Fugas - Viagens

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O mundo também se descobre a cavalo

Por Andreia Marques Pereira

É pouco comum entre nós, mas lá fora há muito que se galopa entre os amantes da natureza. O turismo equestre move paixões e Portugal espera mover-se com elas. Afinal, diz quem sabe, tem argumentos de peso: cultura equestre, raças autóctones, enquadramento natural. Fomos ao Gerês, ao Ribatejo e Alentejo descobrir os trilhos dos cavalos nacionais.

Quando chegamos, somos os únicos que não sabemos o que fazer. Elas saem do carro e os passos levam-nas seguras: umas entram no estábulo, outras dirigem-se ao campo onde pastam garranos. Carmen Nagel, sorriso largo, faz festas ao Trovão, castanho-escuro, bem delineado. Em pouco vai começar o ritual: a atribuição de cavalos, o aparelhamento — só Susan Metz, mãe de Carmen, monta sempre o mesmo cavalo, o lusitano Jojó, Joy chama-lhe ela, porque é a única que lhe tem despertado simpatia. “Tem andado cansado e rezingão”, explicam-nos. Parece não haver pressas por aqui, ainda que a manhã tenha começado atrasada. Está relaxado, o grupo — o milagre deste cantinho do Norte português, “longe do turismo de massas e em paisagens deslumbrantes”, dizem-nos. Foi por eles que vieram: pelo prazer de o usufruir a cavalo.

É o quinto dia destas férias equestres. Para todas uma estreia em Portugal. Karen Kristan explica a opção: “É Outubro e está quente. Onde mais poderia montar nestas condições?” Em Portugal, Castro Laboreiro conquistou-a “pelos cavalos, lobos e natureza”. Este é o triunvirato que todas apontam como motivo para a escolha de Portugal para o turismo equestre, a “actividade turística oferecida comercialmente em que o equino ou muar representa o meio de transporte e um dos principais atractivos”, lê-se no estudo elaborado pela TURIHAB para o Turismo de Portugal (TP), que o colocou como um dos objectivos para o Plano Estratégico Nacional de Turismo 2015 (PENT 2015) como “um segmento do turismo de natureza particularmente relevante para a qualificação da oferta turística ao permitir diversificar os serviços de animação disponíveis, assim como dinamizar iniciativas regionais em territórios com recursos naturais e patrimoniais relevantes”. Aqui estamos no Parque Nacional da Peneda-Gerês, que é o cartão-de-visita português para todo o grupo — nunca nenhuma havia estado no país; para três uma estreia no turismo equestre, para duas, uma paragem mais num hábito já enraizado. Para Portugal, um pequeno passo neste nicho do mercado turístico que começa a ganhar alguma visibilidade.

A curiosidade pelos garranos (raça autóctone) é assumida pelas alemãs — notavelmente por Susan, que esteve para comprar um, acabando por optar por um cavalo islandês, que “tem basicamente as mesmas características” (não muito alto, forte). Louvam-lhes as qualidades (a tranquilidade, a segurança, a força que escondem na baixa estatura) e gostam de os ver “em estado selvagem”, o que é proporcionado pela região eleita para as férias; assim como os lobos (dois dias antes, todos se aventuraram na noite para ouvi-los uivar), que constituem ainda um interesse muito particular de Pedro Alarcão e Anabela Moedas, o casal que fundou a Ecotura depois de sete anos a trabalhar sobre (com) eles – primeiro para um livro, depois para documentários. Ele é fotojornalista, ela jornalista. Quando o trabalho terminou já não quiseram regressar a Lisboa: trouxeram as filhas e fixaram-se em Castro Laboreiro, montando a Ecotura em 2006. “A Ecotura – Ecoturismo e Turismo Equestre no Parque Nacional Peneda Gerês dedica-se à organização/realização de passeios, equestres e pedestres, em território do lobo”, lê-se na declaração de actividade da empresa.

