonitas do planeta ferroviário. Isso chegou para criar uma bolha mediática, que durou pouco mais que o resto das notícias do dia. Teve pelo menos o grande mérito de chamar a atenção para o extenso e valioso património construído em Portugal desde a introdução do caminho-de-ferro, em 1856.

Mesmo sem esmiuçar século e meio de arquitectura ferroviária, há tendências que saltam à vista. A decoração azulejar foi o principal ou mesmo exclusivo factor distintivo das centenas de estações disseminadas pelo país fora, durante quase um século de expansão da rede. Durante ou depois disso, os edifícios mais nobres do ponto de vista arquitectónico foram erguidos em grandes cidades, marcando até novas centralidades à época da sua construção. Hoje a maior parte está reabilitada, mas não forçosamente ainda ao serviço da circulação ferroviária. Como sempre, porém, também há meia dúzia de pérolas barbaramente abandonadas. Com estas coordenadas em mente, colhendo opiniões e documentação aqui e ali, fomos alinhavando o top que se segue. Um ensaio que será ao mesmo tempo excessivo e lacunar, como é costume nestas coisas.


São Bento, Porto

O texto que sustenta a Estação de São Bento no topTravel & Leisure declara: "Embora o seu exterior seja lindo - e nos leve de volta à arquitectura parisiense de meados do século XIX, como o seu tecto de mansarda e fachada de pedra - é o interior que nos faz suspirar. As paredes estão cobertas de 20 mil esplêndidos azulejos." Na nota sobre a mesma estação publicada na Wikipédia pode ler-se: "No sentido de amenizar a impressão de severa nobreza do granito utilizado na fachada majestosa do edifício, recorreu-se à tradição da azulejaria portuguesa para decorar a "sala de visitas" da cidade." 

A gare projectada pelo arquitecto Marques da Silva seria, portanto, bonita mas pesada, justificando a encomenda da "suavizante" decoração azulejar a Jorge Colaço. Essa é a dualidade, o contraste que triunfa na gare portuense, certificando-a como um ex-líbris da cidade e um epítome da filosofia que presidiu à construção de muitas estações ferroviárias naquela época. O conjunto de quadros cerâmicos na Estação de São Bento constituiu um tour de force de Jorge Colaço (1868-1942), ele que revestiu de azulejos inúmeras estações e uma porção de edifícios iconográficos nacionais, desde o Pavilhão Carlos Lopes até ao Palace Hotel do Buçaco. 

Colaço desenvolveu um gosto historicista e patriótico, claramente dominante no átrio de São Bento. Os destaques cabem à entrada de D. João I e seu casamento com D. Filipa de Lencastre, no Porto, ao torneio de Arcos de Valdevez e à Conquista de Ceuta. Há depois painéis folclóricos, tipo festas e romarias, e um friso a cores que resume a história dos transportes. Claro que esta celebração dos valores pátrios, seguindo uma matriz tardo-romântica era já, por alturas da inauguração da gare em 1916, bastante anacrónica. Depois deve ter assentado como uma luva à propaganda do Estado Novo. Hoje, no entanto, essas leituras ideológicas são letra morta e o que chama a atenção é a grandiosidade e singularidade da composição. Os pós-modernos podem sempre entreter-se tecendo comparações com os painéis de azulejos da Casa da Música.


Pinhão, Alijó

Mais do que uma simples paragem de comboios, a gare do Pinhão é agora um desses lugares da memória, onde se condensam as histórias e as vivências de toda uma região. Desde logo pelos seus belíssimos 24 painéis, num total de 3047 azulejos, que revestem as fachadas nos vãos do piso térreo do edifício ferroviário. Paisagens e costumes tradicionais do Douro Vinhateiro foram ilustrados em 1937 por J. Oliveira, autor de composições azulejares em muitas outras estações da rede nacional (Outeiro, Santarém), na circunstância sob encomenda endossada à Fábrica Aleluia de Aveiro. 

J. Oliveira usou como guião uma colecção de fotografias da região duriense, postais de um mundo rural entretanto desaparecido ou muito alterado - o que obviamente confere enorme valor documental ao conjunto. Estão lá trabalhadores agrícolas vestidos com trajes antigos feitos em palha para proteger da chuva e do frio, mas também carros de bois carregando pipos de vinho até aos barcos rabelos. Tão ou mais interessantes são as panorâmicas de sítios entretanto riscados do mapa, como o rápido do Douro conhecido como Cachão da Valeira e da Ponte da Ferradosa, sacrificados pela construção de uma barragem nas vizinhanças.

