Fugas - Viagens

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    Pikitim e os pais Nelson Garrido
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    Tailândia DR/Diário da Pikitim
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    Filipinas DR/Diário da Pikitim
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    Filipinas DR/Diário da Pikitim
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    Indonésia DR/Diário da Pikitim
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    Na Ilha dos Pinheiros
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    Um desenho da Pikitim, antes da partida

Para a Pikitim o mundo já não chega, é preciso também a casa e a escola

Por Patrícia Carvalho

Foram 10 meses que dão mundo para uma vida inteira. A Inês, i.e. a Pikitim, voltou a casa após percorrer o planeta com os pais, Luísa Pinto e Filipe Morato Gomes. Agora, a grande viajante de 5 anos só pensa na escola e nos amigos. E os pais decidiram protegê-la de televisões e afins, para que possa voltar à vida "normal". Entretanto, a viagem continua a ser vivida nas páginas da revista Fugas.

Por estes dias, Luísa Pinto só quer mesmo "ninho". Matar saudades da casa, da família, dos amigos, levar a Pikitim à escola, ir buscá-la, descobrir a sobrinha de dois meses que nasceu enquanto estava do outro lado do mundo. "Tenho muitos calendários para acertar", diz, com o riso contagiante que lhe é típico.

Não significa isto que esteja farta de viagens, depois dos dez meses que passou a percorrer parte do mundo com o marido, Filipe Morato Gomes (jornalista de viagens e editor do site Alma de Viajante), e a filha de ambos, a Pikitim. "Não estou cansada de viajar. Há tantos sítios onde quero ir e não fui... Mas, para já, só quero casa, casa, casa", revela.

O objectivo maior, neste momento, é deixar que a Pikitim recupere a normalidade de uma criança de cinco anos. Que goze os dias de escola, as brincadeiras com os amigos, as descobertas proporcionadas pela professora. Que não seja constantemente inquirida por jornalistas sobre o sítio que gostou mais de conhecer ou como foi a experiência de andar a correr mundo em família. Por isso, Luísa e Filipe decidiram não aceitar os convites para participar, com a Pikitim, em programas de televisão. "Ela está farta", conta a mãe.

A Pikitim vai, por isso, poder descansar entre os amigos que, fruto do esforço do Jardim Escola João de Deus, em Matosinhos, foram acompanhando a sua viagem a par e passo. Seguindo cada viagem de barco ou avião, graças ao mapa colocado na sala de aula, onde a professora ia assinalando os países por onde a criança passava. Vai poder brincar na escola em que lhe cantaram os parabéns, via Skype. E onde comeram o bolo de aniversário que a avó da Pikitim lá levou, no dia em que a menina fez cinco anos, apesar de ela estar, por essa altura, do outro lado do mundo. Graças a este esforço, a Pikitim nunca foi esquecida pelos colegas de turma e eles estavam ansiosos pelo seu regresso. Provavelmente, quase tanto quanto ela estava desejosa de revê-los.

A família chegou ao Porto no dia 18, uma quinta-feira, depois de uma noite mal dormida, desde Miami, nos Estados Unidos, e via Lisboa. Os pais pensaram que a Pikitim ia estar suficientemente cansada para só regressar à escola na segunda-feira seguinte, mas enganaram-se. Apesar de o jet lag a ter feito despertar às 2h da madrugada, como se já fossem 9h, não houve quem a convencesse a ficar em casa e, no dia seguinte, a Pikitim reentrava na escola. "Ela abraçou-se à professora e disse, ‘Finalmente!'", conta Luísa. Levou o seu diário de viagem, carregado dos desenhos coloridos que foi fazendo, para partilhar com os amigos, que a receberam com entusiasmo, um cartaz de boas-vindas e algumas prendas.

Foi na hora certa, acreditam os pais. Quando partiram, pensavam que só regressariam a casa em Dezembro, a tempo do Natal. E durante quase toda a viagem, a Pikitim nunca deu sinais de querer regressar, mas poucos dias depois de chegarem aos Estados Unidos, ela "sugeriu" aos pais que já chegava. Que também tinha uma palavra a dizer sobre o assunto e que estava pronta para regressar a casa. A família decidiu em conjunto antecipar o regresso. Ainda assim, explica Luísa, desde esse primeiro indício dado pela Pikitim, até ao voo que os traria de volta a Portugal, passou-se mais um mês. 

Luísa e Filipe dizem que tudo o que esperavam proporcionar à Pikitim com esta viagem foi alcançado. "Ela ainda é muito pequena e não sabemos o que irá ficar desta experiência, mas acho que cresceu muito, amadureceu imenso. Tinha estímulos novos diariamente e surpreendeu-nos um pouco a enorme curiosidade dela, a capacidade de aprendizagem sobre coisas que lhe interessam, como o inglês, e a capacidade de se desenrascar", diz o pai.

Filipe diz que ele e Luísa ficaram "boquiabertos, uma ou duas vezes" com a desenvoltura da filha - que foi crescendo, ao longo da viagem, deixando para trás a Pikitim muito tímida do momento da partida. Um exemplo: o alojamento onde ficaram nas ilhas Fiji era composto por vários bungalows, com a zona de dormir numa área e a cozinha e espaços comuns a alguma distância. Como ficaram lá dez dias, a Pikitim já se movimentava sozinha entre os diferentes espaços, mas um dia perdeu-se. Uma senhora, vendo-a com ar perdido, perguntou-lhe, em inglês, o que se passava, e a Pikitim não se inibiu. Apontou para um lado e indicou "mama no there", depois apontou para o outro e indicou "father no there". As frases, associadas ao seu rosto de "e agora?" levaram a senhora a acompanhá-la até encontrar os pais, que estavam na cozinha.

Isto foi o que Luísa e Filipe descobriram sobre a filha, mas cada um deles também descobriu algo sobre si próprio. Filipe teve de se adaptar a ter sempre a família consigo - ele que está habituado a fazer as suas viagens de trabalho sozinho. Luísa, que é doida por mar e visitou muitos sítios paradisíacos nesta viagem, dá por si mais encantada com as paisagens avassaladoras da Nova Zelândia ou dos parques naturais dos Estados Unidos do que com o azul do Pacífico. "Afinal, sou mais de árvores e montanhas do que de praias. A gente também se descobre", diz.

Agora, no regresso a casa, o casal lamenta o estado de "depressão colectiva" em que encontrou o país. "Está tudo na mesma mas para pior", diz Luísa. Em Filipe sente-se a revolta, que o deixa mais aberto à possibilidade de partir outra vez (de que Luísa nem quer ouvir falar, para já). "Não me apetece trabalhar para pagar parcerias público-privadas", diz Filipe.

No imediato, hoje, amanhã e nos próximos dias, a vida da família vai passar mesmo por casa. Quanto mais não seja porque ainda há aventuras por contar da Pikitim - viagens que a revista Fugas acompanhou desde o início e que continuará a publicar. Como o Diário da Pikitim só começou a ser publicado algumas semanas depois de a família ter partido, também aqui há "acertos de calendário" para fazer.  Na Fugas, a Pikitim ainda não deixou os Estados Unidos. Na vida real, a escola é, por estes dias, o único destino pelo qual a menina anseia.

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