Se o turismo equestre implica, ainda de acordo com fonte do TP, “a realização de percursos a cavalo [que] permite a fruição turística do meio natural e dos atractivos culturais da região”, este grupo da Ecotura é toda uma síntese programática. Não estamos com iniciantes. No grupo que esta semana calcorreia trilhos pelo Gerês, todas (curiosamente todos os participantes são mulheres, o que vai, aliás, ao encontro do perfil do público deste tipo de turismo) têm experiência q.b. com cavalos: basta de dizer que apenas Karen não possui cavalo; Cordola Schneider-Dücker trabalha na área e a filha participa em competições — a filha não veio com ela, veio a amiga Andrea Brück, cúmplice nestas andanças, de férias e de rotinas. “Ela monta os meus cavalos, eu os dela.” Não sendo iniciantes, os dias passam-se mergulhados na paisagem, seja no planalto, seja nos vales de carvalhais, em dias que alternam entre o que chamam “curtos” e “longos”.

Apanhamos um “curto” e isto significa que só se monta de manhã, a tarde é reservada a outras actividades — hoje é um percurso pedestre. “Temos um máximo de cinco horas de sela por dia”, explica Anabela, “e vamos adaptando os passeios aos grupos”. Nunca há misturas entre experientes e iniciantes — estes, nos dias curtos, por exemplo, têm aulas: vão aprendendo o passo, o trote e o galope, sempre “em situações controladas”. Não que agora se organizem muitas férias de iniciantes, habitualmente procuradas por portugueses. “Tivemos sorte, quando a crise se começou a notar já estávamos a dar o salto para o estrangeiro.” E este é um mercado mais experiente. O grupo é todo alemão, por coincidência, mas também por tendência. “O nosso público é sobretudo da Alemanha e Reino Unido”, aponta Pedro Alarcão — não só da Ecotura, é um facto atestado por dados do estudo do TURIHAB. Na verdade, actualmente, 90% dos clientes da Ecotura são estrangeiros; os portugueses vêm menos e quando o fazem é para experiências breves. “Os programas de um dia foram encurtados: uma manhã com a tarde opcional”, conta Pedro, para permitir apresentar preços mais baixos e tentar contrariar a queda da procura. São quase sempre aulas.

Altar dos lusitanos

Um dos factores que o TP aponta como vantagem na atracção deste tipo de turistas é o facto de Portugal ser um país “com cultura equestre com projecção no estrangeiro graças ao cavalo lusitano”. É, de entre as três raças autóctones (com o garrano e o sorraia), o cavalo mais reconhecido internacionalmente e exibe-se por cá em “destinos tradicionais associados ao cavalo”, como a Golegã, Ponte de Lima ou Alter do Chão. E aqui permite-se fazer uma distinção dentro do turismo equestre: por um lado, o turismo a cavalo, “quando se desenvolve a prática da equitação ou as deslocações implicam o transporte a cavalo”; por outro, o turismo do cavalo, que “engloba todas as actividades ligadas ao mundo equestre sem que se desenvolva a prática da equitação”. As feiras do cavalo de Ponte de Lima e da Golegã (1 a 11 de Novembro: será a XVIII Feira Nacional do Cavalo e a XV Feira Internacional do Cavalo Lusitano) oferecem provas equestres, exibição e compra e venda de cavalos — para um público especializado, aquele que percorre “rotas que permitem aumentar o conhecimento em relação ao cavalo”, explica o TP.