Os painéis acabam de ser restaurados, fruto da nova fortuna do Pinhão, elevada a portal turístico do Douro. O turismo justifica, aliás, que esta estação seja a excepção à regra de abandono que vigora na linha do Douro a montante da Régua. Uma Wine House, uma loja de vinhos e um núcleo museológico com meia centena de artefactos e ferramentas locais participam da revitalização da estação do Pinhão, fruto de um protocolo com a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, do grupo Amorim.


Barca d' Alva, Figueira de Castelo Rodrigo

Linhas desactivadas e estações ferroviárias ao deus-dará é o que mais há por esse país fora. Mesmo assim, a gare de Barca d" Alva merece ser destacada nesse top menos, tanto pela amplitude das ruínas, como pelo já crónico fracasso dos projectos visando a sua reanimação. Nascida para rematar a Linha do Douro - entretanto convertida em linha internacional, ligando o Porto a Salamanca e ao resto da Europa -, Barca d" Alva pertence à classe das antigas estações fronteiriças. Era a segunda categoria mais prestigiada, logo a seguir à das gares das grandes cidades. 

Quando cessou a actividade ferroviária, em 1988, tinha cafetaria, restaurante, posto alfandegário e da Guarda Fiscal, além de cocheiras e placas giratórias. Um património que não parou de degradar-se e de ser vandalizado, enquanto se sucediam promessas e planos de futuro: reactivação da linha, anunciaram Durão Barroso e depois Ana Paula Vitorino, enquanto a Refer falava em ecopistas e a autarquia num hotel quatro estrelas para aproveitar os cruzeiros do Douro. A verdade, porém, é que até agora tudo não passou de boas de intenções. A estação ferroviária de Barca d" Alva continua a cortejar os saudosistas e os amigos das ruínas. Funciona como excelente destino para essa demografia, sobretudo se conjugado com o tour de pontes ferroviárias da linha que antes ligava Barca d" Alva a Fregeneda, primeira povoação do outro lado da fronteira. 


Aveiro 

O antigo edifício da estação ferroviária de Aveiro foi desactivado por razões técnicas (agora há um novo). Neste caso, porém, a história teve um final (quase) feliz, a sua reabilitação para fins turísticos. É, desde 2006, paragem obrigatória nos itinerários City Tour, promovidos pela Região de Turismo de Aveiro, estando também anunciada uma colecção de arte contemporânea para as suas instalações.

O edifício de forte volumetria, constituído por uma parte central de três pisos e duas laterais, simétricas e de dois pisos, é considerado um ilustre exemplo da tipologia da Casa Portuguesa. O que mais impressiona na gare de Aveiro, no entanto, são os painéis de azulejos policromados, azuis e amarelos, que na maior parte remontam a 1916, mas conheceram vários acrescentos depois disso. Alternam paisagens regionais com ilustrações de costumes locais e fragmentos da história dos transportes, ou seja, a mesma fórmula em jogo na gare portuense de São Bento. Em Aveiro, naturalmente, a colecção inclui imagens da ria, das vindimas na Anadia e do Palace Hotel do Buçaco, à mistura com trechos da linha do Vouga e retratos de pescadores e tricanas.
 

Rossio, Lisboa

As máquinas fotográficas e os telemóveis não param de disparar sobre a fachada, o dia inteiro (e à noite também). Sobretudo agora que lhe rasparam a fuligem, devolvendo ao mármore e às esculturas de Batissol o seu primitivo esplendor. É uma popularidade que se justifica plenamente, mesmo se não se adivinha logo a categoria do edifício - suspeita-se, aliás, que muitos destes fotógrafos amadores nunca vão saber que se trata de uma gare ferroviária. Em qualquer µ ± caso, a Estação do Rossio parece menos uma estação que um palácio ou qualquer outra espécie de edifício monumental - o que também quer dizer que o prédio revivalista, inspirado no manuelino e desenhado pelo arquitecto camarário José Luís Monteiro, cumpre a longo prazo a tarefa para que foi erguido. 

