Fugas - Viagens

  • "Estou mais na caravana do que em casa. Ando sempre por aí" DR (imagem captada do vídeo)
  • "Sempre gostei muito de viajar" DR (imagem captada do vídeo)
  • "É uma opção de vida. Escolhi que enquanto tivesse saúde e noção do que faço, continuaria a fazer aquilo que gosto": viajar DR (imagem captada do vídeo)
  • "Se ficasse em casa a lamentar-me não conseguiria depois regressar àquilo que gostava tanto" DR (imagem captada do vídeo)
  • "Vou quando quero e me apetece, não tenho problema nenhum" DR (imagem captada do vídeo)
  • Se o filme ajudar agora
    Se o filme ajudar agora "alguém a perder o medo de viajar e a conhecer outros países, acho que já valeu a pena" DR (imagem captada do vídeo)
  • "Já não é propriamente turismo, é viver naquele ambiente uns meses" DR (imagem captada do vídeo)
  • "Enquanto não tiver medo, vou andando" DR (imagem captada do vídeo)
  • A viajante, abraçada ao neto, Luís Cardoso, autor do vídeo, e a equipa de apoio
    A viajante, abraçada ao neto, Luís Cardoso, autor do vídeo, e a equipa de apoio DR/Pedro Pereira
  • "A van da minha avó", uma viagem de carinho DR (imagem captada do vídeo)

A avó das viagens

Por Mara Gonçalves

Aos 78 anos, seis filhos e onze netos, Maria Amélia viaja sozinha e sem medos. Por Portugal e, no Inverno, por Marrocos. Sempre na sua autocaravana. Um neto resumiu a história da avó aventureira em vídeo. Resultado: um êxito na net. Com muito carinho.

Às vezes, os super-heróis não precisam de ter superpoderes, usar fatos mirabolantes ou salvar o mundo. Às vezes basta inspirar quem os rodeia. Pelo menos é no que acredita Luís Cardoso, que decidiu partilhar a história da sua super-heroína no vídeo "A van da minha avó", que soma dezenas de milhares de visualizações. Aos 78 anos e viúva, Maria Amélia Fernandes continua a viajar sozinha numa autocaravana, entre recantos portugueses e principalmente Marrocos, onde descobriu uma segunda casa para passar o Inverno. "É uma opção de vida. Escolhi que enquanto tivesse saúde e noção do que faço, continuaria a fazer aquilo que gosto": viajar.

Há 12 anos que a rotina é a mesma. Começam a chegar os ares frios de Novembro e Maria Amélia Fernandes arruma a casa, senta-se ao volante da autocaravana e ruma sozinha até Marrocos. Passa o Inverno sob temperaturas amenas e com amigos marroquinos. Em Março, faz o caminho de volta e regressa a Gafanha da Nazaré, perto de Aveiro. Mas não por muito tempo. "Estou mais na caravana do que em casa. Ando sempre por aí", conta. Conhece Portugal de ponta-a-ponta, grande parte de Marrocos, muito da Europa e até chegou a andar na apanha do bacalhau pelos mares do Canadá. "Sempre gostei muito de viajar", conta.

Quando era mais nova, Maria Amélia Fernandes foi muitas vezes ter com o marido, que era comercial na marinha mercante, visitando vários países. Cedo compraram também uma rulote, onde passavam as férias, iniciando o gosto pelo caravanismo. Por isso, pouco depois do marido falecer, decidiu que iria continuar a percorrer as localidades de que gostava, para "aproveitar a companhia dos amigos e desanuviar". "Se ficasse em casa a lamentar-me não conseguiria depois regressar àquilo que gostava tanto". E foi assim que um dia, aceitando o convite de um casal amigo de Santo Tirso, se apaixonou por Marrocos.

Pensava que iam passear pelas várias cidades, mas acabou estacionada à beira-mar em Agadir durante quase dois meses. "Fiquei surpreendida, porque me deparei com uma zona onde havia mais de duas mil autocaravanas e onde não tínhamos dificuldades nenhumas em estar com todo o conforto". Nunca mais deixou de ir. Ao fim de três anos, os companheiros com quem costumava fazer a viagem quiseram vir embora. Mas Maria Amélia decidiu ficar. "A partir daí vou sozinha, venho sozinha, não estou dependente de ninguém, vou quando quero e me apetece, não tenho problema nenhum".

