Fugas - Viagens

  • Paulo Magalhães lançou o site em 2005
    Paulo Magalhães lançou o site em 2005
  • Já foram trocados mais de 16 milhões de postais
    Já foram trocados mais de 16 milhões de postais
  • De Juani_Andres (PT) para aqualisichka (Rússia)
    De Juani_Andres (PT) para aqualisichka (Rússia)
  • De Alma1 (PT) para sarvijaakko (Finlândia)
    De Alma1 (PT) para sarvijaakko (Finlândia)
  • De Tiagooo (PT) para  OVERIJSSEL (Holanda)
    De Tiagooo (PT) para OVERIJSSEL (Holanda)
  • De elsamiragaia (PT) para Juanan (Espanha)
    De elsamiragaia (PT) para Juanan (Espanha)
  • De MaryEly (PT) para  jamkal (Holanda)
    De MaryEly (PT) para jamkal (Holanda)
  • De paulolgnunes (PT) para  Kristina_malina (Japão)
    De paulolgnunes (PT) para Kristina_malina (Japão)
  • De  ana_bela (PT para  LaLangamena (Ucrânia)
    De ana_bela (PT para LaLangamena (Ucrânia)
  • De Anixnunix (PT) para  wuaiqun123 (China)
    De Anixnunix (PT) para wuaiqun123 (China)
  • De  geminiscp  (PT) para  Stoniai (UK)
    De geminiscp (PT) para Stoniai (UK)
  • De  ju20 (PT para ELENA_RYZHOVA (Ucrânia)
    De ju20 (PT para ELENA_RYZHOVA (Ucrânia)
  • De manelmor (PT) para  Efla  (Suíça)
    De manelmor (PT) para Efla (Suíça)
  • De goncas (PT) para  Grivete (Lituânia)
    De goncas (PT) para Grivete (Lituânia)
  • De gulberkkalay (Turquia) para  frleon (Alemanha)
    De gulberkkalay (Turquia) para frleon (Alemanha)

O site português que pôs meio mundo a trocar postais ilustrados

Por Ana Beatriz Saraiva

Há sete anos, Paulo Magalhães criou o Postcrossing. Depois de mais de 16 milhões de postais trocados por todo o mundo, o site, com centenas de milhares de utilizadores, continua a crescer. E até a Holanda já homenageou o projecto com um selo.

“Março foi o melhor mês de sempre do Postcrossing: pela primeira vez, ultrapassámos o meio milhão de postais trocados num só mês”. Eis o melhor sinal de que o postal ilustrado está aí para as curvas. Pelo menos, entre os 400 mil utilizadores deste site criado por um português, Paulo Magalhães. Espalhados por mais de duas centenas de países e responsáveis por mais de 16 milhões de postais trocados, perpetuam esta velha tradição pelo prazer da troca de imagens impressas e da escrita de mensagens pelo seu próprio punho.

"Num mundo de Twitter, Facebook e e-mail, fazem cada vez mais falta formas de comunicação com significado, que não sejam descartáveis, distantes", diz-nos Paulo Magalhães, fundador do Postcrossing. "Um postal é perfeito para isso”, acrescenta. ”É pessoal, íntimo, táctil. Alguém o escolheu, escreveu à mão uma mensagem só para ti, colocou um selo e depois enviou-o por correio". Magalhães, um engenheiro informático que “adora receber correio”, lançou o seu site em Julho de 2005 com o objectivo de ligar pessoas de culturas e opiniões diferentes através da troca de postais.

A ideia nasceu do gosto pessoal do português, actualmente a viver na Alemanha, de receber correio e postais em particular: "mensagens curtas e simples, ilustradas com uma imagem que mostra uma pequena janela para outro ponto do mundo", diz. "É reconfortante receber correio de conhecidos, mas receber uma mensagem de uma pessoa aleatória, e de um país longínquo, ou de uma cidade de que nunca se ouviu falar, é mágico", sublinha, acrescentando que isso "transforma a caixa de correio numa caixinha de surpresas".