A ideia era dotar Lisboa de uma estação iconográfica, coerente com o figurino decentral station, então em voga nas principais capitais do planeta. Os mais observadores notarão, contudo, que as duas portas principais ao nível da rua, entre as praças do Rossio e dos Restauradores, estilizam o arco em ferradura, comum aos túneis dos comboios. A diferença é que as ditas portas nunca abriram sobre a linha férrea, mas sobre um átrio que acolhe agora um café de uma multinacional. Linhas e bilheteiras encontram-se 30 metros mais acima. Aqui sim, estamos finalmente no ambiente típico de uma estação de comboios, mesmo se a mais recente adição de um hostel chique, mesmo em frente às bilheteiras, não deixe de ser surpreendente. Ou, afinal, apenas coerente com o descarrilar da rotina que sempre moldou a antiga estação da Avenida.

Os azulejos que decoram as paredes desta gare também não são como os outros. Na parede do lado nascente encontra-se uma sequência de medalhões alusivos às principais exportações portuguesas (incluindo o café!), da autoria de Lucian Donnat e Amaral. É outra peça de propaganda do Estado Novo, onde, apesar disso, não se pode deixar de admirar a extraordinária depuração. Na parede oposta estão representadas 14 figuras históricas portuguesas, incluindo Camões, Padre António Vieira e D. Sebastião, passando por Garrett e Herculano. Datado de 1995, o conjunto denota o misto de neo-realismo e esoterismo que celebrizou Lima de Freitas e merece certamente ser confrontado com os de Jorge Colaço na estação de São Bento.


Cais do Sodré, Lisboa

Nas fotos antigas mal se percebe que plantaram árvores à volta da estação do Cais do Sodré. Mas aquela que agora se ergue sobre o quiosque, em frente do edifício, cresceu ao ponto de a folhagem lhe encobrir quase por completo a fachada. Esta exuberante cortina verde é mais uma machadada na imagem do edifício inaugurado em 1928, recentemente restaurado no contexto da reconversão intermodal do terminal da Linha de Cascais. 

A estação foi desenhada por Pardal Monteiro, que depois haveria de assinar obras tão marcantes da paisagem urbana da capital como o Instituto Superior Técnico e a Gare Marítima de Alcântara. Acabado de chegar da Exposition des Arts Décoratifs et Industriels Modernes de 1925, o arquitecto introduziu no Cais do Sodré soluções modernistas, pela primeira vez ensaiadas num edifício público português. É sobretudo o caso do betão armado, que neste caso permitiu a abertura de grandes vãos e a construção de uma pala na fachada da estação. Estas inovações surgiram à mistura com uma indisfarçável paixão pelo estilo decorativo Art Déco, patente tanto no átrio como na fachada da gare. Vai dos desenhos geometrizados das portas de madeira e nas pinturas dos envidraçados (agora magnificamente restaurados) aos baixos-relevos com exortações ao trabalho e à máquina. 

Arranjos que desagradarão aos puristas, mas devem constituir um dos mais elegantes exercícios Art Déco que se conservam em Portugal. Mas a originalidade da estação do Cais do Sodré nem sequer se fica por aí. O edifício segue a tipologia em U, comum na arquitectura ferroviária, mas o átrio e a fachada estão "puxados" para fora da directriz das linhas, como se tivessem sofrido uma forte guinada. É uma ideia brilhante para rematar o encontro da Avenida 24 de Julho com o Largo do Cais do Sodré e a Praça Duque da Terceira, mas esta solução de encaixe na trama urbana preexistente sempre resultou esquisita para os utentes, concorrendo para lhe roubar o carisma. Utentes que, entretanto, com a instalação intermodal, praticamente deixaram de cruzar a entrada principal e o átrio, ou seja, o melhor da estação. Há mais do que uma árvore frondosa para explicar o fraco prestígio de uma das estações mais geniais da rede ferroviária portuguesa. 


Sul-Sueste, Lisboa

Quem vive em Lisboa ou na outra margem habitou-se a ver a gare Sul-Sueste como parte integrante do conjunto monumental do Terreiro do Paço. Até parece que sempre lá esteve, mas vai-se a ver melhor - sobretudo agora que o interface e o novo arranjo urbano lhe devolveram o cachet - e torna-se evidente que este edifício constitui uma descolagem radical da envolvente. Grandes volumes geométricos, enormes vãos envidraçados, coberturas planas e um vasto átrio conjugam-se numa depurada composição modernista, em claro contraste com a baixa pombalina e o núcleo medieval da cidade.