Este é o tipo de público que frequenta em maioria a Coudelaria de Alter. “Procuram algo específico”, aponta Francisco Beja, o responsável, “aulas para melhorar determinados aspectos ou o know how para desbastar e ensinar cavalos”. É um segmento muito particular no turismo equestre, que “não é”, sublinha Francisco Beja, “a principal vocação da coudelaria”. “Pode vir a ser…”. Neste momento de transição, em que foi extinta a Fundação Alter Real e a gestão da coudelaria passou para a Companhia das Lezírias, o futuro está em aberto. Porém, o PENT faz-lhe referência na sua avaliação do turismo equestre no Alentejo, constatando que se verifica “a necessidade de desenvolver serviços e sua disponibilização ao turista, em particular no que diz respeito à Coudelaria de Alter”. Há passos a dar, admite Francisco Beja, assumindo a limitação da oferta no turismo equestre, sobretudo no que ao turismo a cavalo diz respeito: a equitação não faz parte das visitas guiadas (sempre diferentes: a ideia é acompanhar o dia-a-dia da coudelaria e aqui anda-se ao ritmo das estações do ano e suas vicissitudes — tanto pode ver-se uma sonografia na época da reprodução como desmame e os primeiros passos dos poldros), embora exista a opção de montar a cavalo, apenas em picadeiro, com marcação prévia; não há, por exemplo, o (cada vez mais) popular randonné que permite visitar a paisagem a cavalo. “Não somos centro hípico”, nota. São uma coudelaria e isto significa que se dedica à criação, protecção e desenvolvimento de cavalos — lusitanos, com ferro Alter Real. É essa a sua missão desde a sua fundação, em 1748, no seguimento da política coudélica idealizada por D. João V, que impôs a produção nacional de cavalos de sela, de Alta Escola, lê-se no site.

Na Coudelaria de Alter parece respirar-se tradição, que se reflecte no conjunto de edifícios, imponentes, brancos com lista amarela, que se desvendam em pátios e se seguem em labirinto — “é uma espécie de cidade dos cavalos”, refere Francisco Beja. Chegamos a tempo de ver o início de uma aula de equitação da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão — os alunos, com traje de montar da escola, levam os cavalos pelas rédeas até ao picadeiro Gomes da Silva, um dos muitos que aqui existem, cobertos e descobertos. Quem vem não pode deixar de reparar nas Casas Altas, o edifício mais antigo e mais emblemático da coudelaria (visto de lado tem algo de fortaleza, parede branca altíssima com as janelas a espreitarem só em cima), que era a cavalariça original e é agora a recepção e centro de interpretação, espaço nevrálgico para perceber a organização e as valências da coudelaria.

O grand carrier é a grande sala de festas da coudelaria, onde se organizam provas diversas e onde Duarte Nogueira treina — compete em dressage. Acabamos por não nos cruzar com ele, que orienta o trabalho dos três monitores e dá aulas mais avançadas. Acabamos também por não nos cruzar com nenhum turista — nem para as visitas guiadas, nem os que vêm para os estágios com os tais objectivos muito específicos. “Normalmente têm uma hora de aulas e o resto do tempo participam nos trabalhos da coudelaria”, explica Francisco Beja. São aulas altamente especializadas, muitas vezes na vertente da competição — é aí que entra Duarte Nogueira, que “mostra a tecnicidade, a arte”.

Quase três séculos depois da fundação, o ferro Alter Real é famoso e há vários campeões saídos daqui — outros na forja, como o Vieheste, que está no Brasil a ser preparado para os jogos olímpicos de 2016, onde vai ser montado pelo cavaleiro brasileiro Manuel Tavares Almeida. Há cerca de 500 cavalos na coudelaria — “efectivos, não à manjedoura, e da Coudelaria de Alter e Coudelaria Nacional” —, dos quais 20 a 25 são todos os anos colocados à venda em leilão; outros são seleccionados para competição (reprodutores), para a Escola Portuguesa de Arte Equestre e para as eguadas. Os animais podem ser vendidos a partir de qualquer idade, mas o valor sobe quando têm performance testada e confirmada — aqui, tenta-se assegurar isso.