O processo é simples, gratuito, e está ao alcance de todos. O primeiro passo é o registo no site (http://www.postcrossing.com). Depois basta pedir a morada de outro utilizador, enviar-lhe um postal, e esperar que a troca comece. Por cada postal enviado, recebe-se um de volta. Cada vez que se recebe um, regista-se no site. Aqui, podem admirar-se os postais digitalizados e listá-los por países ou postcrossers. E há utilizadores de todo o género e idades. Há mesmo quem já tenha uma colecção de milhares de postais.


Renne, veterana do Postcrossing

É o caso da norte-americana Renee Brandow, 51 anos, utilizadora do Postcrossing quase desde o início. Descobriu o site por acaso, em 2006. "Trabalhava numa biblioteca pública, e um dia foi lá um chefe dos escuteiros perguntar-me se conhecia alguma maneira de fazer penpals, amigos por correspondência, porque queria fazer isso com o seu grupo de crianças”, conta. Pesquisou e achou o Postcrossing. "Para ter a certeza de que era seguro experimentei enviar alguns postais antes de falar dele ao chefe. Quando recebi o meu primeiro mostrei-lhe o site. Ele e as crianças gostaram da ideia e mandaram muitos postais".

Hoje, Renee é a única do grupo que continua com a conta activa. E a paixão pelo postal persiste, até porque lhe está no sangue: bisavô, avô, pai e até tios trabalhavam para os correios e também eram apaixonados pelos bilhetes-postais. “Quando morreram fiquei com todas as colecções deles e por isso o Postcrossing pareceu-me uma coisa natural, que eu já fazia há muito tempo", confessa Renne, cuja colecção já ultrapassou os nove mil postais. Só no Postcrossing, já enviou quase cinco mil para 116 países. Recebeu cerca de 4800. "Nunca conheci ninguém que não gostasse de receber um postal. Uso-o para todo o tipo de correspondência, não só para o postcrossing", admite.


“Escrevi a palavra saudade”

Com menos currículo como “trocadora de postais”, encontramos Adriana Tavares. Tem 21 anos, e está a estudar Línguas, Literaturas e Culturas no Porto. Ouviu falar do Postcrossing há pouco tempo através de uma amiga. Enviou o seu primeiro postal, em Outubro, para a Bélgica. "Foi a primeira vez que escrevi para uma pessoa desconhecida. Escrevi a palavra saudade e a tradução do que quer dizer em inglês", conta. E acrescenta satisfeita: "Enviei uma foto simples, bonita e colorida da Baixa do Porto". Para Adriana, a iniciativa de Paulo Magalhães "é excelente". "Para além de ser um projecto de acesso fácil e de podermos conhecer pessoas e culturas novas, podemos praticar línguas, sobretudo o inglês, ao mesmo tempo que mantemos viva a emoção de receber e enviar postais". Mas, mais importante do que isso, para Adriana, é o facto de ter sido um português a desenvolver o projecto. "Serve para mostrar aos estrangeiros que também temos originalidade", garante, ansiosa por receber o seu primeiro postal.

Já João Soares, também com 21 anos mas a estudar Medicina em Lisboa, registou-se no Postcrossing quando tinha 16. "Foi uma atracção imediata. Tinha a garantia de que ia receber sempre postais aleatórios de muita gente se me comprometesse a trocar também", lembra. Na altura chegou a criar duas contas, tamanha era a ânsia em conhecer culturas e paisagens além-fronteiras. Quando entrou na Faculdade, porém, deixou de ter tempo para a actividade e parou. Não sabe quantos postais tem, talvez perto de 200. Da colecção realça aqueles que são oriundos da Finlândia, Lituânia, e de alguns países asiáticos.

"Os finlandeses costumavam mandar muitos postais dos Moomins, que eu amava receber, e da paisagem nórdica", admite acrescentando que também se lembra "da enorme beleza que os postais asiáticos traziam consigo" e até "de uma praça em Kaunas, na Lituânia” que consegue restituir de vários ângulos em vários postais. Realça também aqueles comerciais ou com flores que o levavam a sentir-se "sempre um pouco traído", já que "tinha sempre o cuidado de escolher os postais mais identificativos do Minho ou de Portugal".

