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    Martinica, Vauclin Luís Maio
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    Martinica, Saint-Pierre Luís Maio

Martinica, a ilha mais francesa das Antilhas

Por Luís Maio (texto e fotos)

Viagem em duas partes às Antilhas francesas: Guadalupe e Martinica. Aqui, visitamos a Martinica, uma ilha com uma extraordinária variedade de paisagens, mas também um departamento de França que gosta de discutir a (des)colonização e a União Europeia. A Martinica tem mais para dar que sopas e descanso à beira-mar. Mas, claro, não deixámos de aproveitar o seu colar de belíssimas praias.

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De que departamento vem?

É a primeira e quase invariável pergunta que os da Martinica, na maior parte negros ou mulatos, fazem aos visitantes, que são quase todos brancos. A pergunta traz água no bico e de certa forma resume o dilema identitário da ilha, no centro do chamado Arco das Antilhas. Perguntar "De que departamento vem?" presume que o outro, o branco, o turista, é tantas vezes francês que já nem vale a pena perguntar. Depois, "De que departamento vem?" é uma interrogação, mas também a afirmação por parte do emissor de que ele (ou ela) é igualmente cidadão de um departamento francês. E que, por consequência, os da Martinica não são nem mais nem menos franceses que os do continente. Franceses serão por certo, mas não franceses de segunda.

Descoberta por Cristóvão Colombo em 1502, a Martinica tornou-se colónia francesa em 1632, no reinado de Luís XIII. Nunca mais voltou a mudar de mãos, tirando um par de breves invasões inglesas nos inícios do século XIX, de resto meio consentidas pelos colonos brancos, para evitar a fúria revolucionária e antiesclavagista que tomou de assalto a vizinha Guadalupe, na sequência da Revolução Francesa de 1789. Os escravos africanos, importados para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar, acabaram por conquistar a liberdade em 1833 e a ilha conheceu depois convulsões sociais cíclicas, mas nunca um forte movimento independentista. Em vez disso, depois da Segunda Grande Guerra, os lideres de esquerda - nomeadamente Aimé Césaire (1913-2008), que dá nome ao Aeroporto e é invocado em todos os santuários da memória local - fizeram campanha em prol da dignificação departamental da sua ilha.

A Martinica goza do estatuto de Departamento e Região Ultramarina (DROM) desde 2003, mas recusou em referendo avançar no sentido de uma maior autonomia. Quer dizer que a capital Fort-de-France é tão francesa quanto Paris do ponto de vista político, que não exigem vistos nem se carimbam passaportes no aeroporto (mesmo que o turista peça!) e tudo o resto é como em França, desde o euro aos gendarmes, passando pela profusão de armazéns Carrefour e Conforama à entrada das maiores cidades. De resto, os habitantes da ilha comunicam entre si em francês, pelo menos tanto quanto em crioulo, e a verdade é que, apesar de toda a terrível história de escravatura, os franceses sempre foram mais brandos e favoreceram a Martinica, preferindo-a claramente às demais colónias das Índias Ocidentais.

Esta será a ilha mais francesa das Antilhas, mas não se confunde nem pouco nem mais ou menos com o continente. Cada vez mais sobressaindo sobre os usos e costumes estritamente europeus há uma cultura mestiça, que não é menos afirmativa e desenvolta do que a das vizinhas Cuba ou Jamaica. A diferença é que, em vez de legitimarem os seus valores num discurso de orgulho singular e independência, fazem pelo contrário a apologia da integração e mesmo da dependência da antiga potência colonial como uma espécie de compensação por danos causados. Talvez por isso, porque os laços foram esticando, mas nunca foram realmente quebrados, sente-se maior proximidade e até intimidade com quem vem de fora.


As praias, forçosamente

Mas por que razão as intricadas relações da Martinica com o Estado francês deveriam interessar ao turista português, que mais provavelmente aterra aqui com um pacote de sol e praia? Porque mesmo essa demografia vai forçosamente misturar-se com os locais mal ponha os pés fora do resort, embarcando num roteiro de convívio instantâneo, de novo muito semelhante ao que se verifica em Cuba ou na Jamaica. Até porque as melhores atracções da Martinica são as mais genuínas, no sentido em que são sobretudo procuradas pelos "nativos".

A enunciação das generalidades sobre o clima e a geografia da ilha, por mais neutra que se apure, constitui só por si um panfleto turístico. O clima é do tipo tropical, quente e húmido, temperado de ventos alísios, conhecendo duas estações apenas: a chamada Quaresma, de Dezembro a Abril, com humidade fraca, muito sol e uma média de 25º C, e a Estação das Chuvas com muita humidade, chuvadas e temperaturas de 27º ou para cima. A ilha principal tem 64 por 26 quilómetros, ou seja, é relativamente exígua, mas conta com 350 quilómetros de litoral, nos quais se sucedem praias e falésias onde a fotogenia faz coro com a variedade.