Tudo começa pelo desbaste dos animais (um trabalho para suavizar os movimentos do cavalo, habituá-los ao contacto com o homem, a aceitar o seu peso nos andamentos), a partir dos três anos, altura em que são recolhidos dos campos. No Pátio D. João VI encontra-se o maior centro de desbaste da coudelaria, com 70 boxes e um picadeiro coberto. É aqui que encontramos os três equitadores que, quando não têm aulas para monitorar, se dedicam ao desbaste e ensino dos cavalos — há alguns espelhos colocados estrategicamente nas paredes, para os cavaleiros avaliarem a postura dos animais. Aos campos (são 800 hectares no total), vamos em busca da eguada. Percorremos trilhos quase invisíveis, passamos cancelas — o ritual é habitual: abrir e fechar a cancela, sempre —, observamos a erva parda e a natureza vestida de Outono. “Há veados, gamos, javalis, lebres”, enumera Francisco Beja, mas não vemos nenhum. Nesta manhã, até as éguas também parecem esquivas, mas apenas nos trocaram as voltas e acabamos por encontrá-las junto à entrada — junto às manjedouras, onde se acumulam fardos de feno. “Ouviram o barulho do carro e vieram para aqui”, explica Francisco. São dezenas, todas castanhas, e ele conhece-as pelo nome (atribuído pelo ano de nascimento e o nome do pai, a primeira letra da primeira e segunda sílabas, respectivamente). “Sou eu que as selecciono, vejo crescer, oriento a inseminação”, justifica. Enjeitada, Claque, Babilónia, Donjela, Beringela, “filha do Rubi, que foi aos jogos olímpicos, um dos melhores lusitanos de sempre, ferro de Alter”… — estão aqui as mães de todos os cavalos que saem de Alter.

Em terra de campinos

A Tapada de Braço de Prata está quase sonolenta nesta tarde soalheira de Outono e a pequena alameda de altas palmeiras que nos conduz até às cavalariças transporta-nos para outras geografias. Este é centro nevrálgico do turismo equestre na Companhia das Lezírias (CL), uma empresa quase mítica, com a sua evocação de milhares de hectares de terrenos devotados à agricultura e natureza mais selvagem. À porta dos estábulos brincam, irrequietos dois Jack Russel, a Tonicha e o Oscar. “São os cães de cavalariça”, explica André Machado Faria, o responsável pela área do turismo equestre da CL (uma das prioridades do PENT 2015), “estão sempre a apanhar ratos”. Ruben Peniche (que para o ano vai estrear-se no toureio a cavalo, depois de ter andado pelos forcados) monta o Baiuco, que, perceberemos mais tarde, é a estrela entre os 12 cavalos (no futuro terão todos ferro da CL) disponíveis para os visitantes — primeiro no picadeiro, sob o olhar atento de André; depois, pela propriedade. “Está redondo”, ouviremos — explicação: está harmonioso nos movimentos.

É necessário que assim estejam todos os cavalos para poderem servir a todo o tipo de cavaleiros. Podem ser iniciantes ou experientes. Aqui, na CL, a oferta é variada, ainda que recente — desde actividades de aprendizagem a passeios em carro de cavalos ou a passeios a cavalo, com guia, de algumas horas ou dias. Os portugueses, explica André, vêm muito para passeios em carro e iniciação a cavalos, “normalmente casais que querem ter a experiência”; os estrangeiros procuram passeios de vários dias, já têm experiência de montar. Podem chegar a ficar seis dias com a CL – não na CL: os programas mais longos dividem-se habitualmente entre a CL e os parques de Sintra, com possíveis “desvios” até à Tapada Nacional de Mafra e ao palácio de Queluz, onde funciona a Escola Portuguesa de Arte Equestre. Tivéssemos vindo duas semanas mais cedo e ter-nos-íamos cruzado com chineses, que parecem ter descoberto a CL para as suas férias equestres: não só tem direito a referências em revistas da China, como de lá chegam regularmente turistas. “É o nosso melhor mercado, neste momento”, assume André.

Com milhares de hectares à disposição dos cavaleiros, os passeios que se confinam à CL nunca são monótonos: aqui, na charneca (em oposição à zona de lezíria), onde se localiza o centro de turismo equestre, as paisagens variam entre os arrozais (por estes dias amarelados, transformando a paisagem num quadro de Van Gogh), montado de sobro, mato (pinheiros mansos e bravos, sobretudo), vinhas e uma das maiores barragens privadas do país (Alcobrão). Quem fica um dia tem direito a um “almoço de campo”, com toalha de pano, garfo e faca, vinho e especialidades locais — o “bacalhau à campino” é o mais requisitado. E em terras de campinos, de enraizadas tradições equestres, quem fica mais tempo tem sempre a oportunidade de se envolver na cultura da lezíria: quando é possível, uma incursão a uma tourada; e, sempre que se quer, uma “iniciação” às lides do toureio a cavalo ou um passeio entre manadas de vacas.