João, de Viana do Castelo, tinha preferência por postais de cariz cultural, étnico ou arquitectural. Mas há gostos para tudo e no Postcrossing há quem peça, na sua página pessoal, outro tipo de postais. Há quem os prefira com animais, com comboios ou com flores. Há quem os queira da Hello Kitty, do Harry Potter e, entre muitas outras coisas, de instrumentos musicais. E há também aqueles que dão algumas sugestões, mas não são muito exigentes e gostam de todo o tipo de postais.

Como Nicole Beland, 19 anos, norte-americana. Nicole ouviu falar do Postcrossing há pouco tempo. Inscreveu-se há três meses e já enviou 17 postais. Diz que a maior parte é da Walt Disney, na Flórida, porque "muita gente adora a Disney" e porque gosta de mostrar às pessoas a sua região e a sua cultura.

Na sua página pessoal, Nicole diz que não é muito exigente em relação aos postais que lhe enviam e que gosta de todos, mas dá algumas dicas. "Harry Potter, algum facto interessante do teu país, paisagens, e animais" são as sugestões da adolescente que diz "que este é um projecto óptimo para todos aqueles que gostam de receber correio não electrónico"


Com o postal, “uma pessoa sente-se mais feliz”

Num tempo em que a maioria das pessoas envia e recebe mensagens via telemóvel ou net, a troca de postais parece uma actividade cada vez mais anacrónica. Mas os números do Postcrossing parecem mostrar o contrário. São cada vez mais os interessados por este mundo, em que o deslumbramento pelos métodos de comunicação mais antigos se sobrepõem aos mais modernos. 

A propósito, Adriana Tavares comenta que "uma pessoa sente-se muito mais feliz e aconchegada se receber um postal do que se receber um e-mail ou uma SMS". João acrescenta: "São realidades díspares. Enviar um e-mail ou uma SMS pode ser barato e rápido, mas não consegue ser palpável nem físico. Tenho postais que nunca me farto de olhar. Um e-mail é capaz de me cansar depois de algum tempo".

O criador do site concorda. Para Paulo Magalhães, há utilizações adequadas para o e-mail e a SMS, mas também há mensagens para as quais os postais são melhores. "A facilidade e o factor instantâneo do e-mail são imbatíveis e não me ocorreria usar postais para comunicação profissional", admite. No entanto, os postais "demonstram interesse e dedicação por parte de quem os envia: mostram que somos relevantes para essas pessoas. O e-mail é cada vez mais distante, frio, descartável, desprovido de significado", acrescenta o engenheiro informático. E lembra: "Quem é que imprime e-mails e os cola no frigorífico lá de casa?".


A segurança é também o segredo do negócio

Uma das grandes dúvidas dos participantes do Postcrossing prende-se com a segurança, já que têm que fornecer as suas moradas a terceiros para que o sistema funcione. No entanto, Paulo afirma que são tomadas todas as medidas para que os utilizadores estejam seguros: "Nós levamos a privacidade e a segurança dos dados dos nossos utilizadores bastante a sério. Uma grande parte do trabalho de gestão do projecto é relacionado com manter estes dados seguros".

O gosto pela troca e o bom funcionamento do site parecem ser os pilares do site, onde se pode saber, aliás, em tempo (quase) real quem enviou e quem recebeu. Ou ficar a saber que são trocados 299 postais por hora e que andam mais de 490 mil postais a viajar.

Com o número, tanto de utilizadores como de postais trocados, a não mostrar sinais de abrandamento, o fundador confessa-se orgulhoso do seu projecto. "É muito bom saber que a cada minuto que passa, há pessoas algures no mundo a receberem um sorriso na caixa de correio, através de algo tão simples como o postal – pessoas de contextos e culturas muito diferentes que de outra forma nunca se conheceriam", afirma, antes de realçar o facto de que, em 2011, os correios Holandeses (PostNL) "decidiram criar um selo comemorativo do Postcrossing que pode ser enviado para todo o mundo", e que é a soma de tudo isto que transforma este projecto "em algo que dá bastante satisfação trabalhar". 

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