A ocidente ficam as Caraíbas, a chamada Costa Debaixo do Vento e as suas águas plácidas, pintadas a azul-turquesa. A oriente é o Atlântico e a Costa Ao Vento, onde o mar costuma ser mais batido, por vezes mesmo intempestivo. A maior parte das praias a norte da ilha são forradas de areias negras, enquanto a sul predominam as areias brancas, com vários tons de cinzento nos areais entre as duas pontas. A faixa litoral que se recorta a sul da capital, em particular de Trois-Îlets até ao Cabo Salomão, corresponde à zona de praia mais concorrida da ilha, uma espécie de Algarve em versão tropical, mais conhecida como "Parque de Turistas" pelos locais.

A pressão turística diminui (e muito) avançando para sul através da chamada Rota das Ansas (D7), que serpenteia nas margens de uma prodigiosa sucessão de postais ilustrados das Caraíbas. A Grande Ansa oferece uma das mais longas baías de areias douradas da ilha, vazia ou quase nos dias úteis, para aos fins-de-semana se encher de locais, que se instalam, mais as respectivas geladeiras, debaixo dos coqueiros. Anses-D'Arlet é mais cosmopolita e a sua frente de mar está em boa parte forrada por bares e restaurantes pés-na-água, que praticamente funcionam como praias privadas. À beira das Caraíbas, ou mais recuadas nos morros, sobressaem pequenas igrejas coloniais, em geral construídas num neogótico singelo e colorido, como a igreja da referida Anse-D'Arlet, perfeitamente alinhada com o pontão que avança mar adentro, e a de Notre-Dame-de-la-Bonne-Délivrance, aquela mesma onde foi baptizada a célebre imperatriz Josefina (a mesma de Napoleão Bonaparte).

As águas na face atlântica são mais revoltas, mas há longos troços protegidos, nomeadamente no litoral em redor de Vauclin, principal centro piscatório da ilha. As barreiras de coral cresceram ao largo, funcionando como quebra-mares e produzindo amplas lagunas, salpicadas de ilhotas e cobertas de espessos mangais. As construções nas margens são raras, majestosas, provavelmente ilegais e para aguçar a inveja só podem ser entrevistas por quem chega por mar. Para esse efeito vale a pena comprar um passeio em yole, a embarcação tradicional da ilha, ou em caiaque de fundo transparente, que também permite apreciar os fundos cristalinos, pouco profundos  e repletos de peixes multicoloridos das lagunas.

Quanto mais se avança para norte menos concorrido se torna o litoral, até se atingir o topo da ilha, onde se encontra um colar de belíssimas praias selvagens. Antes disso, sobretudo na vertente oriental Debaixo do Vento, há um punhado de praias igualmente magníficas, de areias que oscilam entre o negro e o cinzento. Cabe destacar Anse Turin, praia vulcânica imortalizada por Gaugin, e Le Carbet, onde Colombo aportou em 1502 e que hoje conserva a melhor amostra de casas crioulas da ilha.


Prazeres selvagens

As praias e a boa vida são o principal chamariz, mas o melhor passeio que a Martinica tem para oferecer é (de longe) interior e selvagem. Chama-se Route de la Trace (caminhos grosseiro, no dialecto local) e serpenteia por 40 quilómetros desde a capital Fort-de-France, mais ou menos a meio da ilha, até aos contrafortes da montanha Pelée, o vulcão de momento adormecido, que se eleva a 1395 metros de altitude. Pelo caminho toda a paisagem é acidentada e na maior parte coberta por florestas tropicais. A estrada primitiva foi aberta pelos jesuítas, justamente para evitar o obstáculo natural que representa o maciço dos Pitons de Carbet, que se elevam acima dos 1100 metros, uma dezena de quilómetros a sul da montanha Pelée.

No vale cavado entre as montanha e os picos foi recentemente inaugurado o Domínio Esmeralda, centro de interpretação do Parque Natural da Martinica, que integra ambas e na realidade cobre mais de 60% da ilha. Para além de instruir sobre a fauna e flora locais, funciona como ecomuseu, jardim de plantas e sobretudo como um miradouro privilegiado sobre as montanhas em volta. De resto, a Route de la Trace é marcada por um colar de esplêndidos jardins botânicos, onde se destacam o Balata, o mais famoso, turístico e caro da ilha, situado logo nas alturas de Fort-de-France, e a sua versão mais intimista, em Carbet, na ponta noroeste da ilha.

O asfalto não chega a dar volta inteira ao extremo setentrional  da Martinica e a única maneira de explorar esse pedaço de terra é através de um acidentado trilho, que se alonga por dezoito quilómetros de floresta luxuriante com vários desvios pelo meio, sempre em direcção a pequenas praias paradisíacas. Há uma mão-cheia de outras oportunidades de caminhada, nomeadamente a ascensão à montanha Pelée, porventura mais intimidante que realmente exigente, e o trilho do Canal de Beauregard, 3,5 quilómetros de sinuosa levada à beira do precipício, entre Carbet e St.-Pierre.