Campo de desportos equestres, com sobreiros a salpicá-lo, o cercado de poldros, a pista de obstáculos de atrelagem — vamos atrás dos cavalos. No regresso, o pátio entre o picadeiro e o estábulo torna-se o balneário dos cavalos. “Eles adoram.” As mangueiras refrescam-nos, a escova retira a água. Se os turistas querem, podem fazê-lo; “tudo depende da sua vontade”.

Sem cavalgadas

Em Castro Laboreiro essa é quase uma exigência dos turistas estrangeiros — não tanto dos portugueses. “Eles querem limpar os cavalos e os estábulos, querem ver o tractor…”, refere Pedro Alarcão. Antes de montar, querem aparelhar os cavalos. É um ritual importante, afirmam as visitantes: “Para conhecer o cavalo e para ele nos conhecer”. Vão falando com os animais enquanto os escovam, limpam os cascos, colocam a manta e a sela, os estribos e os arreios. Quando é hora de partir, a comitiva vai rodeada pelos cães da casa que acompanham o percurso — gatos e burros (para burricadas) completam a família Ecotura. Vão lusitanos e garranos. Uma mistura desde sempre assumida pelos proprietários, que procuram ter uma representatividade boa das duas raças. As cavaleiras aprovam e ressalvam o carácter especial dos cavalos daqui — “são muito diferentes”, dizem, “na Alemanha nunca poderíamos montar um garanhão, por exemplo”.

Vegetação rasteira, pedras, montes rapados e, ao longe, cumes multiplicando-se entre a luz diáfana — é o planalto que se abre. Vão a passo com alguns momentos de trote e galope, quando se proporciona. “A nossa filosofia é: os cavalos não passam o dia a galopar”, explica Pedro Alarcão, “tem de se ter em conta o bem-estar deles”. Deixamos de avistar o grupo quando este sobe para o Sítio do Cavalo Morto; voltamos a encontrá-lo em Rodeiro, antiga branda, situada na margem do rio Laboreiro — atravessam o casario tradicional de pedra, espreitam um antigo forno comunitário e avistam os moinhos de água no vale.

De regresso, o ritual de tratamento de cavalo repete-se. Cada uma trata do seu — como o passeio foi curto, o banho de mangueira é substituído por banho de esponja; limpam-se os arreios; escovam-se crinas e caudas; fazem-se mimos. Depois, é altura da liberdade: Anabela abre e fecha cercas, os cavalos são distribuídos pelos campos em redor. Vão sozinhos, saltam os muros de pedra e desaparecem na paisagem. À noite voltam, sozinhos, também — sabem que é aqui que jantam.

 

Ecotura
Portelinha - Castro Laboreiro
4960 Melgaço
Tel: 967442217
E-mail: ecotura@ecotura.com
www.ecotura.com

Na Ecotura, os programas de férias equestres incluem caminhadas regulares de descoberta das paisagens e tradições da serra da Peneda e, permita o tempo, mergulhos em piscinas naturais ou banhos em águas termais. A observação de animais selvagens não é garantida, mas as tentativas sim (inclusive à noite), e a gastronomia regional faz parte da experiência — ao pequeno-almoço e almoço (este normalmente piquenique com produtos regionais) incluída no pacote oferecido. Para o ano está previsto o início da realização de trilhos contínuos. “Ainda não os fazemos porque não há sítios para os cavalos dormirem”, lamenta Pedro Alarcão. “Em França, as casas de turismo rural têm boxes ou campos vedados já a contar com cavalos”, compara.

Preços: Férias equestres: 800€ (sem jantar, alojamento em casas de turismo de habitação); manhã com cavalos: 35€.