É uma diferença marcada, mas subtil, que nunca terá chegado a ser chocante. Foi a solução divisada por José Ângelo Cottineli Telmo (1897-1968), para a Estação Sul-Sueste. Uma estação que é única no género, uma vez que lá não entram linhas, nem passam comboios. Tinha, porém, de estar mesmo ali à beira-rio, no Cais da Alfândega, de modo a assegurar a ligação fluvial com o Barreiro, verdadeiro terminal das linhas ferroviárias do Sul de Portugal. O modernismo casa-se na perfeição com esse estatuto de excepção e é talvez a obra ferroviária mais célebre do arquitecto, que gizou todo um rol de edifícios iconográficos, desde a Estação Marítima de Alcântara à Prisão de Caxias, passando pelos estúdios da Tobis, onde também realizou A Canção de Lisboa, primeira longa-metragem portuguesa da era do sonoro. 

Ao longo de 25 anos de carreira na CP, Cottineli Telmo assinou dezenas de projectos, de Barcelos a Vila Real de Santo António, o que faz dele certamente o arquitecto ferroviário mais profícuo do segundo quarto do século XX. Há, no entanto, outro edifício da sua autoria no património Refer que tem vindo a ser especialmente reavaliado, até pelo risco (entretanto afastado) de demolição. Falamos da espantosa Torre de Sinalização de Pinhal Novo (Palmela, 1938), que consegue o prodígio de conciliar uma base mínima, para não interferir com a circulação nas linhas, com uma ampla torre de controlo, envidraçada no topo.


Oriente, Lisboa

A mesma revista americana que abençoou a gare de São Bento promoveu um concurso com uma foto das "palmeiras" da Estação do Oriente e a pergunta sabe-onde-é-que-isto-fica? A estação inaugurada a propósito da Expo 98 não é, de facto, das obras mais mediáticas do arquitecto Santiago Calatrava, nem sequer entrou para o best of dos postais de Lisboa. É daquelas injustiças que a história deverá reparar, quando se trata de uma das mais brilhantes iluminações da corrente de inspiração orgânica, muito marcante da arquitectura do milénio.

Primeira estação portuguesa a ser pensada de raiz como uma estrutura intermodal, o edifício desenhado por Calatrava vai mudando de figurino na mesma medida em que se muda de piso e de funções. Parece uma caverna artificial ou o esqueleto de um gigante extinto ao nível subterrâneo do metro, para, no nível superior, onde passam os comboios, invocar um luxuriante oásis de palmeiras. 

Esta é a verdadeira estrela do conjunto: uma fantástica cobertura metálica arborescente, constituída por pilares de aço de 25 metros de altura, rematados por placas de vidro laminado (15 x 4 linhas). A estação de Calatrava foi o pólo ordenador da requalificação da zona oriental da cidade e deverá ser a futura gare central da Alta Velocidade. Antes como depois, é um espectáculo de magia urbana, o símbolo de uma nova cidade que Lisboa ainda quer ser.


Outros exemplos


Mirandela
Parece uma mansão, não uma paragem da modesta Linha do Tua. O edifício tem quatro pisos, grandes chaminés e uma quantidade generosa de vãos exteriores. Mal tratada, coitadinha.

Castelo de Vide
Estação fronteiriça decorada com cinco belos painéis de azulejos, entre os mais conseguidos de Jorge Colaço.

Évora
A história e os costumes do Alentejo perfeitamente resumidos nos azulejos que forram a estação de Évora. 

Funcheira
O entroncamento das linhas algarvias e alentejanas criou a estação e a povoação, ali para os lados de Garvão, Ourique. Os azulejos de inspiração árabe na fachada e a cobertura de conchas no telhado ainda lá estão, apesar do estado quase moribundo em que hoje se encontra a antiga aldeia-estação.

Coimbra
Tal como a estação do Rossio, a de Coimbra não se julga pela fachada, porventura mais adequada a um faustoso teatro Belle Époque. Há, de resto, um projecto para a converter em centro cultural.

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