Contrastes urbanos

Apesar da moldura natural e do colorido urbano, Fort-de-France não é Havana, nem Kingston, nem sequer Santo Domingo. A capital da Martinica não tem o mesmo andamento e é fácil perceber porquê.  Fort-de-France é o equivalente a um plano B. A capital da ilha sempre foi Saint-Pierre, até que a tristemente célebre erupção da montanha Pelée, a 8 de Maio de 1902, matou os seus 30 mil habitantes (o único sobrevivente foi um recluso), tornando a cidade de tal modo impraticável que toda a acção foi transferida para o antigo baluarte militar no centro da ilha.

Como capital, Fort-de-France tem pouco mais de cem anos, cerca de cem mil habitantes e não muito que se veja: a Biblioteca Schoelcher, versão mais festiva do mesmo figurino ecléctico da lisboeta Casa-Museu Anastácio Gonçalves; a catedral de Saint-Louis, expressão monumental do neogótico by the book; o hotel L'impératrice, elegante variação sobre o estilo paquete dos anos 1950; e um par de mercados abertos, pitorescos, mas cada vez mais turísticos. Há outra atracção, que já é menos turística, ou mais sociológica: as casas e cabanas improvisadas, que se vão sobrepondo caprichosamente sobre os morros em volta do rio e até ao mar, numa inesperada derivação local do modelo de arquitectura instantânea das favelas brasileiras.

Mesmo arruinada e adormecida, ou por isso mesmo, Saint-Pierre é infinitamente mais interessante. A cidade resume-se a meia dúzia de ruas paralelas, sulcadas entre a praia e o morro, que pouco devem ter mudado desde a fatídica erupção da montanha Pelée. Os edifícios mais iconográficos foram reconstruídos, nomeadamente a belíssima Casa da Bolsa e a imponente Catedral - esta, porém, só até meia altura das suas duas torres - e talvez por isso foi "descatedralizada", em favor do seu derivado em  Fort-de-France. De resto, porém, as casas hoje de pé em Saint-Pierre parecem ter sido levantadas com os restos das antigas e há mesmo um par de edifícios mantidos em ruínas, só paredes enegrecidas e interiores já comidos pela vegetação, para que se veja como ficou a cidade depois da catástrofe natural há cem anos.

Hoje em dia há menos de cinco mil almas a residir em Saint-Pierre - e até se diria que são menos - numa cidade que parece ainda não ter superado o trauma e sobretudo estar à espera de outro a qualquer momento. O que falta em animação à antiga capital sobra-lhe em romantismo, que se torna ainda maior quando se sobe a tortuosa Via Crucis, ladeira escavada à beira do precipício, até ao alto da Virgem dos Marinheiros (obra de 1870, refeita em 1921). Daí se disfruta de uma das vistas mais esplêndidas, mas também mais fotogénicas da ilha, quando se ganha um olhar panorâmico sobre a pequena concha urbana recortada junto ao mar e o vulcão todo-poderoso que eleva quase a pique nas suas costas.


Guia prático

Como ir

A Air France liga Lisboa a Fort-de-France nove vezes por semana, sempre com escala em Paris, mas umas com passagem pelo aeroporto de Orly e outras por Charles-De-Gaulle. O bilhete de ida e volta em económica custa 1063€, em classe Premium (mais 40% de espaço em relação ao assento de económica) são 1722€ e em executiva (poltrona de 2m por 61cm, sistema de divertimento on demand) são 3242€, sempre com taxas incluídas. Mais detalhes sobre horários e tarifas em www.airfrance.pt/, ou através da central de reservas 707202800.

Onde ficar

Club Med Les Boucaniers, Pointe Marin, Sainte-Anne
Primeiro a abrir nas Antilhas, o Med da Martinica inaugurou  em 1969 e por isso pôde escolher o sítio, na baía de Le Marin, uma das mais bonitas da costa sudoeste da Martinica. Ampliado e renovado em 2005, Les Boucaniers conta actualmente com 293 quartos em bungalows, sobretudo destinado a famílias com filhos em idade escolar. Além da praia de águas turquesa, areias finas e coqueiros, um acento especial é colocado em actividades desportivas como o esqui aquático e o wakebord. Uma semana de férias custa, no escalão mais económico, entre 890€ em Setembro e Outubro e 1180€ na primeira quinzena de Agosto. Mais informações em www.clubmed.com. Reservas através da  Agência Club Med, Rua Andrade Corvo, 38, Lisboa; tel.: 213309696.

O que fazer

A história das Índias Ocidentais francesas é indissociável das plantações de cana-de-açúcar, das destilarias de rum e da escravatura que sustentou a sua exploração intensiva. Para os visitantes interessados nestas coisas,  mas só com tempo para uma morada, a escolha mais óbvia é a Habitation Clémet, que já não produz, mas se tornou numa das marcas mais prestigiadas da ilha. A visita articula quatro mundos: o crioulo, o botânico, o industrial e o rum. É também um dos sítios mais empenhados em promover os artistas contemporâneos da ilha.

A Fugas viajou a convite da Air France e do Club Med

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