Companhia das Lezírias
Monte de Braço de Prata, ?Porto Alto
2135-318 Samora Correia
Tel.: 263 650 600
926 729 180/ 961 523 119
E-mail: andre.mfaria@cl.pt; pequena.companhia@cl.pt
www.cl.pt

A cerca de 40 quilómetros de Lisboa, a CL é por vezes chamada de “pulmão” da capital: são 18 mil hectares de terreno que se dividem em duas áreas distintas. De um lado, a lezíria, terreno plano, sem vegetação, à beira-Tejo e Sorraia, ocupada por arrozais e gado bovino — e, desde recentemente, casa do EVOA – Espaço de Visitação e Observação de Aves, que traz o birdwatching à zona húmida mais importante do país. Do outro, a charneca, onde se encontram o centro de turismo equestre, a coudelaria e os bungalows (com quarto, sala, cozinha, WC e um apetecível alpendre), implantados entre sobreiros em torno de uma piscina. As visitas à CL só estão abertas a grupos e com marcação prévia, centrando-se nos seus locais mais emblemáticos — quase todos na charneca, onde além de paisagens variadas se localizam a coudelaria, as adegas (com provas) e o restaurante. É aqui que decorrem os passeios a cavalo e em carro de cavalos — a iniciação fica reservada ao picadeiro. Outra actividade possível na CL é a caça: patos, javalis, coelhos são algumas das espécies que abundam.

Preços: Passeios a cavalo: 40€ (meio-dia), 75€ (um dia com piquenique); 125€ (dois dias, sem estadia); 300€ (fim-de-semana, uma noite incluída, para duas pessoas); 1450€, mais IVA (“Por Caminhos de Reis”, 7 dias/6 noites, refeições, dormidas, transporte incluído). Aulas de Equitação (mínimo 4 aulas): 10€ (4x). Passeio em carro de cavalos: a partir de 30€ (1/2h, máximo seis pessoas). Bungalows: 50€ para duas pessoas; 80€ para quatro pessoas (por noite).

Coudelaria de Alter
Tapada do Arneiro
Apartado 80
7441-909 Alter do Chão
Tel: 245 610 060
E-mail: geral@alterreal.pt
www.alterreal.com

Se a equitação fosse religião, Alter do Chão seria o altar português. Aqui, respira-se a história e o presente da arte equestre e da raça mais representativa do país, o cavalo lusitano, animal especialmente dotado para estas. Se vivemos o presente nas visitas guiadas à coudelaria (7,50€, com vários descontos), com a imersão possível no seu quotidiano ao montar (em picadeiro: desde 25€, com ou sem equitador) no Museu do Cavalo (com peças que testemunham a evolução da arte equestre em vários contextos) e na Casa dos Trens (com vários carros do século XIX) tem-se um relance ao passado.

Fazemos um parêntesis nos cavalos para falar de outra arte que na coudelaria “voa” à solta, a da falcoaria, Património Imaterial da Humanidade desde 2010. Em determinados dias está incluída na visita guiada à coudelaria; nada de descabido sabendo que a falcoaria e os cavalos sempre tiveram uma relação próxima — esta modalidade de caça, das mais antigas, sempre foi acompanhada a cavalo e era uma das predilectas da realeza. Em Portugal teve o seu auge na Idade Média e, mais tarde, na segunda metade do século XVIII, altura em que a coudelaria, criada para fornecer cavalos à picaria real, começava a dar os primeiros passos. As exibições de falcoaria acontecem em dias específicos e são da responsabilidade da Caçamonte, concessionária da coudelaria. Nós assistimos ao voo livre de uma águia (JB) e um falcão (Lua).

Preços: Montar em picadeiro (14h30-16h30): 25€ (30m), 50€ (1h), se souber montar; 25€ (20m), 50€ (40m), aula de volteio com equitador; atrelagem desde 2,50€; visitas guiadas: 7,50€ (com vários descontos).