Desde então, visita o país em várias alturas do ano, já conheceu as principais cidades marroquinas e, há dois anos, viajou pelo deserto. Em cada Inverno, o destino é garantido: Marrocos. Chega Novembro e segue ao volante da autocaravana em direcção a Agadir, ficando por esta cidade costeira durante três meses. Depois faz pequenas viagens de 100/200 quilómetros pela região e em Março regressa a Portugal. "Já não é propriamente turismo, é viver naquele ambiente uns meses", afirma.

E enquanto lá está, o dia-a-dia é semelhante: faz croché (mas, confessa, nos últimos tempos "muito raramente, porque os netos agora não dão valor"), vê televisão, joga às cartas, anda de bicicleta e a pé, faz compras no souk, está com os muitos amigos que fez. "Faço um pouco aquela vida de cultura marroquina, gosto muito da cultura deles e tenho realmente grandes amigos lá", conta. "Vou muitas vezes comer tagine a casa deles, várias famílias convidam-me para ir a festas, [até] já fui convidada para casamentos", recorda.

Já atravessou Portugal "por todos os lados", foi várias vezes à Alemanha ainda com o marido, fez excursões a Espanha e, há cerca de cinco anos, pegou na autocaravana e em duas netas, de 15 e 20 anos, e foram as três pela Europa até à Polónia e regressaram. Mas onde realmente gosta de "estar quieta, a viver, é em Marrocos", onde se sente "ainda mais confiante que em Portugal". "Ando à vontade, saio quando tiver de sair, não tenho medo de parar em qualquer sítio dentro da cidade" ou "de sair e ser atacada", explica. Por isso passa lá todo o Inverno, inclusive o Natal.

Depois de ter perdido o marido, ainda tentou passar a época natalícia com os seis filhos e onze netos, como habitualmente, mas "custou-lhe muito", eram um casal "muito unido". Desde então, optou por natais marroquinos, mas não falha as tradições: "Levo sempre o bacalhauzinho, faço umas fatias, umas rabanadas, uma amiga marroquina leva-me sempre um bolo e [os amigos] enchem-me sempre a caravana de rosas porque sabem que eu gosto muito", conta. Durante a noite fala com a família no Skype e aguenta assim a separação. "É um dia como outro qualquer, encaro isso como a vida que escolhi".


"A van da minha avó", o filme

"Decidi fazer este tributo à minha avó porque acredito que existem super-heróis que nos rodeiam e muitas vezes são da nossa família ou amigos próximos", explica Luís Cardoso, neto de Maria Amélia Fernandes e autor do vídeo "A van da minha avó". Além disso, acrescenta, "ela é um exemplo de que devemos encontrar sempre algo que nos faça felizes". E, como fazer vídeos o deixa feliz, foi "juntar o útil ao agradável".

No início de Março foi ter com a avó a Marraquexe, na companhia de dois amigos, e começou as filmagens pelo souk da cidade. "Estivemos dois dias em Marraquexe, foi comigo até Agadir e depois voltei a levá-lo ao aeroporto", conta Maria Amélia Fernandes. Estiveram uma semana juntos em Marrocos. "Meteorologicamente falando, foi a pior semana do ano, choveu quase todos os dias. Mas visitámos sítios interessantes, conversámos muito e acima de tudo matei saudades de estar com a minha avó", conta Luís Cardoso, recordando que até aos 14 anos passava as férias de Verão com os avós no Algarve.

"Era brincar de sol a sol, muitos pães com manteiga, centenas de mergulhos, baldes cheios de conchas, muitas lições de vida pelo meio e histórias para recordar", conta. Agora o vídeo de homenagem à avó é também um sucesso que acabou por aproximá-los "ainda mais". "Ele realmente tinha-me dito que queria ir lá fazer um vídeo comigo", mas "nunca me passou pela cabeça", revela Maria Amélia Fernandes. "Gostei muito que ele fosse lá ter", confessa. E se o filme ajudar agora "alguém a perder o medo de viajar e a conhecer outros países, acho que já valeu a pena". Palavra de uma avó que, no vídeo que a está a celebrizar, garante: "Enquanto não tiver medo, vou andando. Em Marrocos ou em Portugal, enquanto eu puder sentar-me ao volante e sentir-me segura, não paro. Mesmo que caia para o lado e acabe assim mesmo ao volante. Não tenho problema nenhum".

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