Um nicho de mercado à procura do seu lugar
Há algo que parece querer mudar no turismo português e se calhar a organização do workshop Turismo Equestre em Portugal - Oportunidades de Desenvolvimento é disso sintomático. É mais um passo para desenvolver o que o TP considera um “nicho de mercado”, mas cujo potencial em Portugal está avaliado em mais de 500 milhões de euros e que tem nos 6,4 milhões de praticantes de passeios a cavalo na Europa um mercado em potência, segundo dados de um estudo da THR citado pelo TP. O próprio TP “desafiou” a TURIHAB (Associação do Turismo de Habitação de Portugal) e o Turismo do Porto e do Norte a desenvolver o projecto-piloto Itinerários de Turismo Equestre, desenvolvido pela TURIHAB (Associação do Turismo de Habitação de Portugal), “que pretendeu desenvolver uma metodologia e requisitos aplicáveis ao desenvolvimento desta actividade e um guia de boas práticas para os agentes turísticos”, descreve Maria do Céu Sá Lima, da TURIHAB. Apesar de o estudo se ter debruçado sobre a região Minho-Lima, “a caracterização e os requisitos necessários para implementar um circuito é aplicável a todo o país”, sublinha.

O levantamento feito sobre o turismo equestre revelou o perfil europeu do turista como sendo adulto, entre os 25 e os 50 anos, sem filhos, que permanece entre quatro e sete noites no destino e tem um gasto médio a rondar os 1500 euros — facto “marcante”, assinala Maria do Céu Sá Lima: 60 por cento são mulheres. É um turista que “procura férias com esta motivação ao longo de todo o ano, embora com incidência entre Maio e Agosto, escolhendo deslocar-se em modalidade pacote de férias uma a duas vezes por ano. Escolhe o seu programa e destino através da Internet, catálogos e revistas especializadas”.

O turismo equestre enquadra-se no âmbito do turismo de natureza, um segmento de mercado onde domina a procura da “tranquilidade, repouso e autenticidade” e a realização de “múltiplas actividades no destino”. O “enquadramento natural, paisagístico e de recursos, muito atractivo e variado, com um clima ameno, alojamento, restauração, serviços e equipamentos de apoio com grande qualidade e de referência”, enumera fonte do TP, aliado à “cultura equestre, patente nos vários eventos e competições internacionais que recebe todos os anos, e raças autóctones” tornam Portugal num competidor credível frente aos principais pólos europeus deste tipo de turismo, como a França, Itália, Irlanda e Espanha. Se a isto somarmos “a maior consciência ambiental dos turistas, a preferência por destinos não massificados e por experiências diferentes e autênticas”, constata-se que há em Portugal “oportunidades de desenvolvimento deste produto”, através de “uma rede de centros hípicos e de rotas e itinerários adaptados, que permitam, em conjunto com outras valências, apresentar e vender uma oferta integrada”.

Neste momento, e de acordo com os dados disponíveis, existem cerca de 40 empresas que se dedicam à actividade de animação equestre em Portugal. “O grande objectivo [do projecto-piloto] é pôr todos os empresários do turismo equestre em contacto para poderem lançar em conjunto itinerários que serão depois comercializados, inclusive nos circuitos internacionais”, refere Maria do Céu Sá Lima. Este é um mercado importante, uma vez que os “portugueses participam em eventos e praticam em espaços fechados”, nota, “ainda não há motivação para fazer itinerários”. Talvez pela pouca tradição de hipismo entre nós (segundos dados da Federação Portuguesa Equestre, há 5597 cavaleiros registados): “É uma prática cara”. De qualquer forma, assinala, se os programas podem ter um preço elevado (no mínimo 150€ por dia), os “preços são muito mais acessíveis para a prática pontual, com várias soluções, como ensinar a montar”.

A cavalo ou de cavalo, este nicho turístico vai muito além do animal, “movimentando muitos recursos” e “desenvolvendo localmente outras dinâmicas”, sublinha Maria do Céu Sá Lima. Ambientais, turísticas e económicas: “ferradores, tratadores de cavalos, guias, limpeza de caminhos, restaurantes, alojamento… Pode transformar economias locais”. Ao mesmo tempo, defende o TP, “este segmento tem potencial para ser associado não só ao turismo de natureza, como a outros produtos turísticos estratégicos, como os circuitos turísticos religiosos e culturais, o golfe ou o turismo residencial”.

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